Eleição parlamentar na França modera ímpeto da direita

O segundo turno das eleições parlamentares na França, neste domingo (17), quebrou em parte o ímpeto do projeto do presidente direitista Nicolas Sarkozy, eleito no mês passado. Seu partido, a UMP, em vez de fazer a maioria reforçada que as pesquisas anunci

Juppé, ex-primeiro ministro e ex-presidente da Assembléia Nacional, debilitado por um escândalo de financiamento ilícito, perdeu para um socialista por 1% no seu distrito eleitoral, em Bordéus. Nesta segunda-feira (18), apresentou sua demissão do Ministério do Meio Ambiente. No sistema político francês, semiparlamentarista, os ministros não se licenciam para concorrer ao Lesgislativo, mas todos os ministros devem ser deputados, conforme exigira o novo primeiro ministro, François Fillon,  na véspera da eleição.



Uma arquitetura governamental em perigo



O revés desmonta em parte o esquema Sarkozy. Ele era visto como peça-chave do primeiro governo do novo presidente. O correspondente da Reuters em Paris, Emmanuel Jarry, comentou que, ''para além das questões pessoais, é toda uma arquitetura governamental que corre o risco de ser posta em questão''.



Juppé foi ministro de Fillon apenas por algumas semanas. Havia voltado ao palco principal da política pouco antes, após seu envolvimento num escândalo de financiamento ilícito como presidente da Câmara de Paris, em 2004. Irritado com a derrota, ele descontou nos jornalistas: ''Se eu tivesse morrido vocês ficariam contentes'', disparou.



A UMP (União por um Movimento Popular) ficou com 345 cadeiras de um total de 557, contra 399 cadeiras nas eleições parlamentares anteriores, de 2002. Já o PS (Partido Socialista), derrotado no segundo turno presidencial de maio, aumentou sua bancada de 141 para 186 deputados.



Pressão para PS assumir social-democracia



Ao lado da expectativa com a remontagem do esquema governista após a derrota de Juppé, os meios políticos discutem as mudanças em vista no PS. Mesmo que o resultado das eleições parlamentares não tenha sido desastroso, como apontava a maioria das pesquisas, há consenso de que o partido deve passar por mudanças, e talvez por cisões.



O primeiro secretário do PS, François Hollande, que não se recandidatará ao cargo no Congresso do ano que vem, declarou em entrevista que quer criar ''uma UMP de esquerda''.  Explicou que isso seria ''um grande partido que iria da esquerda até o centro''.



Pouco antes, a candidata do partido nas eleições presidenciais de maio, Ségolène Royal, confirmara pela primeira vez em público que está separada de Hollande, com quem foi casada e teve quatro filhos. ''Nós decidimos não ficar mais juntos'', disse ela.



Le Monde prega PS social-democrata



Michel Noblecourt, editorialista do Le Monde, fez publicar no site do diário francês uma entrevista onde também defende um PS mais ao centro. Defende que o partido deve ''se reinterrogar sobre seus fundamentos'' e ''afirmar uma orientação próxima da que domina nos países da União Européia, o que se chama orientação social-democrata''.



Ele reconheceu em seguida, porém, que ''a social-democracia também está em crise'', sofrendo derrotas eleitorais, e ''portanto declarar-se social-democrata hoje não significa grande coisa''. O PS francês, que só em 1990 renunciou à revolução e proclamou-se reformista, nunca formalizou uma adesão à social-democracia, embora  partilhe a Internacional Socialista com as legendas social-democratas.



PCF luta para manter grupo parlamentar



Já o PCF (Partido Comunista Francês) teve um recuo de 4,8% para 4,3% na sua votação, e de 21 para 15 eleitos, em relação a 2002. O resultado pode privar o partido do direito a um grupo parlamentar, que pelo regimento da Assembléia é reservado às bancadas com mais de 20 membros.



O líder da bancada do PCF, Alain Bocquet, reivindicou qe se mude essa norma, reconhecendo o grupo parlamentar comunista mesmo com 15 membros. ''A existência de apenas dois grupos, o da direita e o do PS, instalaria uma bipolarização duradoura que ameaçaria a democracia parlamentar de uma grave regressão'', argumento. Outra alternativa possível é compor um bloco com outros parlamentares de esquerda, como os quatro eleitos pelos Verdes.



Da redação, com agências