''PCdoB me adotou'', diz Lobo, deputado recém-filiado ao PCdoB/AM

Engenheiro civil, 54 anos, o deputado José Lobo estreou no Legislativo estadual há quatro meses, quando assumiu a suplência do deputado Eron Bezerra. De formação técnica, ressalta, em entrevista dada ao Vermelho, que os seus discursos

É modesto ao afirmar que está aprendendo a fazer política em seis anos de militância. O mais novo parlamentar filiado quer aliar o seu projeto político para o interior do Estado ao do Partido Comunista do Brasil que considera uma legenda forte e atuante.


 


Como surgiu o interesse por ingressar no PCdoB?
Eu precisava de um partido de base nacional pesada. E fui candidato pelo Prona, que para não cair na cláusula de barreira e ser instinto, fundiu-se com o PL e surgiu o PR. Digo que hoje eu estando migrando para o PCdoB e não tenho como dever fidelidade partidária porque o partido iria se acabar. Eu observava que lá a base de oposição era do PCdoB, mesmo os outros candidatos que foram lançados na última eleição por outros partidos tiveram apoio do PCdoB. A gente sabe e tem conhecimento que o PCdoB é um partido organizado, você tem como trabalhar, tem uma estrutura de apoio nesse sentido.



Qual é a sua trajetória na política?
Diria que a minha trajetória sempre foi de trabalho porque sempre fui um técnico. Sou engenheiro civil de formação superior, que estudou na Ufam. Me formei em 1977. Fui militante do diretório universitário, como vice-presidente. Naquela época do regime militar, foi uma época muito sofrida para mim que tive que passar por todos os meios de segurança para poder obter o diploma. Poderia dizer que na minha vida estudantil fui muito dedicado. Vim do interior com 8 anos de idade para estudar em Manaus e morar na casa de parentes. Sempre digo nos meus discursos que oportunidade você nunca deve desperdiçar, mesmo que seja pequena. E aquela oportunidade de vir de lá pra cá foi única. Depois fui coordenador de obras durante dois anos no governo Enoch Reis, técnico de obras no governo José Lindoso. Fui para a iniciativa privada, como construtor, em Manaus, Boa Vista, São Paulo e África. Voltei para cá (Amazonas) e assumi a Secretaria de Obras de Coari, que é um município com bons recursos em petróleo, mas jogado fora. Foi quando o meu trabalho apareceu. A população, por ver muitos políticos sem compromisso e responsabilidade, começou a me chamar. Em 2004 fui candidato a prefeito tampão pela Câmara Municipal por seis meses. Ele voltou porque foi reeleito e eu voltei para a secretaria de obras. Depois fui eleito deputado estadual com 7.800 votos.


 


Você não esconde a decisão de ser prefeito de Coari. Como conviver com as força políticas do município?
Existe hoje um embate entre Adail Pinheiro e eu, pelo fato de eu ter crescido politicamente e meu trabalho ter aparecido muito, mesmo no governo dele. Ele não aceita meu crescimento. Ele nunca achava que eu seria uma ameaça. Na verdade nada fiz a não ser o trabalho e o reconhecimento da população. As duas últimas pesquisas que saíram, sempre estive em primeiro lugar. Com todas as dificuldades, na eleição eu fui o mais votado em Coari e fora da cidade também. Isso o incomodou mais ainda. E para surpresa eu assumi a vaga do Eron. Eu cresci mais e a população viu que eu dei mais um passo. Isso foi somando para que eu tivesse mais essa oportunidade para me candidatar à prefeitura de Coari no futuro. Eu não diria que eu sou candidato a prefeitura de Coari, mas eu estou me preparando para o futuro político no município de Coari.



Como está sendo sua experiência no Legislativo?
O Legislativo é totalmente diferente do Executivo. É uma experiência nova para mim, mas que eu acho que tenho tido muita sorte. Hoje a Assembléia, tanto na oposição quanto na situação é uma das melhores que a história do Amazonas já teve, tanto como pessoas, quanto com o trato fino de se tratar as questões e como a relação entre os deputados. Uns tem ajudado aos outros, há uma solidariedade muito grande. Mesmo a oposição você observa que está preocupada com o crescimento. Oposição é oposição, se houver erro no governo vai ter que arcar e se responsabilizar. Conheço o Eron desde a universidade. Dentro da política nas últimas eleições nos cumprimentamos. Sempre mantive essa postura, eu não sou candidato de me indispor com a oposição com os colegas. Sou aprendiz, não vou negar. Venho de uma formação totalmente técnica. Quem é técnico das ciências exatas é mais travado ainda para discursos. No nosso caso é matemática pura e aplicada. É calcular e colocar no papel. Tanto que os meus discursos a cada dia estão esticando um milímetro, porque quando um técnico da minha área faz um discurso ele coloca as pedras, os números, monta a equação e dá o resultado. A gente quer resultados a curto prazo. Tanto que como secretário de obras minhas obras eram feitas em tempo recorde, obras em cinco meses. Cheguei a fazer em 58 dias. Tendo condições e estrutura não tem como você não fazer. Estou melhorando a minha cultura porque temos a cultura fechada na parte técnica. Claro que melhorei muito, a minha relação com o povo.


 


Como foi seu mandato como prefeito tampão em Coari?
Foi por sete meses. Na verdade eu estava complementando o mandato. Eu tentei fazer alguma coisa independente do que estava sendo feito pelo Prefeito. Como secretário de obras também fui peça importante porque elaborei programas de governo no primeiro mandato do prefeito e no segundo mandato. Acontece que você observa com o tempo que não há cumprimento daqueles programas. Inicia aqui e depois foge totalmente, porque ele segue a linha dele. Não existe uma lei orçamentária? Mas ela é flexível. Acredito que o desenvolvimento de Coari estaria 10, 20 ou 30 vezes do que está. Não uma ou duas. Realmente o prefeito não cumpria. Se o prefeito tem a maioria na Câmara aí é que fica mais fácil. ‘Eu ia fazer uma agroindústria, mas eu quero que esse recurso fique na prefeitura para eu manter o pessoal na folha de pagamento’. Eles ficam com o eleitor na mão. Na minha administração de sete meses eu tentei implantar algumas atividades de agroindústria que pudessem iniciar um desenvolvimento socioeconômico do município. Fiz uma agroindústria da cana, da mandioca, iniciei o processo da piscicultura. Mas para minha surpresa depois de seis meses ele não fez mais nada. O objetivo do Adail é ter todo mundo na mão. É como você colocar milho para as galinhas comerem, se não comer morrem de fome ou torce o pescoço porque tem que ser funcionário da prefeitura. Quando entrei naquela prefeitura em 2001 eu criticava o prefeito anterior que tinha 3.500 funcionários. Para minha surpresa em cinco meses ela estava com 5.500 mil, agora tem 7.500 mil e quer chegar em 10 mil. Implantando as agroindústrias para o extrativismo vegetal ou mineral, seja na área do petróleo ou do gás, naquele momento você começa a colocar uma economia sustentável. O petróleo vai acabar daqui a 50 anos. Nós estaremos ultrapassando 100 mil habitantes. Mas para onde vai esse povo todo se não houver sustentação? Essa sustentação tem que se dar nos moldes modernos, sem destruir a floresta, utilizando o extrativismo vegetal. Utilizando do que dispõe o município, desde de que seja feito um estudo eco-econômico para que ele produza e seja um Estado para o futuro. Até por ser mais velho que ele eu penso mais na frente. Eu não penso no meu filho. Penso nos meus netos, bisnetos e tataranetos. Como eles vão estar daqui a cem anos. Tem pessoas que não tem compromisso com isso. Eles metem o dinheiro no bolso e o amanhã não interessa.


 


O que o deputado José Lobo vem defendendo na ALE?


No mínimo eu tenho feito em média um requerimento, moção por dia. Eu tenho trabalhado muito na área economia sustentável, de meio ambiente, importantes para o interior do Amazonas. Inclusivo para Coari na área da pesca. Estou convocando a Petrobras para uma sessão especial para expor o trabalho na região e o desenvolvimento do gasoduto. Eu inclusive me reuni com o Wilson Lisboa e nós vamos criar uma bandeira de desenvolvimento sustentável no interior, até porque está associado ao trabalho do Eron na Sepror que nós vamos combater nas regiões do Estado.


 


Por que o Partido Comunista do Brasil?


O Partido tem uma boa ideologia. Estava conversando sobre as questões que o PCdoB tem como bandeira, como a melhor distribuição de renda, o desenvolvimento sustentável, o pólo industrial que é a manutenção do Amazonas. Eu sempre olhei por este lado. Eu adotei o PCdoB ou melhor e o PCdoB me adotou! (risos).


 


Qual é a sua relação com o seu eleitorado em Coari?


Em Coari a receptividade é muita boa. A cobrança é muito grande da população que está nos transportando para essa próxima luta. Eu vim para o PCdoB porque ele pode com outros partidos de oposição em Coari formar uma frente ampla.


 


Quem é o José Lobo?


Meu perfil sempre foi de um cidadão humilde, mesmo como empresário da construção civil a minha riqueza não foi muita. Quero ter uma participação maior na sociedade brasileira. A nossa vida não é pautada por riquezas, mas sim com o relacionamento familiar, amigos. É mais importante um bom leque de amizades do que amigos desonestos.


 


De Manaus,
Cinthia Guimarães