''Urubus'' da grande imprensa buscam ''réus' no congresso do PT
''Lá vão os urubus''. Esta frase, dita ontem (31) por um petista quando a imprensa cercava o deputado José Genoíno durante o 3º Congresso do PT, retrata a irritação dos militantes da legenda com a grande imprensa. Não é para menos. A quase totalidade d
Publicado 01/09/2007 09:15
No saguão de entrada do Centro de Exposições Imigrantes, onde acontece até amanhã o 3º Congresso Nacional do PT, jornalistas da Globo, SBT, CBN, Folha de S. Paulo, Estadão, Reuters, Rádio Eldorado e vários outros se concentravam à espera de suas ''vítimas'', mostrando que se o ''mensalão'' não está na pauta prioritária do Congresso petista, pior para o congresso, pois esta é a pauta prioritária da grande imprensa.
Passaram pelo local, sem serem sequer notados pelos jornalistas, diversos senadores, deputados, governadores e membros da executiva nacional do PT. Mas bastou a chegada do deputado José Genoíno –que agora responde a processo no Supremo Tribunal Federal– para que um grande agito tomasse conta dos profissionais da mídia ali presentes. Diante do alvoroço dos jornalistas, um militante petista observou: ''Lá vão os urubus''.
Genoino foi bombardeado com perguntas sobre o caso do ''mensalão'' e, visivelmente incomodado com o assédio da imprensa, deu respostas protocolares, deixando os jornalistas sem a ''manchete'' que desejavam.
O mesmo cerco se formou em torno de outros petistas que também foram envolvidos na denúncia apresentada pela Procuradoria Geral da República, como os deputados João Paulo Cunha e o ex-ministro José Dirceu.
Dirceu só escapou de um cerco mais pertubador porque o assédio dos militantes petistas que queriam cumprimentá-lo e tirar fotografias ao seu lado foi maior que o dos profissionais da mídia que o persegue.
''Gol''
Dentro do plenário, na área reservada à imprensa, percebia-se o frenesi dos jornalistas em busca de notícias sobre os ''mesaleiros''. A certa altura, um repórter do SBT perguntou se algum tinha visto o professor Luizinho –ex-deputado petista que também é réu no processo do STF– diante da resposta negativa, questionou sobre a presença de outros ''mensaleiros'' e, percebendo que não seria fácil encontrar sua ''presa'', recolheu-se sem dar importância para o que faziam ou falavam os outros 3 mil participantes do Congresso.
Os demais jornalistas que cobriam o evento para veículos da grande imprensa também ignoravam as sucessivas intervenções dos delegados sobre os temas debatidos no congresso. Mas bastava algum petista ocupar a tribuna para falar sobre a crise interna do partido que as atenções logo eram despertadas.
Um jornalista da Folha, que estava ao meu lado, vibrou e chegou a gesticular com os braços como quem comemora um gol, quando o ex-deputado federal Gilney Viana, do Mato Grosso, passou a fazer críticas mais ácidas contra os dirigentes petistas envolvidos no chamado ''esquema do mensalão''. As palavras de Viana foram logo anotadas pelos jornalistas presentes.
Aliás, é interessante observar como os repórteres de política da grande imprensa se relacionam bem, trocando informações e combinando a versão que darão aos ''fatos''.
Partido da imprensa
Entre os participantes do congresso que ocuparam a tribuna para defender as teses em debate, as críticas a este comportamento da imprensa eram constantes.
O deputado estadual José Guimarães (PT-CE) afirmou que o 3° Congresso Nacional do PT deve excluir da agenda de debates a ''intriga política e a futrica'', que alimentam a mídia. Para ele, esse é um dos pontos de discussão mais polêmicos do evento. “Não deixemos que o nosso Congresso seja contaminado com essa agenda negativa, pois não é isso que vai garantir a unidade do partido”, afirmou.
Para Guimarães, não é possível que um partido com quase um milhão de filiados não disponha de instrumentos de debate político e formulação. “A militância fica a reboque daquilo que a mídia quer, muitas vezes, fazer contra nós”, avaliou.
O secretário de Movimentos Populares do PT, Renato Simões, preferiu ironizar a imprensa que, “há mais de 25 anos, tenta entender a luta interna do PT e continua reduzindo e estigmatizando a riqueza da pluralidade petista”.
O ex-ministro da Saúde, Humberto Costa, também tocou no assunto e reclamou: ''quando abrimos os jornais, parece que eles (a grande imprensa) estão falando de outro congresso, não do congresso do PT''.
Não só na tribuna, mas também nos corredores do congresso, eram comuns as reclamações dos delegados petistas contra a perseguição da imprensa ao partido.
Renato Rabelo: democratizar os meios de comunicação
Mas foi um não petista quem fez a denúncia mais contundente contra os ataques da mídia à esquerda, ao governo Lula e particularmente ao PT. No ato político de abertura do congresso, na noite e ontem, o presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, enfatizou que dois desafios prioritários se colocam para os partidos de esquerda neste momento: a reforma política e a democratização dos meios de comunicação.
''Realmente, a liberdade de imprensa no Brasil está ameaçada. Ameaçada por uma mídia monopolizada que divulga sua versão dos fatos políticos, econômicos e sociais a partir de um pensamento único e de uma linha única e portanto isso é uma ameaça à liberdade de imprensa'', disse Renato.
O dirigente comunista defendeu a criação de uma rede pública de rádio e televisão ''que possa democratizar nossos meios de comunicação''.
''Estamos diante de uma luta política e ideológica de monta. Denunciamos, por que não somos ingênuos, que esta tentativa de crimalizar o PT e tentar atingir o governo Lula é uma jogada do maior partido da direita em nosso país, que é o partido da mídia. A tentativa deles é, através dos ataques ao PT, é atingir a esquerda, dizer que a esquerda não tem moral nem competência para governar. Querem desqualificar a esquerda e, quanto a isso, nossa solidariedade ao Partido dos Trabalhadores', completou Renato, sendo aplaudido pelos participantes do Congresso que, do plenário, puxaram a palavra de ordem ''O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo''.
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