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Mangabeira diz que PCdoB se identifica com projeto nacional

Por Priscila Lobregatte


O Partido Comunista do Brasil recebeu em sua sede, em São Paulo, na manhã desta sexta-feira, 10, a visita do ministro da Secretaria de Planejamento de Longo Prazo, Roberto Mangabeira Unger. Proposta pelo próprio ministr

“Há uma afinidade profunda entre as minhas concepções e as do PCdoB para um projeto nacional de desenvolvimento. Procurei o PCdoB como o primeiro dos partidos com os quais vou dialogar – e dialogarei com todos – por causa da incomparável identificação entre o PCdoB e a perspectiva nacional, que será o grande eixo do meu trabalho”, disse Mangabeira Unger ao Vermelho, no final da reunião. O ministro completou dizendo que no PCdoB “encontro um ambiente inteiramente aberto a essas preocupações, sobretudo no comprometimento com a primazia da questão nacional. Tivemos aqui uma discussão muito franca e muito fraterna a respeito dos componentes da tarefa e das formas políticas de fazê-las avançar”.


 


 


Mangabeira Unger ressaltou que sua tarefa, hoje, é “ajudar a demarcar um rumo, uma direção para o país e traduzir essa direção num elenco de políticas públicas concretas e ajudar a provocar, dentro do governo e da sociedade, uma discussão do potencial de lastrear um projeto não apenas de governo, mas de Estado”.



 


 


Condições para o projeto


Questionado sobre se o governo Lula estava conseguindo dar condições para a implantação de um projeto nacional de desenvolvimento, Mangabeira Unger foi enfático. “Minha convicção é de que o presidente está determinado a avançar para uma segunda etapa. Ele conserva a estabilidade econômica que se conseguiu e as iniciativas de cunho social que se promoveram como bases, agora, para aquilo que o país mais quer: crescimento econômico com inclusão social”.


 


 


Para o ministro, o crescimento econômico deve estar baseado na “ampliação dramática e  irreversível de oportunidades econômicas e educativas e de participação política”. Portanto, salientou, não se trata de ter a questão social “apenas como uma maneira de atenuar o econômico”, mas  de termos a questão econômica “ancorada no social, interpretando o social como democratização de oportunidades”. E essa democratização de oportunidades, por sua vez, disse, deve estar “sustentada numa institucionalização de nível maior da participação popular. Temos, agora, uma oportunidade singular de dar uma virada e juntar todos os aliados para esse projeto de afirmação nacional”.



 


 


Política econômica


Mangabeira Unger preferiu não falar sobre a política econômica nacional. “Não vou entrar nessa polêmica”, disse, ressaltando que sua tarefa agora é “identificar os pontos de partida que sirvam para se buscar convergências em torno da construção desse projeto nacional”. Para isso, elencou quatro pontos que julga fundamentais para um projeto nacional.


 


 


Em primeiro lugar, “o desdobramento de capacitações científicas e tecnológicas avançadas para o país”. Em segundo lugar, “uma política industrial de inclusão, por meio da qual o Estado use esse recurso não só para promover práticas avançadas no setor formal da economia, mas para abrir oportunidades e criar instrumentos no setor informal”.


 


 


Como terceiro ponto, destacou a mudança da matriz energética ligada à transformação da Amazônia. Nesta questão, que vem rendendo discussões entre desenvolvimentistas e ecologistas, Mangabeira Unger defendeu que “o Brasil no século 21 se transformará transformando a Amazônia”, com base em um novo “paradigma produtivo, ligado a um projeto de  zoneamento e gestão territorial da Amazônia que, afinal, corresponde a 1/3 de nosso território”.


 


 


Por último, falou sobre a importância da defesa nacional. Segundo o ministro, é preciso reerguer e reorganizar as Forças Armadas, “porque a estratégia de desenvolvimento nacional e a estratégia de defesa são iniciativas que necessariamente andam juntas”. Para ele, um dos principais entraves que o país enfrenta para se desenvolver está no “incômodo que muitos brasileiros ainda sentem com a idéia do engrandecimento do Brasil. Este é um obstáculo que temos de superar e aqui, no PCdoB, encontro aliados para essa tarefa fundamental e transformadora”.


 


 


Por um pensamento próprio


De acordo com o presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, “o partido tem uma visão muito forte no que diz respeito à questão nacional”. Ele lembrou que no país ainda prevalece o pensamento dominante, subjugado às posições vindas de fora do país, “que não leva em conta a nação e o potencial brasileiro. O grande esforço, portanto, seria de colocar em movimento todo esse potencial”, disse Renato ao relatar a reunião.


 


 


Renato Rabelo disse ainda que a visita de Mangabeira Unger ao partido demonstra a dualidade do governo, “que tem pessoas e políticas com sentido progressista, desenvolvimentista e democrático, como tem também aqueles que compartilham de outra visão. Ele se encaixa nessa visão de desenvolvimento, de democracia e de discutir, sobretudo, um novo rumo para o país”.


 


 


O dirigente comunista ressaltou que “não podemos ficar nos marcos em que estamos, submetidos a um pensamento dominante. Temos de ter um pensamento próprio, nacional, brasileiro e aí entra a questão do rumo que o país precisa tomar, que é a primeira grande questão a ser enfrentada. Para Renato, o Bloco de Esquerda, hoje, é importante também para a implantação de um projeto nacional de desenvolvimento. “Uma das plataformas do Bloco é a tentativa de se indicar a necessidade desse projeto e de se mobilizar forças que trabalhem com esta perspectiva”.


 


 


Participaram da reunião com o ministro Mangabeira Unger além do presidente PCdoB, os secretários de Organização, Walter Sorrentino, de Formação, Adalberto Monteiro e de Relações Institucionais, Ronald Freitas, além do deputado federal pelo PCdoB/SP, Aldo Rebelo e do economista e membro do Comitê Central, Dilermando Toni.