Redução de 0,5 ponto leva juro a seu menor nível histórico

A inflação sob controle e a valorização do real frente ao dólar fizeram o Banco Central acelerar o ritmo de corte da taxa básica de juros. O Copom (Comitê de Política Monetária) anunciou a redução da Selic de 12,5% para 12% ao ano. Nas três reuniões an

 


Ao chegar a 12%, a taxa fica em seu menor nível histórico. Os juros reais (descontada a inflação), porém, ainda estão entre os mais altos do mundo. Apesar de a maioria dos integrantes do Copom ter votado pela redução de meio ponto percentual na reunião de hoje, a decisão não foi unânime.


 


''Avaliando o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, neste momento, reduzir a taxa Selic para 12% ao ano, sem viés, por cinco votos a favor e dois votos pela redução da taxa Selic em 0,25 ponto percentual'', diz a nota do comitê divulgada ao final da reunião.


 



 


Embora a aposta por um corte de meio ponto não fosse unânime –parte dos analistas esperava uma redução de 0,25 ponto percentual–, ela era esperada como uma resposta à valorização do real frente ao dólar. Isso porque parte da apreciação é causada pelos dólares que entram no país por meio dos investidores que buscam rentabilidade maior para suas aplicações. Esse fluxo de moeda estrangeira colabora para a queda da cotação do dólar, assim como a entrada de recursos via exportações.


 


Hoje, essa valorização do real sobre a divisa norte-americana é combatida apenas com as compras de dólares no mercado por parte do Banco Central.


 


O corte maior chegou a ser ameaçado pela declaração do presidente do Fed (o BC dos EUA), Ben Bernanke, sobre preocupação do BC local com a inflação. Ela foi interpretada por investidores como uma indicação de que a taxa de juros norte-americana não será reduzida na próxima reunião. Quando os juros lá ficam menores, os investidores procuram aplicações mais rentáveis em outros países.


 


Em relação à economia brasileira, não há sinais de que a meta de inflação, de 4,5% do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), não seja alcançada. No ano passado, os preços subiram 3,14%. Em 12 meses, está em 3% e a previsão dos analistas é que ela termine o ano em 3,5%.


 


Na ata da última reunião, realizada em abril, o Copom admite que os bens importados darão uma contribuição para a estabilidade de preços maior do que a imaginada anteriormente. Foi essa razão que gerou a divergência no colegiado e que levou três diretores a votarem por um corte de 0,5 ponto, mas que foram vencidos pelo voto dos outros quatro integrantes do Copom.


 


A atividade econômica, mesmo com o crescimento de 4,5% esperado pelo governo dentro do PAC (Programa para Aceleração do Crescimento), não deverá gerar pressão inflacionária. O crescimento da taxa de investimentos e da importação de bens de capital indicam que a indústria terá capacidade de aumentar a capacidade de produção para atender a um possível aumento da demanda. Sem essa disponibilidade de produzir mais, a aceleração da atividade econômica poderia gerar pressão sobre os preços. Em setembro de 2004, esse temor fez com que o Copom aumentasse os juros.


 


O Copom divulga na quinta-feira da próxima semana a ata da reunião ocorrida ontem e hoje.


 


Repercussão


 


O corte de 0,5 ponto percentual na taxa básica anual de juros, como sempre, dividiu opiniões entre empresários e sindicalistas. A decisão agradou à Confederação Nacional da Indústria (CNI), não causou surpresa à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e deixou frustrada a Força Sindical.


 


Em nota, a CNI afirma ver com otimismo a redução, por acreditar que favorecerá o crescimento do país. “A aceleração no ritmo de abrandamento do rigor monetário era necessária e, portanto, bem-vinda. Com certeza irá gerar condições para a continuidade e intensificação do atual ciclo de crescimento da economia brasileira”, destaca.


 


A entidade diz ainda, na nota, que reconhece o papel da política monetária na construção do atual ambiente de estabilidade e confiança. Mas entende que era “necessária e inadiável” uma reavaliação do ritmo de queda dos juros, de modo a “aproveitar a excepcional janela de oportunidade e adequar a política monetária ao novo ambiente e às exigências do crescimento, da produção e do emprego”.


 


Já a Fiesp, em nota assinada por seu presidente, Paulo Skaf, afirma que a redução na taxa, “embora signifique um avanço”, é insuficiente para influenciar o câmbio, “cuja sobrevalorização prejudica vários segmentos industriais. Segundo Skaf, a decisão do Copom não foi surpresa, pois desde a última reunião (em abril) já havia uma sinalização de corte de meio ponto. “Os juros básicos de 12% ao ano não terão influência sobre a valorização cambial, nociva a vários segmentos industriais exportadores”, sublinha.


 


E o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, divulgou nota em que considera “modesta” a queda de meio ponto percentual. “Infelizmente, os tecnocratas do Banco Central continuam com uma visão distorcida da economia do país”,  afirma a nota, acrescentando que a taxa básica de juros ainda está alta, “privilegiando apenas os especuladores”.


 


Segundo o sindicalista, ao optar pelo corte “ínfimo” o governo frustra os trabalhadores, que esperavam mais ousadia: “Defendemos mudanças urgentes nos rumos da economia como forma de promover um crescimento robusto da economia, com geração de novos postos de trabalho e mais renda para os trabalhadores. Com a inflação sob controle, o Brasil perde mais uma chance de apostar no setor produtivo, devido ao excesso de gradualismo e conservadorismo de quem dirige a economia no país”.


 


Até o fechamento desta edição, a CUT ainda não havia se pronunciado sobre a decisão do Copom.


 


Com agências