Lúcia Stumpf é eleita presidente da UNE com 72% dos votos

A estudante de jornalismo da FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas) de São Paulo, Lúcia Stumpf, 25 anos, foi eleita a 4º presidenta a assumir a UNE com 72% dos votos do 50º Congresso. Dos 4.794 estudantes eleitos pelo voto direto por 1.880 universidades,

A chapa ''1º de fevereiro'', encabeçada pela gaúcha de Porto Alegre, uniu o maior números de movimentos e forças políticas e foi a única entre 11 inscritas a apresentar candidata a presidência da entidade.  UJS (PCdoB), MR8 (PMDB), Articulação Mudança (PT), Kizomba (PT), JS (PDT) e JSB (PSB) foram as principais correntes do movimento estudantil a comporem a chapa.


 


Todas as outras 10 chapas de oposição a ''1º de fevereiro'' obtiveram votação bastante inferior a ela. A chapa ''Juventude Petista'', composta majoritariamente pelas correntes do PT Articulação de Esquerda, Articulação Estudantil, Trabalho e Movimento PT, por exemplo, foi a segunda mais votada com 11% dos votos.


 


O movimento mobilizado por todas as tendências do PSOL, reunidos na chapa ''Um passo a frente'', obtiveram 9% dos votos. Com exceção do movimento ''Rebele-se'', ligado ao PCR e que obteve 4% dos votos, e da chapa ''Mais uma dose'', composto na maior parte por jovens ligados ao PPS com 3% dos votos, as quatro demais chapas não alcançaram nem 10 votos. Duas chapas se inscreveram, mas antes do processo de votação foram retiradas.


 


A eleição para a diretoria da UNE é proporcional e qualificada, portanto as chapas que disputaram a entidade terão número de funções na diretoria proporcional ao seu número de votos. A executiva da UNE é formada por 17 membros e ainda há os vice-presidentes regionais, entre outras funções.   


 


Coragem


 


A oposição ao governo Lula foi manifestada por diferentes chapas durante este domingo. Além da chapa do PSOL, entre outras do campo da esquerda, também a ''Multiplicidade'', liderada pela juventude do PSDB, e ''UNE Livre e Democrata'', do DEM, usaram o microfone para, cada qual com seus motivos, fazer oposição ao presidente.


 


Enquanto o PSOL pediu votos pelo ''Fora Renan'', referindo-se ao senador do PMDB de AL, a juventude do PSDB e Democratas disputou quem estava mais à esquerda da direita. Os votantes não foram muito simpáticos ao apelo, principalmente os feitos pelas duas últimas juventudes e, como reza a tradição, mantiveram o espaço delas pequeno no congresso. Dois votos foi o que obteve a juventude tucana e apenas um voto à DEM. 


 


A coragem dos jovens destes últimos dois partidos, no entanto, foi valorizado pelos estudantes. ''Não concordo com as opiniões deles'', disse a paranaense Michele que cursa geografia, ''mas admiro a coragem que tiveram de vir aqui defender o que pensam mesmo sabendo do ambiente desfavorável as suas idéias.''


 


Deus e apartidários


 


Estudantes apartidários também inscreveram chapas. ''A UNE de volta pra luta'' foi inscrita, mas retirada durante o processo de votação. Já a ''UNE Livre'', composta por jovens que defendem, sobretudo, a inclusão dos estudantes de ensino a distância nas eleições da entidade, conquistou sete votos.  


 


Definitivamente a chapa que mais causou surpresa neste domingo foi inscrita por apenas um estudante, o carioca Breno. Convidado pela UJS ao congresso, fervoroso e cheio de fé, ele defendeu veementemente as palavras da Bíblia na chapa ''Deus, frente de Paz'' e obteve cinco votos.


 


No sábado (7) Breno já havia surpreendido o congresso ao atirar notas de dinheiro ao palco desejando ''comprar'' um tempo para fazer uso da palavra. O dinheiro foi imediatamente devolvido, sendo que no domingo ele assegurou seu espaço.


 


A única chapa com coloração partidária a se inscrever, mas depois retirar a inscrição foi a ''AJR'', do PCO. Apenas 33 estudantes votaram em branco ou nulo.


 


Despedida


 


Depois de quatro anos presidindo a UNE Gustavo Petta despediu-se da entidade, ''mas não da luta'', como fez questão de reafirmar. ''Estou me aposentando do movimento estudantil, mas a gente nunca pode parar de lutar porque tem muita coisa que precisa mudar ainda no Brasil'', disse. A partir de agosto Petta vai escrever sobre políticas públicas em um blog próprio no portal IG.


 


Em entrevista ao Vermelho, depois de fazer seu último discurso no plenário do 50º congresso, ele disse sair da UNE com o sentimento de dever cumprido.


 


''Nos últimos anos a UNE foi uma importante protagonista, ao lado de outras entidades, da luta por mudanças no país. Realizamos o Coneb [Conselho Nacional de Centros Acadêmicos] que já não acontecia a sete anos na entidade. Demos um passo importante para a maior democratização da UNE com a eleição direta de delegados ao congresso e o diálogo com diversos movimentos juvenis. Talvez o mais importante tenha sido a retomada, depois de 40 anos, do terreno na Paria do Flamengo, 132, a sede da UNE incendiada pela ditadura. Tudo isso foram marcas importantes da gestão. Sinto que o dever foi cumprido.''


 


Quando questionado sobre o que gostaria de ter feito na entidade, mas não conseguiu, Petta falou sobre comunicação. ''A gente melhorou a comunicação da UNE, mas não conseguimos fazer dela um canhão nessa guerra midiática que existe hoje no país.'' Ele depositou confiança na presidente eleita, Lúcia, para construir uma TV e rádio da entidade.    


 


Petta disse ainda que esta saindo da UNE diferente de quando entrou. ''A UNE é uma grande escola de política. Nela aprendi a conhecer, respeitar e valorizar as mais diversas culturas no Brasil. Fui tomando contato com a enorme desigualdade que existe e percebi que lutar é cada vez mais preciso'', conclui.


 


Cara nova


 


Cabelos pintados, tatuada e usando pircing a nova presidente da UNE não tem nada a ver com o estereótipo do militante ''bicho grilo'' muito em voga no movimento estudantil desde os anos 60. Para além de Geraldo Vandré, a 4º mulher a presidir a entidade em 70 anos gosta mesmo é de um rock 'n roll.


 


Na defesa de sua chapa disse que a UNE dos próximos dos anos vai ser ainda mais aberta a todas as discussões da juventude, como machismo, homofobia, racismo, software livre, entre tantas outras. Porém, os principais desafios serão reconstruir o prédio da entidade na Praia do Flamengo e colocar o bloco na rua por mudanças na política econômica do governo Lula e na educação.


 


''Eu convoco cada estudante que está aqui a voltar para a sua universidade animado a construir grandes manifestações em agosto pelo 'Fora Meirelles' e por mais investimentos para a educação'', falou na tarde deste domingo. A gaúcha não descarta nova onda de ocupações nas universidades no próximo mês, mas adianta que este não é o único instrumento de pressão dos estudantes.


 


''Não definimos ainda o formato das mobilizações de agosto, assim que for empossada a nova diretoria da entidade vamos discutir o que exatamente faremos'', falou ela que é filiada a UJS e ao PCdoB.


 


Segundo resolução congressual aprovada neste domingo as chapas têm até o dia 8 de agosto para indicarem seus representantes para a próxima diretoria e a UNE tem até o dia 15 para realizar a sua posse.


 


70 anos e o ''Fora Meirelles''


 


Para Petta, as marcas do 50º Congresso foram as atividades comemorativas aos 70 anos da UNE e a manifestação pelo ''Fora Meirelles'' na sexta (6) em frente ao Banco Central.


 


''O julgamento da Comissão de Anistia aos dois ex-presidentes da UNE, Aldo Arantes e Jean Marc, me emocionou muito neste congresso. O ato com os familiares de Honestino Guimarães também. Penso que estas duas cenas, somada a grande manifestação pelo 'Fora Meirelles' que realizamos foram à fotografia daquilo que mais marcou o 50º Congresso'', disse.


 


Ao final da apuração dos votos, a satisfação dos mais diversos movimentos e correntes de opinião que participaram do emcontro era notória.


 


''Acho que este congresso da UNE é o resultado oficial da nova forma de eleição dos delegados. É um encontro mais politizado do que os anteriores e os debates foram mais cheios e produtivos. O ato da sexta-feira abriu um novo período na relação da UNE no debate de conjuntura, pela necessidade de um tensionamento maior na disputa do governo, mas principalmente de uma disputa mais radicalizada com a sociedade tendo a UNE à frente desse processo'', disse Louise Caroline, vice-presidente da UNE e da Articulação, movimento Mudança, da Juventude do PT.                    
     


Veja abaixo na íntegra os resultados das votações.


 


UNE Livre – 7 votos
Multiplicidade – 2 votos
UNE Livre e Democrata – 1 voto
Deus, frente de paz – 5 votos
Um passo a frente – 232 votos
Mais uma dose – 73 votos
Rebele-se – 92 votos
Juventude Petista – 279 votos
1º de fevereiro – 1.802 votos
Bancos e nulos – 33
Total – 2.526 votos


 


Por Carla Santos,
de Brasília
Fotos: Roque Junior