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Promotor denuncia regime de “superexploração” nos canaviais

Por Priscila Lobregatte*


O promotor de Meio Ambiente e Conflitos Fundiários de Ribeirão Preto, Marcelo Goulart, sabe bem o poder dos grandes latifundiários da região. Na profissão há 23 anos, já sofreu atentados. Em um deles uma bomba foi jogad

Por isso, fala com autoridade sobre o agronegócio. Os problemas da produção do álcool no país, diz, são reflexos de “um padrão de produção agrícola baseado na monocultura e na grande propriedade, na concentração de renda e de poder político e na dominação ideológica. Daí a grande exaltação do etanol escondendo o outro lado: o dos impactos sociais e ambientais”.


 


 


Ele lembra que a queima da cana acarreta uma série de problemas, tanto ambientais quanto sociais. “Queimando a cana, aumenta-se a produção do trabalhador e, portanto, contrata-se menos mão-de-obra para cortar mais hectares. Na época da safra, temos ainda uma alta concentração de gases tóxicos na baixa atmosfera, o que provoca sérios problemas para a saúde pública, desde doenças respiratórias até o desenvolvimento de câncer”.


 


 


Goulart recorda-se das tentativas da promotoria de combater as queimadas e da reação dos donos do agronegócio. Como detêm o poder econômico, o empresariado, ao invés de pensar alternativas sustentáveis, buscou a aprovação de leis que permitissem a queima. “Eles financiam campanhas políticas e parlamentares. Por isso, as bancadas ruralistas são majoritárias”, alertou. Os grandes meios de comunicação, na avaliação do promotor, corroboram essa situação. “Não se aborda, de maneira adequada, o regime de superexploração do trabalhado no corte da cana, que leva o canavieiro a ter que quebrar recordes. Nesse ritmo, extenuados, muitos acabam morrendo. Quer dizer, no século 21 pessoas ainda morrem de trabalhar e isso não parece sensibilizar ninguém”.



 


 


* Matéria originalmente publicada na versão eletrônica do jornal A Classe Operária, em fase de teste. Para ler a última edição do jornal, clique aqui.