''Partidos não atrapalham a UNE'', diz estudante apartidária
Por Carla Santos
Ao longo do congresso da UNE alguns grandes veículos de comunicação insistiram na tese de que a entidade está partidarizada e dividida. Já para a caloura de congresso estudantil, Daniela, que é estudante de geografia da Unitau (Univers
Publicado 10/07/2007 18:23
Daniela, que vestia uma blusa da famosa marca Dolce e Gabbana, estava com outras três amigas de curso e chamava atenção entre os caras-pintadas no protesto pelo ''Fora Meirelles'', que aconteceu em frente ao Banco Central na sexta (6), durante o encontro da UNE.
Para ela o problema do movimento estudantil não são os partidos, mas sim a apatia. ''Na minha universidade ninguém se preocupa com política, nem de dentro da universidade, quanto mais na UNE. Vieram só 19 pessoas, os presidentes do diretório acadêmico [DA] e nós, que também fazemos parte do DA'', declarou.
Pluralidade
Já para sua amiga, Fernanda, a diversidade no congresso chamou sua atenção. ''Nos debates a gente viu que tinham grupos divididos, mas essa disputa é importante e tem que melhorar cada vez mais, porque se ficar só um grupo no poder aí eu acho que monopoliza tudo, fica de um jeito só, ninguém quer mudar; a mudança vem dessa divergência de opiniões.''
Outra observação importante também foi feita por Daniela. ''Encontramos só jovem filiado a partido político, a gente até achou que fosse diferente porque nós somos apartidárias. Mas acho bom que seja assim, pelo menos as divergências são respeitadas e cada um tem seu espaço, ninguém fala nada. Só os tucanos que, lógico, a gente deixa de lado'', observou.
Fernanda e Daniela disseram que ainda não conversaram com o presidente da UNE que esteve à frente da entidade durante os últimos quatro anos, Gustavo Petta, no entanto, defendem a mesma opinião que ele. Para Petta a presença de partidos é sinal de pluralidade e democracia na entidade.
“Os partidos sempre atuaram na UNE, desde os anos 60 e 70, no auge do movimento. A presença deles não impede a preservação da autonomia do movimento”, assinalou Gustavo Petta, que deixou a presidência da UNE neste domingo (8) para Lúcia Stumpf.
Unidade
''Estou achando esse congresso revolucionário; o movimento está grande e eu não imaginava que existia essa força. Estou gostando de participar, estou vendo que o povo se une de todos os estados e é organizado'', disse Fernanda.
As jovens participaram pela primeira vez de uma passeata estudantil no congresso e gostaram da experiência. ''Participar de manifestação é muito legal, tem bagunça, mas é organizado, se me convidarem para uma próxima eu vou'', disse Daniela.
Mas, nem tudo são flores para as estudantes, elas acreditam é preciso mudar muitas coisas para que a o movimento estudantil seja mais ativo.
''Eu acho que o que precisava mudar urgentemente é a nossa relação com a UNE, essa movimentação ainda está muito fraca na nossa universidade. O problema é que a nossa universidade é particular e pequena, então o pessoal fica de fora. Eu estou vendo que a maioria aqui é de universidade federal, estadual, mas tem que movimentar o pessoal da particular porque é a massa de estudantes'', falou Fernanda.
Daniela não concordou com a amiga. ''Eu não concordo. Eu acho que o que precisa mudar é a participação. Na UNE a gente discute muito, mas nem tudo se põe em prática. Não é sempre que você vê manifestação assim, é uma em sei lá quantos anos. Eu espero que agora, dando certo essa, que continue assim e com mais debates também.''
A principal expectativa da Daniela depois do congresso é que a apatia mude. ''Eu acho que o tem que mudar com esse congresso é a falta de interesse, é a educação. O nosso departamento de geografia ainda é mais forte do que o de ciências sociais; só que o resto, são todos alienados e querem massificar o povo mesmo, nem divulgam essas coisas da UNE ou congresso algum. O DA de lá só serve para fazer bagunça, festa, jogo e futebol. Falta essa consciência crítica lá dentro'', reclamou.
Politização
''Este foi um congresso revolucionário. Primeiro porque o novo processo se demonstrou mais politizado, participativo e tende a construir um novo período de organização dentro da UNE. Segundo, pelo clima favorável para a discussão de mudanças mais profundas que situam o Brasil com a possibilidade de protagonizar grandes transformações na América Latina e no mundo'', disse o secretário geral da UNE, Pedro Campos, que é filiado ao MR8 (PMDB).
As lideranças de outras correntes podem discordar da opinião de Pedro, porém em uma questão todos concordam: o 50º Congresso da UNE foi mais politizado do que o 49º.
Um dos principais motivos, segundo as lideranças, foi a nova forma de eleição de delegados. Com a mudança aprovada no último Coneb (Conselho Nacional de Entidades de Base) – que reúne centros acadêmicos – os delegados passaram a ser eleitos, obrigatoriamente, por eleições diretas com a participação de pelo menos 5% dos estudantes regularmente matriculados de toda a universidade. Antes eles eram eleitos por assembléias em seus cursos.
''São vários os elementos que podem fazer deste um congresso especial. São 70 anos, a retomada do terreno da UNE na Praia do Flamengo, jornada em agosto e nova forma de eleição de delegados. Isso tem haver também com o momento que vivemos. Espero saber capitanear tudo isso para que os próximos dois anos sejam de milhares de estudantes nas ruas'', disse Lúcia Stumpf, a nova presidente da UNE.