Caso Renan: bate-boca e poucos esclarecimentos no Conselho de Ética

Poucos esclarecimentos e muito bate-boca marcaram o depoimento do advogado Pedro Calmon, nesta segunda-feira (18), no Conselho de Ética do Senado, no processo contra o presidente da Casa, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), acusado de falta de decoro. <

O problema gerado com o pedido de afastamento de 10 dias do relator do processo, senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA) foi contornado com o presidente do Conselho, senador Sibá Machado (PT-AC), assumindo temporariamente a relatoria como permite o regimento interno. O senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA)afastou-se da relatoria alegando motivos de saúde.



A votação do relatório de Cafeteira, que propõe o arquivamento do caso, está marcada para a sessão desta terça-feira (19) do Conselho de Ética.



Na ocasião, o Conselho deve avaliar o resultado da perícia que verifica a autenticidade da documentação de defesa apresentada pelo presidente do Senado, para desfazer a suspeita de que era do lobista, ou da construtora Mendes Júnior, o dinheiro que pagava as despesas da jornalista Mônica Veloso.



Técnicos do Senado e da Polícia Federal estão periciando os documentos sobre venda de gado das fazendas de Calheiros em Alagoas, apresentados por Renan para comprovar rendimentos de R$1,9 milhão em 2006, de onde teriam saído os recursos entregues por Gontijo à jornalista.



Negações de chantagem



O advogado iniciou seu depoimento lendo uma declaração de Mônica, em que ela afirma só ter dado entrevistas sobre o caso para esclarecer sobre calúnias que lhe estavam sendo endereçadas. No texto, ela nega ter chantageado Renan Calheiros. A jornalista nega também ter sido fonte ou denunciante da relação do presidente do Senado com Cláudio Gontijo, lobista da Mendes Junior.



Calmon disse ainda que se encontrou com Gontijo uma única vez e que este lhe foi apresentado como ''a pessoa indicada que cuidava dos negócios relativos a essa questão (pensão)''.



Em meio ao bate-boca como senador Valter Pereira (PMDB-MS), advogado afirmou que não mais responderia perguntas do senador. Pereira assumiu a defesa de Renan, dizendo estar sendo o presidente do Senado vítima de chantagem. Pedro Calmon, apesar de se recusar a responder ao senador, ainda disse que não tinha conhecimento da origem do dinheiro entregue a Mônica Velloso, acrescentando ironicamente que: ''nunca vi dinheiro ter escritura ou certidão de nascimento''.



Contabilidade de Renan



Se não surgirem fatos novos até amanhã, o mais provável é que o Conselho de Ética vote e aprove o parecer do relator do processo, senador Epitácio Cafeteira, que inocenta Renan da acusação de ter se valido de recursos de terceiros para financiar suas despesas com Mônica Veloso.
 


Na contabilidade política do presidente do Senado, dos 15 membros do Conselho, pelo menos nove se inclinam pela aprovação do relatório. As edições dominicais dos grandes jornais e as revistas semanais não trouxeram fatos agravantes da situação do senador. A perícia limitada da documentação que ele exibiu favorece a inclinação do Conselho pela absolvição.
 


O que mudou a situação, provocando o adiamento da votação do parecer do senador Cafeteira, foi a mudança de posição de dois aliados de Calheiros, Eduardo Suplicy (PT) e Renato Casagrande (PSB). Eles se mostraram em dificuldades para inocentar Calheiros sem que se periciassem os documentos com os quais o presidente do Senado contraditou as informações da TV Globo. É desses dois votos, portanto, que Calheiros depende. Os demais, contrários ou favoráveis, são sólidos. Suplicy e Casagrande é que decidirão a sorte de Renan Calheiros.



Recursos ao STF



As lideranças do PSOL, PPS e PV pretendem recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar reverter eventual decisão do Conselho pelo arquivamento do processo contra Renan, sob a alegação de insuficiência da perícia nos documentos exibidos pelo senador.
 


O presidente do Senado recusou sugestões para que tomasse a iniciativa de comparecer voluntariamente ao plenário do Conselho para apresentar sua defesa. Renan acredita que só teria a perder se aceitasse submeter-se a uma sabatina de seus colegas. Ele preferiu montar uma pauta de plenário ''robusta'' com inclusão na ordem do dia das seis medidas provisórias que trancam a pauta desde a semana passada.



Mas a perspectiva é de que até que se resolva o futuro do líder peemedebista, são remotas as chances de votação das seis medidas provisórias que obstruem a pauta do plenário e dos projetos de lei que compõem a agenda prioritária do governo.



De Brasília
Márcia Xavier
Com agências