Helena Chagas: 2008 é o grid de largada para 2010

A jornalista Helena Chjagas publicou na edição deste domingo do Jornal de Brasília sua coluna “Descomplicando a Política”, na qual registra as movimentações de bastidores dos partidos para as próximas eleições. Veja abaixo a íntegra do texto:<

O fracasso de mais uma tentativa de votar a reforma política deu esta semana aos partidos e aos políticos a certeza de que pouca coisa ou nada mudará nas regras do jogo para a eleição municipal de 2008 – qualquer mudança teria que estar votada nas duas Casas até o final de setembro. A partir de agora, portanto, começa a contagem regressiva. Partidos medem suas forças e discutem as estratégias para as principais capitais do país. A tendência, ao que parece, é a da multiplicação dos candidatos. Amplas coligações, como a que dá sustentação hoje ao governo federal, e o tradicional casamento do PSDB com o DEM(ex-PFL) vão ficar fora de moda. Afinal, os resultados de 2008 vão organizar o grid de largada para 2010 e já existe uma profusão de candidatos a presidência da República.


 


O principal movimento da temporada será a construção, pelos partidos, de candidaturas em todos os municípios onde for possível, nem que seja para montar palanques para os dois anos seguintes e desbravar o caminho para a eleição presidencial. Claro está, portanto, que em breve vão começar as cotoveladas, dentro e fora da base governista. Com chances de ser um importantíssimo eleitor em 2008 – a serem mantidas as atuais condições de temperatura e pressão na política e na economia – Lula em breve estará no meio do tiroteio. Os altos índices de popularidade do presidente podem não decidir a parada de uma eleição municipal, onde há muitos fatores locais envolvidos, mas não há dúvida de que podem ajudar muito seus candidatos. É aí que mora o perigo. Que candidatos? Vai ter gente demais disputando essa condição. Se Lula for esperto, tenta aprovar tudo o que precisar no Congresso este ano, já que o próximo vai dar um nó na base governista.


 


O palanque



Ainda discretamente, todo mundo começa a se movimentar. O PSB do ex-ministro Ciro Gomes, por exemplo, tem poucos planos de unir-se ao PT, ao PMDB e outros partidos maiores na eleição para prefeito. Integrado também pelo PDT e o PCdoB, o chamado “Bloco de Esquerda” funcionará como uma força única, que terá como principal objetivo construir os palanques para Ciro em 2010. O próprio ex-ministro tem percorrido o país para organizar as regionais do partido e as alianças internas. Nomes de primeira grandeza do bloco, como o do ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo, estão dispostos a entrar na briga por espaço. No caso, a dificíl disputa pela prefeitura de São Paulo.



Na oposição, a avaliação é parecida. O DEM cansou de viver a reboque do PSDB e quer ter um nome em 2010. Seu presidente, deputado Rodrigo Maia, diz que a intenção é ter agora candidatos a todas as prefeituras,. Segundo ele, há muito tempo de TV por aí à disposição para entregar para outros partidos, o que ocorrerá se não tiverem candidatos próprios. ” Nosso primeiro objetivo é construir o nosso partido, e não o partido dos outros”, diz Maia.



Batalha em São Paulo



O resto do país que nos perdoe. Mas a disputa política mais importante de 2008 é a da prefeitura paulistana, onde haverá o tradicional enfrentamento do PT e do PSDB em casa. Os dois partidos estão se vigiando desde já, tentando prever os movimentos um do outro. Aliados dizem que Marta Suplicy não está mesmo com a menor vontade de se candidatar a prefeita de novo, e que não o fará nem por decreto se seu adversário tucano for Geraldo Alckmin. Além de preferir se guardar para vôos mais altos em 2010, sabe que o ex-governador é fortíssimo candidato. Se Geraldo não for, e o PSDB apoiar a reeleição de Gilberto Kassab, do DEM, então quem sabe…



Os tucanos dizem que Geraldo está num dilema. O que ele gostaria mesmo é de voltar ao governo de São Paulo em 2010, no caso de José Serra ser o nome do PSDB para a sucessão de Lula. Mas isso não é certo. Ao mesmo tempo, precisa de um mandato agora para sair do sereno. E sabe que, uma vez prefeito, dificilmente poderia repetir Serra e deixar a prefeitura para candidatar-se ao governo apenas dois anos depois. O eleitor está cansado desse expediente.


 


Casamento na roça



Eleição municipal é eleição municipal, e nem sempre um partido que se sai bem (ou mal) tem o mesmo desempenho nas eleições seguintes para presidente e para o Congresso. Ao votar para prefeito e vereador, o cidadão tende a ver questões locais, como o lixo nas ruas de sua cidade, o horário de fechamento dos bares, o trânsito, etc. Mas um bom número de prefeituras na mão tem efeito multiplicador de votos e deixa a máquina partidária azeitada para a eleição seguinte de caráter nacional. Nesse sentido, é bom ficar de olho no PT e no PMDB. Se conseguirem se entender e fazer coligações em prefeituras importantes, aliando o poder da legenda petista à máquina peemedebista, estará acertada a chapa presidencial para 2010. PT na cabeça e PMDB na vice. Se o casamento sair na roça, é que o noivado de Brasília é para valer.



Fonte: “Jornal de Brasília”.


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