Renan expõe a ficha suja do usineiro alagoano João Lyra
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), defendeu hoje a quebra dos sigilos do usineiro João Lyra, que acusa o senador de ter firmado com ele sociedade oculta para a compra de uma empresa de comunicação em Alagoas por meio de laranjas. Renan
Publicado 15/08/2007 18:43
O presidente do Senado, senador Renan Calheiros (PMDB-AL) sugeriu nesta quarta-feira (15), que o usinerio João Lyra que tem feito denúncias sem provas contra Renan, deveria quebras seus sigilos. ''Uma investigação pressupõe que todos façam a mesma coisa. Eu quebrei meu sigilo, abri as minhas contas, era importante que esse João Lyra fizesse isso antes de dizer qualquer coisa. Alagoas o conhece. Ele, ressentido, perdeu eleição com 350 mil votos, atribui a mim grande parte desse derrota, perdeu a liquidez, obtém mais de três mil títulos protestados. O que ele disser em relação a mim será sempre suspeito'', afirmou.
Renan refere-se à eleição para governador de Alagoas no ano passado, quando Lyra perdeu a disputa para o tucano Teotônio Vilela, apoiado pelo presidente do Senado.
Lyra diz ter sido sócio de Renan em empresas de comunicação em Alagoas. Segundo o usineiro, o presidente do Senado usou ''laranjas'' (terceiros) nas transações. Desafeto político de Renan em Alagoas, Lyra vai depor nesta quinta (16) em Maceió ao corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP).
Renan disse estar tranqüilo em relação ao depoimento. O peemedebista afirmou, no entanto, que o usineiro não merece ''nenhuma palavra'' sua desde que tornou públicas as denúncias. ''Eu não quero tratar desse rapaz. Ele tem várias execuções da Receita Federal, é acusado de vários homicídios, inclusive de crime de mando, é uma pessoa que não merece uma resposta minha porque não tem nenhuma qualificação.''
As denúncias feitas por Lyra contra Renan têm sido publicadas com ênfase pela polêmica revista ''Veja''. Ao mesma revista do grupo Abril que ataca o presidente do Senado, parece não ter se preocupado, até agora, com a ficha suja do usineiro que está servindo de ''fonte'' para as denúncias.
Na opinião de Renan, os senadores vão concluir ao final das investigações que ele não está envolvido em irregularidades. ''O que vai haver no Senado, qual o desfecho da crise, isso não importa muito. O que importa para mim é a verdade, é sair de cabeça erguida, de espinha ereta, andar pelo Brasil e demonstrar que eu sou inocente. O Senado, eu tenho absoluta confiança, na isenção do Senado de que isso no final vai preponderar.''
Renan disse que mantém com os senadores ''o melhor relacionamento e respeito de todos'' ao negar que tenha feito ataques nos bastidores a colegas favoráveis ao seu afastamento do cargo –com supostas ameaças veladas.
''Eu nunca ataquei ninguém. Vocês acham que tive 52 votos [para a presidência do Senado] como? Eu tive 52 votos porque sempre tive com o plenário o melhor relacionamento e o respeito de todos, da mesma forma que eu respeito a todos'', afirmou.
Surreal
Em entrevista a jornalistas, Renan afirmou também que ''é uma coisa surrealista o que vem acontecendo'', ao comentar as acusações contra ele.
''As pessoas atacam, não apresentam provas, e você tem que fazer a prova em contrário. Quando um grande jornal publicou (em um fim de semana) que eu tinha mudado meu IR (Imposto de Renda), tive que esperar a sexta-feira'', disse, referindo-se ao fato de que, no sábado e no domingo, não poderia contactar a Receita Federal para levantar as informações.
Afirmou ainda que ''são maledicentes todas as acusações'' feitas contra ele.
''Licença fragiliza''
Perguntado se aceitaria deixar o cargo de presidente do Senado, Renan afirmou que, se deixasse o cargo, estaria compartilhando com as acusações que vem sofrendo nos últimos meses. ''A licença fragiliza e prejulga. O que estamos tentando é mostrar que temos uma prova para cada maledicência. Se tivesse me licenciado, eu passava para opinião pública o entendimento que estava concordando com o que estavam dizendo de mim'', afirmou.
''A minha permanência no cargo exige que tragam provas. Como cassar o mandato que o povo conseguiu sem uma prova? É impossivel?'', disse. Renan responde a dois processos no Conselho de Ética: um sobre a suposta ajuda que recebeu de um lobista para pagar despesas pessoais e outro referente às relações que teve com a cervejaria Schincariol. Nesta quinta, a Mesa Diretora do Senado pode autorizar a abertura do processo sobre a ligação de Renan com veículos de comunicação de Alagoas.
A oposição promete impedir votações em plenário enquanto Renan continuar na presidência durante as investigações. O senador minimizou a ameaça e disse que tentará retomar o diálogo com esses partidos. ''A obstrução é forma regimental. Por isso, tenho muita fé que vamos restaurar as conversas com setores da oposição''.
Renan disse estar disposto a prestar depoimento ao Conselho de Ética do Senado, na semana que vem, no processo a que responde por quebra de decoro parlamentar. ''Eu vou a qualquer lugar que seja necessário levar a verdade, inclusive o Conselho de Ética'', disse.
Novo relator
Também nesta quarta-feira, o presidente do Conselho de Ética do Senado, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), convidou nesta quarta-feira o senador João Pedro (PT-AM) para relatar o novo processo contra Renan Calheiros, relacionado à empresa Schincariol. Depois que três senadores recusaram seu convite, Quintanilha conseguiu convencer o petista a assumir a função. ''Eu vou designá-lo. Só esperemos vencer pequenas questões de natureza administrativa para que ele se torne oficialmente o relator, já que ele é suplente do conselho'', disse Quintanilha.
Membro-suplente do colegiado, João Pedro terá que ser designado titular pela líder do PT, Ideli Salvati (SC), para assumir a relatoria. De acordo com Quintanilha, o novo relator irá estabelecer o cronograma dos trabalhos.
Da redação,
com agências