Prostitutas da Índia combatem marginalização editando jornal
Desafiando a marginalização do bairro vermelho de Mumbai, um grupo de antigas prostitutas se reúne toda semana num bordel para discutir a pauta de um jornal por meio do qual expõem as suas idéias, o Red Light Despatch.
Publicado 04/08/2007 18:50
A publicação surgiu há seis meses no bairro de Kamathiputra, um dos centros da vida noturna da capital financeira da Índia, com o objetivo de ''proporcionar uma plataforma de expressão às prostitutas'', disse o editor Anurag Chaturvedi. O jornal contabiliza mil exemplares de tiragem por edição.
''O Red Light é a voz de quem não tem voz e das mulheres sem identidade, pois ninguém discute os sonhos, as agonias ou as nostalgias das prostitutas. Portanto, buscamos articular sua memória e nostalgia, frustradas pela violência e pela pobreza'', afirma Chaturvedi.
O Red Light tem oito páginas, não contém fotos, nem é colorido, mas é editado em inglês, híndi e bengali, e já ultrapassou as fronteiras do bairro de Kamathiputra.
''Chegamos a Calcutá, Délhi, Mumbai e à região de Bihar. Como ninguém se preocupa com sua forma de vida, estava claro que as prostitutas precisavam de algum tipo de plataforma. Então, pensamos, por que não fazer um jornal por e para elas'', afirma Chaturvedi.
Conteúdo
No Red Light há espaço para testemunhos e histórias pessoais, poemas, notícias de saúde e direitos humanos, mas também para textos mais reflexivos, como o escrito pela vencedora do prêmio Nobel da Paz Shirin Ebadi e que é publicado recentemente.
Apesar do bom conteúdo, a maior contribuição do modesto periódico está em sua capacidade de mostrar as histórias do dia a dia das prostitutas, a quem o governo indiano sequer reconhece a cidadania, diz Chaturvedi.
Na Índia, que tem mais de dois milhões de profissionais do sexo, a prostituição é considerada legal e, apesar de ser um tabu, existe até uma tribo, a Bedia, na qual a prática do sexo por dinheiro é aceita como algo natural para a mulher.
No entanto, na maior parte dos casos a rua é o último recurso das moças. Essas mulheres, na maior parte pobres e de pequenas localidades, podem ter sido vítimas de um ''seqüestro'' após chegarem aos grandes centros, nos quais atuam grandes redes de prostituição.
Fonte: Efe