MST acusa três poderes de impedir reforma agrária

O número de participantes – 17.500 pessoas, segundo a organização do evento – foi o que mais surpreendeu Jesaias Pinheiro Grangeiro, que veio em um dos 11 ônibus de Belém do Pará para o 5o Congresso Nacional do MST, esta semana, em Brasília. Ele era um

Mesmo depois de toda a Praça tomada pelos manifestantes, eles continuavam a chegar na marcha que começou logo após o almoço, do Ginásio Nilson Nelson, passando pela Embaixada dos Estados Unidos. Lá, eles fizeram uma manifestação contra a ocupação do Governo Bush no Oriente Médio.



No final da tarde eles chegaram à Praça dos Três Poderes, entoando palavras de ordem, agitando as bandeiras e carregando faixas em que resumiam as suas reivindicações. Os manifestantes de Roraima diziam, em faixa “Sem terra para plantar/Sem futuro para colher”.



Ao final da marcha, fizeram discursos e receberam apoio de parlamentares como da deputada Manuela D´Ávila (PCdoB-RS) e Inácio Arruda (PCdoB-CE), que circulava entre os manifestantes ostentando ele também um boné do MST.



A principal queixa dos manifestantes é com a lentidão dos três poderes da República no processo da reforma agrária. Atualmente, mais de 140 mil famílias do movimento vivem em acampamentos na luta pela terra em todo o Brasil.



Sucesso e ajuda



Para Jesaias Grangeiro, em termos de mobilização, o Congresso e marcha foram um grande sucesso. Ele, que está no movimento há dois anos e pela primeira vez participa da marcha, surpreendeu-se com o fato de encontrar pessoas do Brasil inteiro e de outras partes do mundo. Ele acredita que a mobilização ajuda na luta pela reforma agrária. “Se a gente ficar parado, não sensibiliza o Lula”, diz, corrigindo rapidamente a referência a “Lula” para o “Presidente”.



Vivendo há dois anos no assentamento Padre Josino, no município de Baixo Acará, no Pará, Jesaias reclama do Incra, de não dar assistência na área. mesmo assim, ele acha que hoje vive melhor do que antes de se unir ao MST.



Jamil Murad, do PCdoB de São Paulo, que sempre acompanhou os assentamentos em seu Estado na época de deputado estadual, e os congressos e marchas no período do seu mandato como deputado federal, foi convidado pelo MST para o ato polpitico que aconteceu na manhã desta quinta-feira.



Para Jamil, “é importante prestigiar o movimento que tem raízes populares e que tem compromisso de luta para transformar o Brasil em um país desenvolvido, soberano e de progresso social para o nosso povo”.



“Como deputado federal, nos anos anteriores, vi as forças retrógradas atacando o Presidente Lula e querer colocar o MST e outros movimentos sociais no banco dos réus, como se todos os problemas do Brasil se reunissem nessas forças representadas pelo governo Lula e pelo MST, que levantam a bandeira da reforma agrária que é justíssima”, avalia Murad.



Batalha dentro do governo



A lentidão na reforma agrária, denunciada pelo MST, segundo Murad, é resultado da pressão sobre o governo de coalizão, “que tem forças que acham que precisam fazer a reforma agrária e outros que defendem o latifúndio. A batalha pelo progresso se trava dentro do governo”, afirmou.



Por isso, ele considera necessárias a mobilização e luta do MST, “que aperta o presidente para acelerar a reforma agrária”, disse, acrescentando que a pressão sobre o governo federal deve ser também no sentido de acelerar o crescimento e distribuir a renda, sob pena de prevalecer a pressão dos que querem não mudar nada”, alertou. 



Murad defende, em comunhão com o pensamento do MST, a agricultura familiar e a produção de alimentos, mas faz a ressalva sobre o cultivo de produtos agrícolas para produção de energia como o etanol.



“O Brasil precisa se adaptar às suas necessidades. Temos que compreender essa necessidade, sobre como aproveitar a rica e extensa terra brasileira”, diz Murad, destacando que “o Brasil tem que fazer divisas para sustentar seu desenvolvimento e suas despesas e tem espaço para utilização plural da terra”.



O MST debateu, durante o Congresso, e defendeu, nos discursos no ato político, um programa agrário com propostas concretas para a resolução da questão agrária, com a garantia de boa qualidade de vida e trabalho aos Sem Terra e a superação da brutal desigualdade social no campo. Também propõe o modelo da soberania alimentar, com a produção de alimentos a toda a população, e a preservação da natureza.



De Brasília
Márcia Xavier