Ação dos BCs não segura bolsas do mundo: é a crise?
Esta semana terminou com um arrepio nos mercados. Os bancos centrais, sobretudo da Europa, em 48 horas, usaram pelo menos US$ 323,3 bilhões, um terço do PIB brasileiro, para conter a queda das bolsas. A baixa diminuiu, mas continuou. O ministro Guido Mant
Publicado 10/08/2007 19:20
Os mercados de ações de todo o mundo experimentaram quedas abruptas até o final da semana passada. Poderia ser uma pequena “correção” ou uma nova etapa de volatilidade financeira, mas seria conveniente estar preparado para mais comoções e uma sucessão de altos e baixos.
Os mercados internacionais enfrentaram na semana passado seu maior queda em muito tempo. Isso significou o começo de uma sucessão de altos e baixos para os mercados de todo o mundo, que poderia afetar também às moedas, as correntes de capital e a “economia real” da produção do trabalho.
Na quinta e sexta-feira, a bolsa dos Estados Unidos teve sua maior queda em cinco anos. Nesses mesmos dias o mercado acionário de Londres perdeu todo lucro que havia conseguido ao longo deste ano.
Os mercados asiáticos também caíram. Na quinta-feira, o Índice Composto de Kuala Lampur caiu 1,9%, enquanto que os índices do mercado financeiro caíram 4% na Coréia do Sul, 2,7% em Honk Kong e 2,4% em Singapura e no Japão.
Os problemas dos mercados de crédito finalmente se transferiram aos mercados acionários e, dessa maneira, se oficializou a instabilidade financeira que se esteve montando e que agora finalmente chega golpeando o cidadão comum.
O presidente dos EUA, George W. Bush, disse que não há motivo para que haja pânico, o que, obviamente deixou a população preocupada diante da idéia de que vêm mais problemas. O secretário do Tesouro, Henry “Hank” Paulson, foi mais direto e descreveu a onda atual como um “chamado para que os investidores a despertem”.
O ápice desses eventos foi a crise imobiliária nos EUA ou os empréstimos para compra de moradias outorgados a famílias sem condições de cumpri-los. Os fundos e outras instituições financeiras poderiam perder até US$ 100 bilhões pelo não-cumprimento dos pagamentos.
Isso teve conseqüências na economia real, já que a onda de moradias novas nos EUA caiu 6,6% no mês passado, o que se somou às dificuldades já existentes.
Em meados da semana passada, os bancos que se dispunham a financiar as aquisições da Chrysler e da Alliance Boots não encontraram compradores para os 20 bilhões de empréstimos requeridos. Isso infundiu o temor de que não haveria mais crédito para as aquisições com endividamento nos quais se empregam fundos próprios e financiamentos externos, assim como contratos de compra e venda.
Começaram a aparecer sinais de uma retração do crédito para os investimentos de maior risco, e os investidores se moveram rapidamente até “investimentos seguros”, como os bônus governamentais. Nos últimos dias se fala do reajuste do preço do risco.
As instituições financeiras estão cobrando juros mais altos pelos empréstimos e ações que se consideram de maior risco, e estão reduzindo a corrente de fundos até esses setores de risco. Isso afetou os mercados de capitais na última semana. A opinião geral é que haverá muita volatilidade nos mercados financeiros nas próximas semanas.
A sucessão de altos e baixos também envolve às moedas e o fluxo de capital, e é difícil predizer como se verão afetadas as diversas moedas e países.
Por exemplo, se pensou que o dólar estadunidense se fundiria, já que a crise se originou em seu setor financeiro. Apesar disso, caiu a princípios desta semana, mas se recuperou ao final da mesma, quando caíram as moedas de outros países (Nova Zelândia, Indonésia, Filipinas e Brasil).
Uma nova preocupação é que se desarticularão as operações denominadas “carry trade”, na qual os empréstimos são pedidos em moedas ou ativos com juros baixos para poder emprestar ou investir em ativos que tenham juros altos, e assim ganhar com a diferença.
O yen japonês, com um juro baixo, é o favorito desse tipo de negócio. Mas como subiu abruptamente na semana passada, ficou mais custoso mantê-lo, e os que haviam pedido empréstimos nessa moeda agora têm que pagá-los rapidamente – ou desfazer seus contratos – para evitar perdas.
Quando se produziu a volatilidade da semana passada, o Banco Asiático de Desenvolvimento advertiu oportunamente que os mercados financeiros da Ásia oriental são vulneráveis a uma brusca mudança do recesso do “carry trade” do yen, e também a uma retirada repentina dos fundos estrangeiros, assim como a quedas bruscas das moedas.
Um informe divulgado na quinta-feira indicou que no ano passado a região recebeu uma cifra recorde de US$ 269 bilhões de ingressos de capital, o que também melhorou as moedas asiáticas neste ano.
O Banco Asiático de Desenvolvimento advertiu que a possibilidade de uma desarticulação dos “carry trade” do yen “exacerba a volatilidade nos mercados financeiros emergentes da Ásia oriental” e estimula os governos asiáticos a adotar medidas que lhes permitam estar preparados diante de um revés repentino das correntes de capital.
Os investidores japoneses mudaram seus ativos para outras moedas que pagam maiores juros, como parte do “carry trade”, mas podem regressar rapidamente ao yen à medida que este voltou a se recuperar ao final da semana passada.
O vai-e-vem dos mercados de capital da semana passada pode ser um novo capítulo da instabilidade financeira que os especialistas vêm anunciando desde há algum tempo.
Apontaram os “desequilíbrios mundiais” nos quais os EUA geraram um déficit massivo no comércio exterior, enquanto outros países, entre eles a China, têm enormes excedentes. E também as atividades desestabilizadores de instituições como os fundos de cobertura e liberdade de investidores e especuladores para mover seus fundos através das fronteiras, com o potencial de provocar a volatilidade de moedas e correntes de capital.
A súbita queda do mercado de ações da semana passada poderia ser apenas uma pequena “correção do mercado”. No entanto, também poderia ser o começo de meses de comoções, com resultados imprevisíveis.
Fonte: http://www.rebelion.org/