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Encontro discute ensino de sociologia e filosofia

Por Renata Mielli


Neste domingo (22), o Auditório Elis Regina, no Palácio de Convenções do Anhembi, em São Paulo, recebeu centenas de professores, estudantes, pesquisadores e profissionais de outras áreas para a abertura do 1º Encontro Nacional

Coroamento de uma luta iniciada há décadas, o Encontro é a afirmação da vitória conquistada em 7 de julho de 2006, quando a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou, por unanimidade, a inclusão obrigatória das disciplinas de Sociologia e Filosofia no currículo do Ensino Médio no País


 


Contudo, muito mais do que comemorativo, o Encontro é o marco do início de uma nova luta, ainda mais desafiadora: definir os conteúdos, a abordagem, a qualificação dos professores; além dos instrumentos para concretizar a implementação do estudo dessas importantes ferramentas cognitivas para a formação humanista e crítica da juventude brasileira.


 


Foi assim que os participantes da mesa de abertura caracterizaram o encontro, que marca essa trajetória de conquistas e que vai lançar reflexões sobre os próximos desafios a serem percorridos. Entre eles, estavam representantes de entidades estudantis, de professores, sociedade civil e científicas.


 


A presidente da UNE, Lúcia Stumpf; e o presidente da UBES, Thiago Franco, compareceram. O Ministério da Educação estava representado pela professora Lúcia Helena Lodi. O deputado federal Ribamar Alves (PSB-MA), autor da lei que torna obrigatórios os ensinos de Sociologia e Filosofia, também participou, junto com o deputado estadual paulista Simão Pedro (PP). Os Conselheiros do CNE, César Callegari e Adeum Sauer também prestigiaram o evento.


 


Benjamin Constant


 


Um dos principais organizadores do Encontro, o vice-presidente do Sindicato dos Sociólogos do Estado de São Paulo, professor Leujeune Mato Grosso, fez um breve resgate histórico do surgimento da disciplina de Sociologia no Brasil. Relembrou o “sonho de Benjamin”, ao se referir a um dos responsáveis pela implantação do ensino de Sociologia no país. Resgatou a parceria desenvolvida entre o sindicato e a Apeoesp (o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) na batalha pela obrigatoriedade das disciplinas nos currículos do Ensino Médio.


 


Essa luta teve como marco a aprovação da LDB em 1996, que fincou os pilares do pensamento neoliberal no ensino brasileiro. “Com muita luta, nós conseguimos aprovar por unanimidade na Câmara dos Deputados o projeto do então deputado federal Padre Roque, que tornava obrigatório o Ensino de Sociologia e Filosofia. Seguindo para o Senado, o projeto foi aprovado por maioria dos senadores e, ao ser encaminhado para sansão presidencial, foi vetado pelo ‘Príncipe da Sociologia’, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. É preciso dizer bem claro que o governo de um sociólogo vetou a obrigatoriedade do Ensino de Sociologia e Filosofia nas nossas escolas. Foi preciso o governo de um operário para que essas disciplinas fossem inseridas no currículo brasileiro”, sublinhou veementemente o professor Mato Grosso.


 


Ao ressaltar o grande significado da realização do Encontro, Mato Grosso fez questão de mostrar que aprovar a obrigatoriedade foi a parte mais fácil da luta. “O mais difícil começa agora, que é a definição dos parâmetros para se lecionar Filosofia e Sociologia para os jovens do Ensino Médio, essa é toda uma jornada a ser traçada e as reflexões para isso serão lançadas aqui”, disse.


 


Florestan Fernandes


 


O presidente da Ubes, Thiago Franco, foi muito aplaudido ao lembrar que naquele dia (22) comemora-se também o aniversário de nascimento do sociólogo Florestan Fernandes, um dos principais defensores da educação pública no Brasil.


 


Ele afirmou que não basta se aprovar a obrigatoriedade. “Nós queremos influenciar na forma como esse ensino vai ser ministrado, com quais objetivos e compromissos essas disciplinas serão inseridas nos currículos”, disse. Thiago aproveitou para convocar os presentes a se unirem junto ao movimento estudantil no mês de Agosto, quando será realizado entre os dias 20 e 24 a “Jornada Nacional de Lutas em defesa da Educação”.


 


A presidente da UNE, Lúcia Stumpf, falou da luta do movimento estudantil contra a formação tecnicista e por uma formação capaz de desenvolver as potencialidades humanas. “Isso pode contribuir para a formação de uma geração mais crítica que, certamente, poderá protagonizar mudanças importantes no nosso País, reafirmando sua inserção de forma soberana no cenário mundial”, destaca.


 


Valorização profissional


 


O secretário de Assuntos Educacionais da Contee, José Thadeu, advertiu que não haverá ensino de Sociologia e Filosofia de qualidade se outros fatores não forem garantidos. “É preciso ter mais investimentos em educação para melhorar a estrutura física e material das escolas; é urgente valorizar o profissional da educação, com a adoção de um plano de carreiras, de formação continuada e melhoria salarial; é imprescindível lutarmos para que haja uma mudança na estrutura social do País, porque não estamos aqui para lutar pela igualdade de oportunidades, isso a sociedade que está ai já dá, nós estamos aqui para lutar pela igualdade de condições”, afirmou.


 


José Thadeu salientou, ainda, que na luta em defesa da Educação de qualidade faz-se urgente exigir que o governo federal normatize o Ensino Privado Superior, que permanece se expandindo de forma acelerada. “Ainda surgem instituições superiores de fundo de quintal que estão formando péssimos profissionais. Não podemos permitir que a demanda por professores de Sociologia e Filosofia seja atendida por essas instituições, que não têm compromisso com a qualidade, não podemos permitir que se abra mais um espaço para a exploração de mercado”, destacou Thadeu, lembrando da campanha da Contee contra a Mercantilização do Ensino Superior.


 


Jovem na escola


 


A presidente da Anfope, professora Helena de Freitas, ressaltou a necessidade em se discutir a formação dos profissionais que irão atuar no ensino destas disciplinas para a Educação Básica. Ele defende que isso seja feito a partir de um olhar interdisciplinar que contemple a situação da juventude, suas necessidades no âmbito da ciência, da cultura e do trabalho e, principalmente, a contribuição para superar a grande exclusão dos jovens que se encontram fora do sistema educacional, lembrando que apenas 43% dos jovens em idade escolar encontram-se matriculados no Ensino Médio.


 


O coordenador do Fórum Inter-americano de Sociologia, Emanuel Appel enfatizou que “tanto a Filosofia quanto a Sociologia possuem um ponto de vista crítico que pode ser fundamental para a juventude, por ser um instrumento para a sua emancipação, tornando-os donos de sua autonomia intelectual, tornando-os capazes de fazer um uso público de sua razão”.


 


A Apeoesp, co-organizadora do evento, foi representada pelo seu presidente Carlos Ramiro de Castro. Ele registrou o importante significado da inclusão das disciplinas de Sociologia e Filosofia no Ensino Médio e destacou um outra proposta: aumentar o tempo que os alunos permanecem na escola. “Temos uma das menores cargas horárias da América Latina, nossos alunos ficam em média 3 horas e meia na escola, isso não é compatível com uma educação qualificada e emancipadora. Temos que elevar a carga horária, e discutir uma nova estrutura curricular para o nosso País”, disse.


 


Ao final da abertura, os conselheiros do CNE receberam uma homenagem dos presentes pela luta desenvolvida para garantir a vitória que tornou possível a realização daquele Encontro.


 


Nesta segunda e terça-feira, várias mesas temáticas irão debater os desafios que estão lançados para garantir a implantação dessas disciplinas no Ensino Médio.