México, trampolim de cubanos para os EUA
A vasta maioria dos cubanos que deixam a Ilha sem documentos legais penetram agora em território americano via México, depois de seus familiares nos Estados Unidos terem pago milhares de dólares a redes da máfia, que os recolhem no extremo oeste de Cuba c
Publicado 03/08/2007 14:57
A rota do México é mais perigosa que uma viagem direta de 145 quilômetros (90 milhas náuticas) de Cuba a Flórida, mas tem menos probabilidades de intervenção da Guarda Costeira dos EUA. Quase 90% dos cubanos que viajam ilegalmente para os EUA o fazem por terra, e não por mar, segundo a Agência de Proteção de Alfândegas e Fronteiras.
A partir da costa mexicana, os cubanos simplesmente viajam até a fronteira americana, onde ao contrário do que ocorre com os demais imigrantes sem documentos, são recebidos com o amparo da lei americana.
O México, que luta contra as máfias, paga o preço dessa troca no fluxo migratório, especialmente em Cancún, o deslumbrante balneário do Caribe. Na última segunda-feira, os investigadores descobriram ali o cadáver de um cubano-americano de Miami, Luis Lázaro Lara, algemado e com os olhos vendados com fita adesiva. Foi fuzilado com 10 tiros que desfiguraram seu rosto.
Dias antes, as autoridades prenderam ao menos oito pessoas sob a suspeita de que haviam levado de contrabando cubanos para o México, inclusive seis com residência ou cidadania estadunidense, que acabavam de ser entrevistados pelas autoridades americanas. Lázaro Lara tinha conexões com esses contrabandistas de pessoas, dizem os investigadores mexicanos.
''São bandos que estão bem organizados, bem financiados e são muito poderosos'', disse o senador Carlos Navarrete, que integrou um grupo de parlamentares mexicanos que foi a Havana para discutir a questão com os deputados cubanos em junho. ''É óbvio que são um problema muito sério para os dois governos, México e Cuba''.
Entre 1.° de outubro de 2006 e 22 de junho de 2007 9.296 cubanos chegaram aos EUA procedentes do México, mais do dobre que os 4.589 que chegaram ou que foram recolhidos pela Guarda Costeira nos estreitos da Flórida entre 1.° de outubro e 30 de junho.
A rota mexicana é agora tão popular que as autoridades de imigração qualificaram aos que se utilizam dela de ''pés empoeirados'', um jogo de palavras alusiva à política de ''pés molhados, pés secos'' que permite aos imigrantes ilegais cubanos capturados em solo americano permanecer no país, ao mesmo tempo que devolve à Ilha aqueles que são interceptados no mar.
As autoridades mexicanas dizem que a razão disso é a maior segurança ao largo das costas estadunidenses, mas o funcionário mexicano disse que as quadrilhas mais ricas e poderosas é que são de fato responsáveis.
Um contrabandista de pessoas, com uma lancha veloz que faz o trajeto de 200 quilômetros (120 milhas náuticas) entre Cuba e a península de Yucatá pode ganhar 30 mil dólares por carde de 30 ou mais cubanos. Em menor grau, utilizam iates que podem levar grandes grupos à costa sem serem detectados.
O dinheiro geralmente é dado por familiares que vivem nos EUA, que pagam até US$ 10 mil por pessoa para os contrabandistas para tirarem da Ilha seus parentes. Tal como sugerem as recentes prisões, a maioria das quadrilhas emprega estadunidenses de origem cubana que operam em Cancún e outros locais na costa de Yucatán.
Os contrabandistas utilizam telefones via satélite e tecnologia do Sistema de Posicionamento Global (GPS) para coordenar seus encontros noturnos na província cubana de Pinar del Rio, no extremo oeste. As lanchas rápidas têm até três motores de 275 hp, o que reduz a viagem a seis horas caso não necessitem de mudar de rumo para não serem detectados.
Alguns cubanos tratam de chegar a Yucatán pelos seus próprios meios em embarcações improvisadas e balsas, mas é fácil perder-se nas águas do Golfo do México. Uma delas flutuou à deriva no golfo durante 25 dias, até que, em junho, resgataram um só sobrevivente de um grupo de 19 imigrantes ilegais que estavam a bordo.
As autoridades cubanas proíbem o uso da força para deter os botes, exceto em caso de autodefesa. Ao mesmo tempo, informam a Guarda Costeira americana as coordenadas da embarcação que foge, mesmo que esteja evidente que foge para o México. Mesmo que combater o tráfico humano entre Cuba e México não esteja entre as prioridades da Guarda Costeira, os funcionarios americanos acabam informando a Armada mexicana.
A detenção de imigrantes ilegais cubanos no México subiram de 254 em 2002 para 2.205 no ano passado, segundo o Instituto Nacional de Imigração mexicano. Mas a maioria é posta em liberdade depois de 90 dias em centros de imigração. Só 772 cubanos — um terço dos presos no ano passado — foram repatriados para Cuba.
O resto conseguiu chegar até a fronteira americana, onde a entrada de cubanos subiu de 6.130 no ano fiscal de 2004 a 7.281 em 2005 e a 8.677 no último ano fiscal, que terminou em 30 de setembro.
Ao contrário dos demais imigrantes, os cubanos não precisam fugir da Patrulha de Fronteiras. Simplesmente anunciam sua nacionalidade e pedem que fiquem ali. Se não tiverem antecedentes de delito ou problemas de saúde perigosos, são autorizados a permanecer nos EUA e solicitar a residência permanente depois de um ano.
Funcionários mexicanos se queixam de que os EUA aceita os imigrantes ilegais cubanos com muita facilidade, mas admitem publicamente que suas próprias autoridades não estão fazendo o suficiente para deter os traficantes humanos.
Temos de ter claro que há um fluxo de emigrantes de Cuba ao México e que isso está aumentando'', disse a senadora Rosario Green, presidente da comissão de relações exteriores. ''O méxico não deve ser um trampolim para os EUA'', finalizou.
Fonte: Diário La Opinión