Lula sobre Doha: “Sem abrirem a agricultura não há conversa”

Às vésperas da primeira reunião de cúpula União Européia-Brasil, marcada para a próxima semana, em Lisboa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva adotou um tom duro para acusar europeus e norte-americanos de exigir mais benefícios do que oferecem aos país

Em discurso a lideranças e parlamentares ruralistas, no Palácio do Planalto, Lula afirmou que o fracasso na retomada das negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC) foi causado pela insistência dos países ricos na abertura do mercado de bens industriais dos emergentes. “No fundo, no fundo, nós iríamos abrir mais o nosso mercado de produtos industriais, e eles não iriam abrir para nós aquilo em que nós somos tão competitivos quanto eles, que é o mercado agrícola.”



Lula afirmou que, em telefonema na sexta-feira passada, o então premiê britânico Tony Blair “exigiu” do Brasil um corte na proteção à indústria local. “Ele disse que se o Brasil não aceitasse o coeficiente que eles iam propor para a indústria não tinha acordo. Eu falei: então não tem acordo, porque mais uma vez vocês querem que os países emergentes, os países pobres, abram as porteiras e vocês lacrem as de vocês”, disse o presidente.



Questões políticas, não técnicas



Estimulado pelo apoio da platéia de ruralistas, ávidos pela abertura dos mercados europeu e norte-americano, Lula afirmou que as negociações no âmbito da OMC são puramente políticas, e não têm a ver com questões técnicas. “O momento de negociação dos técnicos acabou, agora é decisão política.”



Em resposta a discursos de produtores rurais pela abertura de novos mercados, o presidente informou que insistirá no tema durante a cúpula UE-Brasil, em Portugal. “Estou viajando na terça-feira para Portugal, vou ter encontros com representante da União Européia [Durão Barroso], com a chanceler alemã [Angela Merkel], com o presidente de Portugal [Aníbal Cavaco Silva], com o primeiro-ministro da Espanha [José Luiz Rodríguez-Zapatero]”. E ameaçou: “Mas se eles não abrirem a agricultura, não tem mais conversa”.



Em relato sobre a fracassada tentativa de relançar a Rodada Doha da OMC, ocorrida na semana passada em Potsdam, na Alemanha, o presidente Lula afirmou que “nós queríamos que eles abrissem na questão da agricultura, eles não abriram e começaram a fazer pressão para que os países emergentes abrissem para os produtos industriais”.



Segundo Lula, as exigências dos países emergentes eram a redução dos subsídios concedidos ao setor agropecuário dos países ricos. “Para se chegar a um acordo, os EUA deveriam reduzir os seus subsídios, que tinham um limite de US$ 40 bilhões”, disse. Segundo ele, os EUA aplicaram subsídios de US$ 15 bilhões nos últimos três anos.



Fonte: Valor Econômico