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Nassif critica escolha dos últimos gestores do Banco Central

A coluna econômica publicada nesta segunda-feira (20) pelo jornalista Luis Nassif em seu blog ataca o modo como foram escolhidos os últimos gestores do Banco Central brasileiro. Para ele, o próprio mercado financeiro considerava figuras como Afon

Confira abaixo o texto:



Os gestores do Banco Central



Na edição de sexta-feira passada, o “Estado de São Paulo” publicou uma matéria sobre os gestores de fundos que já tinham participado do Banco Central. Havia Armínio Fraga, ex-presidente, Luiz Fernando Figueiredo, o ex-diretor Afonso Bevilacqua. Quase todos ex-diretores do BC que, ou saíram para montar seus próprios fundos, ou para trabalhar em instituições financeiras.



Nesse trabalho, o lucro é garantido pelo livre fluxo de capitais. De um lado, abre aos fundos a captação de investimentos brasileiros no exterior. De outro, confere flexibilidade para retirar dinheiro do país em caso de crise.



Esse é o ponto central que explica esses anos todos a extraordinária permissividade do Banco Central não apenas com juros, como com o fluxo de capitais e com a apreciação cambial. A futura clientela desses diretores, o mercado onde eles irão trabalhar, depois de deixar o BC, são esses.



Nos últimos anos, a diretoria foi ocupada por pessoas com escassez de currículo e excesso de ambição. No currículo do ex-diretor Afonso Bevilacqua – o sujeito que bancou as extraordinárias taxas de juros do período – constavam dezenas de artigos publicados nos jornais econômicos nacionais. No de outro diretor, Alexandre Schwartsman, apenas currículos escolares, nenhuma obra acadêmica de peso.



A avaliação do próprio mercado sobre eles era de que se tratava de figuras inexperientes, juniores para os cargos que passaram a ocupar. Mas o destino da economia foi colocado em suas mãos.



Para dar sobrevida a esse modelo, havia a necessidade de se criar uma utopia. Ela veio na forma do “investment grade” – o “grau de investimento”, galardão máximo que uma empresa ou mercado ou país pode receber de uma agência de risco. Significa que os grandes investidores internacionais poderão entrar com risco pequeno no negócio o que, teoricamente, os levaria a exigir juros menores. A fantasia do grau de investimento sustentou essa farra cambial e monetária esses anos todos.



Bastou a crise internacional se acirrar, para o risco Brasil aumentar. Não apenas isso. Para um país com moeda inconversível (isto é, que não é negociada internacionalmente) e com superávit nas contas externas, a entrada de dólares pelo mercado financeiro é prejudicial, serve apenas para beneficiar parte das empresas, em detrimento do conjunto.



Uma empresa ou banco, por exemplo, pode captar recursos no exterior para aplicar aqui, ganhando no diferencial de juros. Quando traz os dólares e vende no mercado, o Banco Central entra e compra, para evitar excesso de dólares. Quando compra, o BC joga reais na economia. Para evitar excesso de reais circulando, lança títulos públicos, que coloca no mercado enxugando os reais de volta. Na volta do parafuso, para cada dólar que entra, a contrapartida é um aumento da dívida pública, um desvio de poupança para financiar a dívida pública.



Agora, que a exuberância irracional dos mercados parece arrefecer, tente-se estimar quando essa farra trouxe de investimento produtivo para o país. Pouquíssima coisa. Para os ex-diretores do BC, tudo.