Amorim diz que Rodada Doha não morreu, mas o G4 sim

A Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) não está morta e nem agonizando, afirmou nesta sexta-feira (22) o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Para ele, no entanto, o G4 “está morto”.

“Não acho que a Rodada de Doha esteja morta, e nem sequer agonizando”, afirmou o chanceler, um dia depois do fracasso da reunião em Potsdam (Alemanha) entre Estados Unidos, União Européia, Brasil e Índia (G4).



“Acho que é difícil (obter um acordo), mas não impossível”, acrescentou, após uma reunião, em Genebra, com o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy.



No entanto, Amorim admitiu o fim do G4. “Reuniões bilaterais ou em grupo dos quatro principais personagens das negociações não acontecerão por muito tempo”, previu o chanceler brasileiro.



Realismo



Amorim indicou ainda que o Brasil vê espaço para que as concessões que não foram obtidas em Doha em nível multilateral possam ser promovidas em acordos bilaterais posteriores como, por exemplo, na negociação entre a União Européia (UE) e o Mercosul, que está paralisada à espera dos resultados da OMC.



“Temos que ser realistas e saber que esta não é uma Rodada para acabar com todas as rodadas”, afirmou Amorim, em entrevista ao jornal Valor Econômico. “Bilateralmente, podemos oferecer coisas que não temos para oferecer no âmbito multilateral”, defendeu.



O ministro criticou as declarações do diretor da OMC, Pascal Lamy, que pediu maiores concessões por parte dos países em desenvolvimento. “Às vezes sinto uma ambição excessiva a respeito dos países em desenvolvimento. No fim das contas, esta é uma Rodada para o desenvolvimento e não contra o desenvolvimento”, ironizou.



Posição da Índia



Já o ministro do Comércio da Índia, Kamal Nath, anunciou o fim do G4 após o fracasso de suas discussões na quinta-feira. “É o fim da viagem do G4. Agora cabe à OMC em seu conjunto fazer com que a Rodada de Doha avance”, disse Nath à imprensa.



Nath e o chanceler brasileiro, representantes do mundo em desenvolvimento, abandonaram a mesa de negociações e acusaram norte-americanos e europeus de querer perpetuar os desequilíbrios do comércio mundial.



Desde 2001, os negociadores do G4 tentavam resolver uma equação quase impossível: fazer com que os países industrializados abram mais seus mercados aos produtos agrícolas provenientes dos países emergentes, e que estes reduzam em troca seus obstáculos à entrada de produtos industriais das nações ricas.



Para a Índia, a redução de suas tarifas alfandegárias passa por uma diminuição dos subsídios agrícolas nos países ricos. “Em relação à agricultura, a Índia sempre disse que não pode ter compromisso sobre a subsistência de nossos camponeses”, lembrou o ministro.



“Os países desenvolvidos querem promover e proteger a prosperidade de seus agricultores, enquanto que na Índia falamos em proteger a sobrevivência de nossos camponeses”, completou Nath.



Fonte: AFP e Valor Econômico