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Fidel rechaça qualquer tipo de abertura neoliberal para Cuba

Em artigo publicado na última terça-feira (4) no jornal Granma, o líder cubano Fidel Castro rejeitou quaisquer tipos de mudanças neoliberais para a ilha, rechaçando especulações sobre possíveis reformas econômicas. No texto, Fidel qualifica os pr

Fidel também se posicionou contra a sociedade do consumo, que “não só é humilhante mas também destrutiva”, e observou que, para os defensores das idéias neoliberais, “o bloqueio a Cuba não existe, é uma invenção”. Ele também voltou a rejeitar os biocombustíveis e a produção de álcool a partir de cana-de-açúcar em Cuba – uma maneira, segundo ele, de manter o consumo dos ricos.



Confira abaixo a íntegra do texto:



Os super-revolucionários



Leio cuidadosamente, todos os dias, as opiniões sobre Cuba veiculadas pelos órgãos de imprensa tradicionais, incluindo os dos povos que formaram parte da URSS, os da República Popular da China e outros. Recebo notícias de órgãos da imprensa escrita da América Latina, Espanha e do resto da Europa.



O quadro está cada vez mais incerto, diante do temor de uma recessão prolongada com a dos anos que se seguiram a 1930. Em 22 de julho de 1944, o governo dos Estados Unidos recebeu os privilégios outorgados em Bretton Woods à potência militar mais poderosa: emitir o dólar como moeda internacional de câmbio. A economia dos EUA estava intacta depois da guerra, em 1945, e dispunha de quase 70% das reservas de ouro do mundo. Em 15 de agosto de 1971, Nixon decidiu unilateralmente suspender a garantia em ouro de cada dólar emitido. Com isso, financiou a matança do Vietnã, numa guerra que custou mais de 20 vezes o valor real das reservas em ouro remanescentes.


Desde então, a economia dos EUA se mantém à custa dos recursos naturais e das poupanças do resto do mundo.
A teoria do crescimento contínuo das inversões e do consumo, aplicada pelos mais desenvolvidos aos países em que a imensa maioria da população é pobre, rodeada por luxos e desperdícios de uma exígua minoria de ricos, não apenas é humilhante, mas também destrutiva. Esse saqueio e suas conseqüências desastrosas são a causa da crescente revolta dos povos, embora muito poucos conheçam a história dos fatos.



As inteligências mais dotadas e cultivadas são incluídas na lista dos recursos naturais e são tarifadas no mercado mundial de bens e serviços.



O que ocorre com os super-revolucionários da chamada extrema esquerda? Alguns o são por falta de realismo e o agradável prazer de sonhar coisas doces. Outros não têm nada de sonhadores, são especialistas no assunto; sabem o que dizem e para quê o dizem. É uma arapuca bem armada na qual não se deve cair. Eles reconhecem nossos avanços como quem concede esmolas. Será que realmente carecem de informações? Não. Posso assegurar que estão absolutamente bem informados. Em alguns casos, a suposta amizade com Cuba lhes permite estarem presentes em numerosas reuniões internacionais e conversar com quantas pessoas de fora do país possam desejar, sem sofrer qualquer obstáculo por parte de nosso vizinho imperial situado a apenas 145 quilômetros da costa cubana.



Que conselhos oferecem à Revolução? Veneno puro. As mais típicas fórmulas do neoliberalismo.



O bloqueio não existe, mais parece uma invenção cubana.



Eles subestimam a mais colossal tarefa da Revolução: sua obra educacional, o cultivo maciço das inteligências. Afirmam a necessidade de pessoas capazes de viver realizando trabalhos simples e rudes. Subestimam os resultados e exageram os gastos com investimentos científicos. Ou algo pior: ignoram o valor dos serviços de saúde que Cuba presta ao mundo, onde, na realidade, com recursos modestos, a Revolução põe a nu o sistema imposto pelo imperialismo, que carece de recursos humanos para levá-lo a cabo. Aconselham-se inversões ruinosas, e os serviços que oferecem, como o aluguel, são praticamente gratuitos. Se não tivessem detido a tempo as inversões no setor habitacional, teriam construído dezenas de milhares de casas sem mais recursos que a venda prévia das mesmas a estrangeiros residentes em Cuba ou no exterior. Ademais, eram empresas mistas regidas por outra legislação, criada para empresas produtivas. Não havia limites para os poderes dos compradores como proprietários.


O país forneceria os serviços a tais residentes ou usuários, serviços para os quais não se requer os conhecimentos de um cientista ou de um especialista em informática. Muitos dos alojamentos podiam ser adquiridos pelos órgãos de inteligência inimigos e seus aliados.



Não se pode prescindir de algumas empresas mistas, porque elas controlam mercados que são imprescindíveis. Mas tampouco se pode inundar o país de dinheiro sem vender sua soberania.



Os super-revolucionários que receitam tais remédios ignoram propositalmente outros recursos verdadeiramente decisivos para a economia, como a produção crescente de gás, que, já purificado, se converte em uma fonte inestimável de eletricidade sem prejudicar o meio ambiente, e que rende centenas de milhões de dólares a cada ano. Da revolução energética promovida por Cuba, de importância vital e decisiva para o mundo, não se pronuncia uma palavra. Eles chegam ainda mais longe: enxergam na produção de cana-de-açúcar, um cultivo que em Cuba era realizado com mão-de-obra semi-escrava, uma vantagem energética para a ilha, capaz de contrabalançar os altos preços do diesel desperdiçado livremente pelos automóveis dos Estados Unidos, Europa ocidental e outros países desenvolvidos. Estimula-se o instinto egoísta dos seres humanos, enquanto os preços dos alimentos duplicam e triplicam.



Ninguém tem sido mais crítico que eu de nossa própria obra revolucionária, mas ninguém jamais me verá esperar favores ou perdões do pior dos impérios.