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EUA, para dividir AL, propõe parceria entre Brasil e Otan

O Brasil poderá estreitar a colaboração com a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e agir ao lado da organização como ator de uma ''parceria global'' – ao menos no que depender dos Estados Unidos. A idéia foi sugerida na sexta (24) em São P

Criada em 1949 para se contrapor ao avanço da União Soviética, a Otan conta hoje com 26 países-membros ligados por acordos militares de proteção mútua e ação conjunta.


 


Na palestra desta sexta na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo, Sobel disse que não há um modelo para uma parceria com o Brasil, mas citou como exemplos colaborações da Austrália e do Japão. ''Isso não significa trazer membros de fora do espaço euroatlântico para a aliança, mas facilitar a ação de uma Otan forte, que trabalha com parceiros globais.''


 


Fator Chávez


 


Apesar da falta de apoio dos EUA a parte das ambições brasileiras no cenário internacional – como uma cadeira permanente do país no Conselho de Segurança da ONU -, o embaixador afirmou que é hora de o Brasil agir globalmente. ''Há muitas democracias que já ajudam outros países e poderão expandir seu papel. A questão é assumir uma responsabilidade global, como a que o Brasil tem no Haiti [onde lidera a missão das Nações Unidas].''


 


Na avaliação de Peter Hakim, presidente do grupo de pesquisas Inter-American Dialogue (diálogo interamericano), a fala de Sobel tem valor mais político do que estratégico. ''Os EUA certamente buscam boas relações com o Brasil, que é visto como alternativa à influência da Venezuela. Mas não vejo nenhuma possibilidade de uma aliança militar entre o Brasil e Otan'', afirmou Hakim.


 


Já Jorge Zaverucha, coordenador do Núcleo de Estudos de Instituições Coercitivas (NIC) da Universidade Federal de Pernambuco, disse que a proposta de colaboração está ligada ao ''fator Chávez''. ''Os EUA vêem que há uma corrida armamentista na Venezuela e tentam atrair o Brasil para se contrapor a este avanço.'' Ele destacou que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, tem um projeto de poder para o continente, o que seria visto na proposta de alteração do nome do Exército venezuelano para Exército Bolivariano. Nesse contexto, ''o Brasil pode ser seduzido com parcerias de treinamento militar com a Otan''.


 


Presente na palestra ontem, o ex-embaixador brasileiro em Londres, Sérgio Amaral, afirmou que é preciso estudar a proposta de Sobel. Ele defendeu, porém, que as relações do Brasil com os EUA vêm melhorando ao lado da deterioração das relações dentro da América Latina. ''[O presidente da Bolívia], Evo Morales, jogou na lata do lixo o mais promissor setor de integração da América do sul -o energético-, e Chávez desencadeou uma corrida armamentista sem precedentes.''


 


A opinião do embaixador, uma das viúvas de FHC, reflete bem o espírito da proposta de Sobel, tentar seduzir o Brasil para barrar o crescente processo de unidade que vem se construindo no continente, em especial entre Brasil Bolívia e Venezuela.


 


Índia e China


 


Além da parceria global, Sobel abordou as relações comerciais americanas com o Brasil e a ''necessidade de união em face do avanço da China e da Índia'' – Washington vem pressionando os chineses a permitir a valorização de sua moeda, de modo a reduzir seu superávit no comércio com os EUA.


 


''A China está atraindo US$ 1 bilhão em investimentos por semana. Precisamos trabalhar para criar aqui no hemisfério ocidental um sistema comercial aberto, justo, previsível e transparente.''


 


Em resposta a Sobel, Rubens Ricupero, ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, criticou a posição comercial americana. ''O último projeto para a agricultura da Câmara dos Representantes dos EUA é um retrocesso e devolveria todos os subsídios contra os quais o Brasil lutou na Organização Mundial do Comércio'', disse.


 


Sob bandeira da ONU


 


Por meio de seu porta-voz, o embaixador Ricardo Neiva Tavares, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, comentou que o Brasil tem por tradição participar de missões apenas sob bandeira das Nações Unidas.


 


''Pretende continuar assim'', disse o porta-voz, que lembrou, como fez antes o embaixador dos Estados Unidos, o comando da missão no Haiti, mas também o papel desempenhado no Timor Leste.


 


Na América do Sul, a Argentina foi admitida como ''aliada extra-Otan'' da organização, em 1997, no governo Menem.


 


Enquanto Sobel vomita o receituário belicista de Bush para o Brasil, o Ministério das Relações Exteriores resiste a pressões e mantém postura altiva na construção de um bloco latino-americano e também de um bloco sul-sul que faça frente ao unilateralismo norte-americano.


 


Fonte: Da redação com informações da Folha de S.P