Bautista Vidal: governo não tem um projeto nacional

Para o físico e engenheiro José Bautista Vidal, falta ao governo um projeto de desenvolvimento nacional. Sem meias palavras, depois de uma palestra de pouco mais de uma hora no seminário “Os desafios da política energética: o biocombustível”, atividade qu

Responsável pela criação do Programa Nacional do Álcool (Pró-Álcool) e considerado um dos pais da biomassa, Vidal avalia que o governo não está preparado para negociar o seu grande trunfo energético: os combustíveis renováveis. Conhecido por suas críticas ferozes a política energética do governo Fernando Henrique Cardoso, Vidal acredita que faltam no governo pessoas competentes que pensem um projeto nacional para o país.


 


Vidal foi, por três vezes, secretário de Tecnologia Industrial do país e é professor aposentado da Universidade de Brasília (UNB).


 


Vermelho – Qual a sua avaliação sobre a política energética do governo Lula?


 


Bautista Vidal – Eu tive uma conversa com Lula porque eu tenho criticado bastante o governo Lula. Ele me chamou lá e eu gostei da conversa. Só que o governo faz o oposto! O governo Lula tem que se rodear de gente capaz. E ele não está rodeado de gente capaz. Ele é meio refém. Então pessoalmente eu não tenho nada contra ele. Mas tenho contra o governo dele. Eles não tem um projeto nacional. Um país riquíssimo como o Brasil, ter tanta gente na miséria… Então eles têm que levar gente competente para, junto com o povo, elaborar um projeto nacional. Aí tudo vai dar certo. É tão simples como isso. Ter um grupo de assessores preparado para passar as informações para ele. Ele é muito inteligente, mas ele não conhece as coisas. É preciso que passem as coisas para ele. Aí ele pode se transformar num grande presidente para o Brasil. E no momento, ele está um péssimo presidente.


 


Vermelho – O projeto do etanol brasileiro é uma grande oportunidade para o país. Mas o presidente cubano Fidel Castro tem criticado-o alegando que é preciso uma revolução energética, ou seja, uma mudança de conceitos. O senhor concorda com ele?


 


Bautista Vidal – A crítica do Fidel [Castro] é baseada nesse negócio do Bush [presidente dos EUA George W. Bush] porque eles estão usando o milho, que é ração animal e alimenta o pessoal. Não é o caso brasileiro. Então Fidel tem razão, mas se refere aos Estados Unidos e não ao Brasil. Ele não fala no Brasil. Ele fala no Etanol. Ele não difere o trabalho brasileiro do americano. Há uma confusão. Uma falta de informação. Eu inclusive estou marcando uma reunião com o embaixador de Cuba para que ele fale para o Fidel isso. Ele tá equivocado. Tá generalizando quando se refere aos americanos, mas não ao Brasil.


 


Vermelho – Depois de anos paralisada, a Comissão Nacional de Política Energética (CNPE) decidiu retomar a construção de Angra 3. O que o senhor achou da decisão?


Bautista Vidal – Barbaridade. A energia nuclear não é de maneira nenhuma o caminho. Muito menos para o Brasil que tem essa potencialidade toda do sol. A energia nuclear tem duas coisas terríveis. Uma é o resíduo. Um miligrama de plutônio mata a pessoa e é um monstro de um milhão de cabeças e ninguém sabe o que fazer com esse resíduo. Não se consegue destruir. Ele fica aí durante 500 mil anos. Então isso é uma barbaridade. Segundo é que a tecnologia é toda estrangeira. Então o estrangeiro vai dominar o Brasil.


 


Vermelho – E as pesquisas que vêm sendo desenvolvidas com relação a reciclagem desses resíduos nos Estados Unidos?


 


Bautista Vidal – É porque eles não tem a maravilha que o Brasil tem das plantas altamente conversoras de energia solar em energia química, como a cana, a mandioca, eles não tem. Então eles têm que usar essas porcarias mesmo.


 


Vermelho – O Brasil ainda corre o risco de um apagão?


 


Bautista Vidal – Sim. Eles venderam o sistema elétrico, a distribuição, aos americanos. E eles não estão investindo. Estão guardando o dinheiro pra resolver o problema deles, das empresas falidas norte-americanas que vieram pra cá, se apoderar da nossa renda. Essa área é muito terrível. Nós entregamos aos estrangeiros o controle do sistema hidrelétrico que era totalmente brasileiro. Foi o Fernando Henrique Cardoso, esse bandido traidor.