Bush: mentiras, paciência e carnificina

Com o pano de fundo quotidiano de dezenas de mortos no Iraque ocupado, o presidente George W. Bush apelou quarta-feira (4) à “paciência” dos seus governados face ao prolongamento da guerra contra o desafortunado país árabe e assegurou que “a vitória” dos

“Chegará o momento em que o povo iraquiano não necessitará da ajuda de 159 mil soldados estadunidenses no seu país”, prognosticou o governante, como se algum povo necessitasse, por um só dia que fosse, de um exército invasor no seu território e como se a nação agressora necessitasse de investir 3 ou 4 mil vidas na destruição de um país que nunca significou uma ameaça.



As exortações chauvinistas de Bush tiveram efeito há quatro anos e foram, apesar das mentiras intrínsecas, um aliciante para exacerbar os ânimos da opinião pública a apoiarem a invasão, o arrasamento e a ocupação de um país petrolífero situado a milhares de quilômetros de distância. Mas desde abril de 2004, quando foram conhecidas as atrocidades cometidas pelas tropas ocupantes na prisão de Abu Ghraib, o apoio popular ao empreendimento bélico vem diminuindo de forma sustentada. Hoje, é amplamente maioritária a rejeição social à permanência das tropas no Iraque e a margem de manobra da Casa Branca estreitou-se de forma perceptível, especialmente depois do triunfo democrata nas eleições legislativas do ano passado.


 


Para lá das realidades políticas e midiáticas dos Estados Unidos, há numerosos dados que indicam a impossibilidade das forças daquele país e as tropas dos seus aliados derrotarem as organizações de resistência no Iraque, ou de desempenharem um papel positivo para devolver a paz a essa martirizada nação. De acordo com a informação procedente do teatro de operações, quatro anos depois da invasão os invasores não conseguiram sequer exercer um controle efetivo em Bagdá, e muito menos no resto do território iraquiano. Neste contexto, as operações contra bastiões insurretos como a que nestes dias se leva a cabo na província de Diyala e na sua capital, Baquba, parecem ser simples incursões punitivas, certamente mortíferas, mas efêmeras e, uma vez concluídas, a insurreição volta a exercer o controle das regiões atacadas.



A ideia do Pentágono de substituir de maneira paulatina as forças ocupantes por corpos policiais e militares locais, treinados e armados por Washington, tampouco deu resultados apreciáveis. Num contexto social de decomposição tão extrema como o que caracteriza o Iraque ocupado, a intenção de criar uma milícia minimamente confiável e disciplinada é como construir estátuas com areia solta. Os recrutas são assassinados numa questão de dias, desertam, corrompem-se ou dedicam-se à extorsão da população, e sabe-se que não são poucos os que se passam com equipamentos e armas para as fileiras da resistência.



A única razão real para manter as tropas ocupantes no Iraque por tempo indeterminado é a perspectiva de continuar a oferecer contratos a empresas do círculo presidencial estadunidense, como a Halliburton, e continuar a enriquecer, com o dinheiro dos contribuintes e à custa das vidas dos iraquianos e de invasores, o punhado de empresários ligados à máfia que controla a Casa Branca.



Esta realidade é cada vez mais clara para os segmentos maioritários da sociedade estadunidense, e as proclamações patrioteiras de Bush já não dão o mesmo resultado de há cinco ou seis anos. Se a crescente pressão interna atual – civil e legislativa – por uma retirada rápida das tropas for acompanhada por uma demarcação inequívoca e severa dos governos europeus, que têm todos os elementos para se afastar da persistente e absurda carnificina que se faz no Iraque, é provável que o governante de Washington não tenha outro remédio se não aceitar, de uma vez por todas, a derrota a que conduziu as forças armadas do seu país, as mais poderosas do mundo.



Reproduzido do site O Diario.info