Ato em repúdio à homofobia

Apesar do clima festivo, a parada foi antes de tudo um ato em defesa da liberdade de expressão sexual e por uma sociedade mais tolerante com o diferente 

Uma festa que celebrou a tolerância e o direito à expressão sexual e, ao mesmo tempo, uma resistência contra o preconceito. Foi assim que uma multidão — estimada pelos organizadores do evento em torno de 800 mil pessoas — participou, ontem, da VIII Parada pela Diversidade Sexual de Fortaleza, que aconteceu na Avenida Beira-Mar.


 


Este ano, o evento teve como tema “Por um mundo sem machismo, racismo e homofobia”, e congregou um número de 200 mil pessoas a mais do que a parada realizada no ano passado, de acordo com o coordenador do evento e diretor do Grupo de Resistência Asa Branca (Grap), Orlaneudo Lima.


 


A concentração começou por volta das 15 horas, em frente ao Granville, onde um palco foi instalado para a apresentação de artistas e grupos musicais, como a banda Baby Dolls, a atriz e cantora Zezé Mota, a cantora Gretchen e o cantor cearense Markinhos Moura.


 


Enquanto não se iniciava a parada, representantes de movimentos em defesa dos homossexuais subiram também ao palco, discursando e explicando as motivações da iniciativa. Um grupo anarquista de manifestantes chegou a levar uma faixa com dizeres de “Gays contra a Pátria”.


 


Orlaneudo Lima chamou a atenção para a execução de políticas públicas, que visem o combate ao preconceito, com ações efetivas a favor do direito à diversidade.


 


Contudo, foi o caráter festivo e participativo da população que fez com que toda a mobilização em torno da parada lembrasse um misto de carnaval fora de época. Por volta das 18 horas, foi entoado o Hino Nacional, seguido pela queima de fogos.


 


Por fim, o momento mais esperado aconteceu com o desfile de onze trios elétricos. Uma grande bandeira com as cores do arco-íris era levada por participantes. Em meio a músicas e palavras de ordem, ditas dos microfones do alto do trio elétricos, casais instalados no calçadão ou no entorno dos prédios da avenida se abraçavam e acenavam aos manifestantes.


 


A grande multidão também viveu momentos de tensão, em vista de que aproveitadores e marginais tentavam tumultuar o ato. Alguns furtos e roubos foram verificados ao longo da festa, o que motivou os organizadores a reclamar um maior policiamento.


 


Segundo o capitão da Polícia Militar, Eudácio Aragão, 60 policiais estiveram mobilizados no corredor da Beira-Mar, inclusive alguns fazendo o trabalho de forma velada. “Nossa determinação é oferecer segurança e tranqüilidade para o público que veio brincar e se divertir. Ao mesmo tempo, não permitiremos a ação dos marginais”, afirmou o oficial da PM.


 


A passeata seguiu até o Aterro da Praia de Iracema, havendo ainda um minuto de silêncio em protesto contra a homofobia e troca de faixa da madrinha do evento, passando da historiadora e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Adelaide Gonçalves, para a advogada Mirtes Machado, da Associação dos Voluntários do Hospital São José, que presta um trabalho inestimável aos pacientes com Aids.


 


PROTAGONISTAS:



Qual o sentido da Parada da Diversidade?


 


Lena Oxa


“Representa um momento de glória, pois percebemos que a cada ano aumenta o número de participantes e simpatizantes. Isso é um avanço na luta contra o preconceito e pela igualdade das escolhas sexuais.”


 


Érica Kílvia


 


“Entendo que é uma oportunidade de abordarmos a questão da violência que, ainda, é muito forte contra os homossexuais. A sociedade deve ser conscientizada sobre os direitos às diferenças e ser mais tolerante.”


 


Adelaide Gonçalves


 


“Essa parada existe porque ainda existe uma sociedade cindida, dividida, preconceituosa e homófoba. Aqui, podemos levantar bandeiras pelo respeito e pelo fim da violência que atinge, cruelmente, os homossexuais.”


 



Manifesto reivindica ações efetivas contra o preconceito


 


Muito além de ser um momento festivo e de confraternização entre adeptos e simpatizantes, a VIII Parada Pela Diversidade Sexual do Ceará, também, foi ocasião para o lançamento de um manifesto. A intenção foi requerer ações efetivas do poder público na luta contra o preconceito.


 


Essa posição foi firmada por um dos organizadores do evento, Chico Pedrosa. Ele lembrou que no Ceará vem se reivindicando a aprovação de lei estadual que coíbe a discriminação por orientação sexual e lei que garanta os mesmos direitos previdenciários para servidores e servidoras públicos estaduais que tenham companheiros do mesmo sexo.


 


“Queremos, com este manifesto, reafirmar nosso compromisso com a liberdade, com os direitos humanos, com a defesa do meio ambiente, por um planeta a salvo das agressões que a humanidade tem realizado. Enfim, por um mundo onde as relações entre homens e mulheres sejam mais equilibradas, crianças, adultos e idosos possam viver com mais segurança e a raça seja apenas um elemento enriquecedor da diversidade”, afirmou Pedrosa.


 


 


Fonte: DN