Paquistão: 59 mortos na invasão da Mesquita Vermelha

Na manhã desta terça-feira (10), forças do Exército paquistanês invadiram a Mesquita Vermelha, na cidade de Islamabad, capital do Paquistão, onde há sete dias se encontravam entrincheirados militantes islâmicos e centenas de reféns. Pelo menos 59 pesso

O assalto ocorreu de madrugada. Antes de morrer, Rasheed Ghazi, pediu, em entrevista à TV, que os seus seguidores “vinguem a sua morte”. Afirmou também que a sua mãe havia sido ferida no combate.



“Esta é minha última mensagem: que os meus seguidores vinguem a minha morte e empreendam uma guerra para libertar-se do agente norte-americano que tomou todo o Paquistão como refém”, disse Ghazi, em referência ao presidente Pervez Musharraf.



A reivindicação de Gahzi e de seus seguidores é que o Paquistão adopte um sistema de governo islâmico, idêntico ao do Talibã, derrubado por forças estrangeiras que invadiram o Afeganistão em 2001.



A Mesquita Vermelha, Lal Masjid, é vista como símbolo mais sectário do Islã no Paquistão. Foi criada em 1965 por Muhammad Abdullah, um religioso do qual várias fontes locais afirma ter tido ligações com a ditadura do General Zia-ul-Haq.



Cerca de 5 mil estudantes estudam nas duas madrassas ligadas à mesquita, que é conhecida pelas suas críticas ao atual governo e pela sua posição anti-EUA e pró-talibã. O religioso principal da mesquita, Abdul Aziz, assumiu em 1998, depois do assassinato do seu pai, Abdullah, e redigiu um decreto religioso, uma “fatwa”, dando instruções para que que soldados que tivessem atacado e morto militantes islâmicos não fossem enterrados com o ritual muçulmano.



Enquanto continuam os combates entre o Exército do Paquistão e radicais na Mesquita Vermelha . O Exército, de acordo com a mídia internacional, faz uma operação de busca sala a sala, mas a ação é limitada pela presença de um número desconhecido de reféns no complexo. Ao menos 51 militantes e oito soldados morreram no confronto hoje.



Surpreendido pela obstinação dos militantes, o Exército já enviou reforços para a região da mesquita hoje. “Não esperávamos uma resistência tão forte”, disse o porta-voz do Exército, general Wahid Archad. “Não sei dizer quanto tempo levaremos até o fim da operação.”



A invasão começou por volta das 4h (20h de segunda-feira em Brasília), minutos depois que uma delegação liderada pelo ex-premiê paquistanês Chaudhry Shujaat Hussain deixou a área da Mesquita Vermelha dizendo que as negociações para uma solução pacífica haviam falhado.



O administrador municipal Khalid Pervez afirmou que cerca de 50 mulheres foram as primeiras a serem libertadas pelos militantes, após a fuga de 26 crianças. Entre os libertados estariam a mulher e a filha de Abdul Aziz.



Cronologia dos acontecimentos



27 de março: estudantes femininas vestidas com burcas seqüestram três mulheres acusadas de dirigir um bordel. As mulheres foram libertadas depois de “confessarem” terem se “arrependido”.



30 de março: o governo fecha uma rádio FM considerada ilegal montada por estudantes para propagar a sua visão do Islã.



6 de abril: o clérigo Abdul Aziz, que dirige a mesquita, anuncia planos de instalar tribunais islâmicos e clama aos seus seguidores que “se sacrifiquem” como homens-bomba se o seu movimento for proibido.



18 de maio: estudantes capturam quatro polícias e exigem a libertação de 11 alunos  presos. Os policiais foram libertados mais tarde.



23 de junho: estudantes raptam nove pessoas, incluindo seis mulheres chinesas, acusando-as de dirigir um bordel. São libertadas horas depois.



29 de junho: o presidente Pervez Musharraf diz que homens-bomba da al-Qaida estão na Mesquita Vermelha.



3 de jlho: Confrontos entre estudantes e forças de segurança: 150 estudantes atacam um posto de segurança perto da mesquita e capturam armas. A violência continua no dia seguinte, e 16 pessoas são assassinadas.



4 de julho: Aziz é preso ao tentar escapar disfarçado de mulher, dentro de uma burca; 1.200 estudantes rendem-se.