Construção de Angra 3 divide opiniões nos movimentos
Uma audiência pública promovida pela Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), nesta quarta (13) na capital fluminense, converteu-se em ato de apoio à construção da usina nuclear Angra 3. Organizações ambientalistas que se opõem ao projeto dizem nã
Publicado 13/06/2007 21:08
Humberto Huhn da Cruz, habitante da comunidade do Parque Perequê, foi um dos participantes. “Devido ao emprego, para nós, da comunidade, é muito importante a construção de Angra 3”, disse ele.
O primeiro-secretário da Associação dos Trabalhadores da Central Nuclear, Antonio Edineide Cordeiro, afirmou que “a energia nuclear é uma das mais limpas hoje”. Cordeiro lembrou a possibilidade de construção de geradores nucleares no Brasil. “A gente entende que Angra 3 vai abrir o leque de várias possibilidades no Brasil'', disse. “Se a gente tivesse Angra 3, 4, 5, com certeza nós teríamos uma tecnologia mais avançada e estaríamos exportando em vez de importar.”
O presidente da Aben, Francisco Rondinelli, afirmou que a conclusão de Angra 3 vai dar ''mais estabilidade ao nosso sistema de suprimento de energia”. Ele disse que a participação da energia nuclear é fundamental para a segurança energética do Brasil. ''Se nós queremos retomar o nosso desenvolvimento social e econômico, nós vamos ter que atender o crescimento da demanda energética e a contribuição da nuclear vai ser fundamental.”
Rondinelli afirmou ainda que a energia nuclear é ''essencialmente limpa''. ''Nós não geramos nenhum tipo de poluente para o meio ambiente. Os rejeitos radioativos são 100% recolhidos, processados, tratados e isolados do meio ambiente. Na verdade, é a única fonte de energia que faz isso.”
Segundo o coordenador no Brasil da campanha de energia nuclear da organização ambientalista internacional Greenpeace, Guilherme Leonardi, tanto a entidade como a Sociedade Angrense de Proteção Ecológica(Sapê), outro foco de oposição ao projeto de Angra 3, não foram convidadas para o evento organizado pela Aben.
“Nós nos opomos à construção de Angra 3, assim como a de qualquer outra central atômica no país e fora dele. Nós entendemos que é uma energia problemática, sob diversos pontos de vista”, disse Leonardi, à Agência Brasil.
O Greenpeace também alega que a energia nuclear é cara e que o dinheiro a ser gasto no projeto de Angra 3, mais de R$ 7 bilhões, poderia financiar outras iniciativas. Leonardi afirma que, com R$ 850 milhões, o Programa Nacional de Conservação de Eletricidade (Procel), do governo federal, resultou em uma economia equivalente à produção de quatro usinas do porte de Angra 3 (quatro vezes 1.350 megawatts).
Leonardi também lembra o risco permanente de acidentes. “Não existe um destino definitivo para esse material [os rejeitos nucleares] que é perigoso tanto para a saúde humana como para o meio ambiente”. Leonardi diz ainda que vários países como Alemanha, Espanha e Suécia vêm abandonando seus programas nucleares para investir em outras fontes de energia mais limpas e seguras.
Para o ambientalista José Rafael Ribeiro, conselheiro da Sapê, o evento de hoje, no Clube de Engenharia, foi uma forma de “lobby” em favor de Angra 3. Segundo ele, as''verdadeiras'' audiências públicas sobre o projeto serão promovidas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) na próxima semana, nos municípios fluminenses de Angra dos Reis, Parati e Rio Claro. A Sapê está reivindicando junto ao Ibama que sejam feitas audiências também no Rio de Janeiro e São Paulo. O governo federal ainda não se decidiu sobre a implementação do projeto.