Para especialistas, tecnologia do etanol está no limite

Enquanto o governo brasileiro faz um auto-elogio da liderança e do pioneirismo na produção de etanol, especialistas dão o alerta: a tecnologia nacional nessa área está no limite da otimização.
Por Amália Safatle, do Terra Magazine

Desenvolvidas basicamente na década de 80, as atuais técnicas para produção do combustível se encontram em um estágio muito inicial em comparação ao potencial que pode ser explorado e ainda apresentam uma série de ineficiências no processo de produção. Esse foi um dos recados transmitidos nesta terça-feira (5), durante o Ethanol Summit, conferência internacional realizada em São Paulo para debater os desafios da energia no Século 21.



“Contamos com a vantagem da matéria-prima, mas temos muitas fraquezas ligadas à falta de investimentos em capital e em recursos humanos. O número de patentes no setor sucroalcoleiro brasileiro é inexpressivo”, afirma Carlos Rossell, pesquisador da Unicamp e consultor da Dedini no projeto DHR-Dedini Hidrólise Rápida. O projeto, patenteado pela empresa, tem como objetivo produzir álcool a partir da hidrólise do bagaço da cana. O chamado etanol celulósico, ou etanol de segunda geração, é a grande aposta mundial para fazer saltar a produtividade dos biocombustíveis.



Hoje, para produzir álcool, o país aproveita apenas um terço da planta da cana-de-açúcar, que é o seu caldo. Mas o bagaço e a palha, que juntos são responsáveis por dois terços do potencial energético da cana, não são aproveitados na produção.



Mas mesmo antes que esse pulo do gato ganhe viabilidade econômica, é possível tornar mais eficiente a tecnologia já ao alcance das mãos, de forma que o Brasil não perca a imagem de produtor de um combustível verde.



Ao fazer isso, o País conseguirá produzir mais combustível em menos espaço, reduzindo o risco de avançar as plantações sobre áreas de vegetação nativa, diminuirá o impacto ambiental da produção em si e vai se tornar mais competitivo economicamente. Segundo Rossell, é preciso eliminar de vez a prática das queimadas, melhorar o tratamento do vinhoto e alterar a forma de limpeza da cana-de-açúcar – de água por sistemas de ar.



Energia de algas marinhas



José Luiz Olivério, diretor da Dedini, afirma que há grande espaço para ganhos de eficiência na fase da fermentação, na qual há muita perda energética.



Superados os problemas atuais, Olivério vislumbra um futuro em que o etanol de segunda geração ganhe escala, e também enxerga desenvolvimentos tecnológicos que levem à extração de energia das algas marinhas. “Já se conhecem algumas algas capazes de superar a cana em capacidade de armazenamento da energia solar, levando à criação do que chamaremos de 'fazendas marinhas'”, diz. “Aí surgirão profissões estranhas como o 'engenheiro surfista' e o 'agrônomo escafandrista'”, arrisca.



Algumas áreas de pesquisa inusitadas já têm sido alvo de pesquisas da Embrapa: a mandioca, por exemplo, é apresentada como grande promessa para a produção de etanol, segundo o pesquisador Luiz Joaquim Castelo Branco Carvalho. Ele lembra que os índios, antes da chegada dos portugueses, já faziam hidrólise do amido da mandioca, para usar em celebrações religiosas e culturais. Agora, busca-se o álcool para a energia. O futuro pode ser mais antigo do que se imagina.