Lixo pode ser transformado em energia elétrica no Ceará
O projeto piloto da Usinaverde, instalado no Campus da UFRJ (Fundão), Rio de Janeiro, já é uma realidade que agora se aproxima do Ceará, com a previsão de instalação de um módulo em Maracanaú e a negociação de outro para a Região do Cariri
Publicado 25/07/2007 11:21 | Editado 04/03/2020 16:37
Fechar o ciclo de produção e consumo, com a reciclagem dos resíduos gerados pelo ser humano ainda parece utopia, mas, aos poucos, alcança a realidade. Pelo menos já é assim há mais de dois anos, no Campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no Fundão, no módulo piloto da Usinaverde, que promete, em breve, chegar às terras alencarinas.
Inicialmente está prevista a implantação de módulo na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), em Maracanaú, onde fica o Distrito Industrial. Paralelamente, está em fase de negociação, com o Governo do Estado, a implantação de uma outra planta, no Cariri.
´A energia à base de resíduos, além de limpa tecnologicamente, recupera o passivo ambiental´, destaca o professor de Gestão Econômica Ambiental da Universidade de Fortaleza (Unifor), Albert Gradvohl.
Para que essa prática se consolide, ele acredita ser fundamental que o Governo do Estado exija das prefeituras uma postura preventiva. ´Os municípios, assim como as empresas, precisam assumir e pagar o custo ambiental de suas atividades, caso contrário, a sociedade continuará pagando pelas conseqüências´, afirma.
A Usinaverde é uma empresa brasileira de capital privado, criada em 2000, pioneira, no País, no desenvolvimento de tecnologia e processos para a implantação de unidades de tratamento térmico de lixo urbano com geração de energia, com patentes internacionais.
O processo consiste na queima dos resíduos sob elevada temperatura (aproximadamente 950ºC), sendo os gases resultantes neutralizados por um sistema de lavagem em circuito fechado. O aproveitamento do calor gerado pode produzir cerca de 600 quilowatts-hora por tonelada de lixo. O tratamento térmico é precedido pela seleção dos materiais recicláveis, assegurando a retirada de tudo o que possa ser reaproveitado.
O módulo piloto do Fundão tem capacidade para tratar 30 toneladas diárias (1.250 quilos/hora) de resíduos urbanos. Concebido com equipamentos fabricados no Brasil, operando e gerando energia desde fins de 2004, o processo tecnológico Usinaverde foi classificado como Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), pela Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima, e será encaminhado à Organização das Nações Unidas (ONU), para emissão dos Certificados de Redução de Emissões (Créditos de Carbono).
Processo em negociação
O diretor de Engenharia da Enguia Gen CE, Raul Fernando Ferreira, enfatiza que o grande desafio tem sido buscar o equilíbrio entre a realidade financeira dos municípios brasileiros e a urgência da adoção de medidas ambientalmente corretas para a destinação final do lixo urbano.
´A instalação dessas unidades de tratamento do lixo apresenta resposta de qualidade a esse gravíssimo problema, inserindo o Brasil cada vez mais no contexto dos países desenvolvidos´, declara.
Ele destaca que a remuneração dos investimentos realizados pode ser feita mantendo-se os valores atualmente dispensados pelos municípios, pois a diferença é obtida a partir da venda de energia elétrica.
No caso do Ceará, Raul explica que a parceria com a Usinaverde vem sendo buscada como solução modelo para a instalação de unidades de tratamento de resíduos urbanos na Região Metropolitana de Fortaleza, no município de Maracanaú; e também na Região do Cariri, polarizada pelos municípios de Crato e Juazeiro.
O presidente do Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente (Conpan), André Barreto Esmeraldo, confirma o adiantamento do módulo de Maracanaú, através de negociação direta com a Prefeitura e explica que, no caso do Cariri, ele solicitou uma proposta detalhada, a ser mostrada ao governador Cid Gomes nos próximos dias.
´A idéia é estabelecer uma parceria público-privada, na qual o Governo do Estado entra com algum incentivo e é beneficiado com o fornecimento de energia elétrica, o que seria um grande avanço para a Região do Cariri. Imagino que, após essa etapa, existem outras regiões onde também seria viável a implantação´, explica o presidente do Conpan.
Raul Ferreira, por sua vez, esclarece que trata-se de unidades modulares, cada uma com capacidade para tratar 150 toneladas diárias de resíduos urbanos, com atendimento a cerca de 180 mil pessoas; e geração de 3,2 megawatts-hora de energia elétrica, o que permite o atendimento a cerca de 13.500 residências.
Informa, ainda, que os resíduos inertes resultantes do tratamento térmico, as cinzas, deverão ser utilizados como base para a fabricação de tijolos, rendendo material suficiente para a construção de aproximadamente uma casa popular de 50 metros quadrados por dia, permitindo a implementação, a custos módicos, de programas de habitação.
Fonte: DN