Manifesto de um comunista gay
Um espectro ronda o país – o espectro da Homossexualidade. Enquanto o Projeto de Lei que criminaliza a homofobia caminha para sua aprovação no Senado, todas as forças do velho conservadorismo se unem numa santa aliança para exconjurá-lo: o papa e os evang
Publicado 06/08/2007 14:46
Que jovem gay não ouviu do pai “prefiro um filho morto do que viado”? Que travesti profissional do sexo, por sua vez, já não fez programa com esses mesmos pais de família? Duas conclusões decorrem deste fato:
Primeira, é um fato que a homossexualidade existe, afeta toda a sociedade, não pode ser evitada e constitui força política considerável. Segunda, é tempo já de os gays se apresentarem em todo o Brasil com suas idéias, objetivos e demandas, a fim de descartar de uma vez por todas as lendas que correm a seu respeito. É com essa finalidade que foi redigido o presente manifesto.
E eu podia continuar e continuar, por cinquenta páginas, a falar sobre burgueses e proletários, proletários e comunistas, comunistas e homossexuais… Mas não. Não sou Marx, nem Engels. Sou apenas um jornalista gay que acordou pra vida. Que se deu conta de que o preconceito contra homossexuais é uma opressão sexual nos mesmos moldes da opressão do homem sobre a mulher. Que, por sua vez, tem tudo a ver com a origem da família, da propriedade privada e do Estado. Ou seja, tem tudo a ver com a ascensão do capitalismo e do neoliberalismo.
Sim, meus caros, a homofobia é capitalista. E enquanto o mundo funcionar para que uma elite machista, racista e homofóbica perpetue o seu poder, continuarão existindo preconceito e discriminação contra gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais e todos aqueles que se “desviam”, “invertem” e “pervertem” a ordem e a moral que interessa à essa elite. Em outras palavras, lutar contra a homofobia é lutar contra o capitalismo. É lutar pelo fim de toda opressão e exploração. É também uma luta para que nos libertemos de todos os preconceitos e toda a repressão que distorcem e destroem a nossa sexualidade.
O capitalismo é uma sociedade que se baseia na promoção da divisão e dos preconceitos para dividir e dominar. Mas é também um sistema que cria a classe que pode destruí-lo para construir em seu lugar um mundo novo. Essa classe, ainda que oprimida, tem o poder para acabar com todas as opressões e com a exploração. Para isso tem que destruir as velhas instituições da sociedade e construir outras instituições, realmente democráticas, que possam dirigir diretamente a sociedade.
Assim como é importante que todos defendam e lutem pela libertação gay, também é fundamental que defendamos a necessidade de uma sociedade socialista, uma sociedade onde a idéia de libertação gay torna-se uma realidade palpável, e onde a divisão artificial entre ''heterossexuais'' e ''homossexuais'' possa ser derrubada de uma vez por todas. Mesmo que para isso seja preciso uma revolução. Uma revolução brasileira, comunista e gay.
Por isso escolhi me filiar ao Partido Comunista do Brasil. Um partido que, do alto de seus 85 anos, mantém-se ainda jovem o bastante para refletir sobre seu passado, aprender e mudar. E ousado o bastante para abraçar a luta GLBT, a luta pela liberdade de orientação sexual e identidade de gênero, como uma legítima luta social.
A partir de agosto, venha construir essa luta junto com o Partido. Ajude-nos a preparar o Seminário que irá desenvolver uma política de princípios e atuação de comunistas para o meio GLBT.
* Deco Ribeiro é jornalista, membro do PCdoB em Campinas (SP), do GT-GLBT do PCdoB e fundador do Grupo e-Jovem de Adolescentes Gays, Lésbicas e Aliados – uma rede de grupos de jovens GLBTs que atua em 15 cidades, de 11 Estados, nas 5 regiões do país.