Morre mais um cortador de cana e casos chegam a 20 em SP

Por Priscila Lobregatte*


 


 


Mais um canavieiro morreu durante o corte de cana no estado de São Paulo. José Dionísio de Souza, 33 anos, faleceu na cidade de Ipaussu, no interior paulista, no dia 20 de junho. Como empre

O caso de José Dionísio soma-se a outras 19 mortes ocorridas no estado desde 2004, no corte de cana. Os canavieiros, tanto de São Paulo como de outros estados, têm jornadas exaustivas de trabalho somadas a condições precárias de vida, trabalho e alimentação.


 


 


Para conseguirem tirar um salário melhor no final do mês, acabam, muitas vezes, trabalhando mais do que sua capacidade física agüenta. Recentemente, um levantamento feito pela Relatoria Nacional para o Direito Humano ao Trabalho, encabeçado pela professora Cândida da Costa, da Universidade Federal do Maranhão, constatou que nos canaviais paulistas um trabalhador recebe entre R$ 600 e R$ 950 reais por mês.


 


 


Mas, para ganhar o valor máximo, seria necessário cortar 396 toneladas de cana em um mês, 20 por dia se trabalhar 20 dias por mês. “Eles têm jornada exaustiva de trabalho, levam marmita e, sob o sol, a comida estraga. Eles também não têm banheiros, equipamentos de proteção individual e nenhum trabalhador treinado em primeiros socorros”, disse Cândida ao semanário eletrônico de A Classe Operária. Outro estudo feito pela professora Maria Aparecida Silva, da Unesp, demonstrou que vem diminuindo a vida útil dos canavieiros. Nos anos 80 e 90, um trabalhador permanecia em média 15 anos na atividade. Hoje, a média é de 12 anos.


 


 


A situação dos cortadores de cana também foi alvo de um estudo feito pelo professor Francisco Alves, do departamento de Engenharia da Universidade de São Carlos. Um dos trechos de seu trabalho diz que  “um trabalhador que corte 12 toneladas de cana por dia de trabalho realiza as seguintes atividades: caminha 8.800 metros; despende 133.332 golpes de podão; carrega 12 toneladas de cana em montes de 15 kg, em média, portanto, faz 800 trajetos e 800 flexões, levando 15 kg nos braços por uma distância de 1,5 a 3 metros. Faz aproximadamente 36.630 flexões e entorses torácicos para golpear a cana. Perde, em média, 8 litros de água por dia, por realizar toda esta atividade sob sol forte do interior de São Paulo, sob os efeitos da poeira, da fuligem expelida pela cana queimada, trajando uma indumentária que o protege da cana, mas aumenta sua temperatura corporal”. Mais adiante, conclui: “fica fácil entender porque morrem os trabalhadores rurais cortadores de cana em São Paulo: por causa do excesso de trabalho”.


 


 


* com informações da Pastoral do Migrante


 


 


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