Acanhada, atrevida, vivida ou donzela
O 2o Encontro Nacional de Cidadãs Posithivas levou a Salvador (BA) cerca de 200 mulheres de todas as cores, de várias idades, algumas de muitos amores, outras de poucos. Diferentes mulheres reunidas por um objetivo comum: viver bem com HIV/Aids. Elas v
Publicado 02/10/2007 15:38
“Alguns pensam que lutamos por questões individuais, mas precisamos que todos entendam que, na maioria das vezes, a mulher que tem HIV tem um marido e filhos com o mesmo problema. Além do fato de que, em geral, ela é pobre e vítima da desigualdade entre os sexos. Mas, apesar da dificuldade em sermos ouvidas, chegamos em Salvador para lutar por políticas públicas e divulgar a prevenção e fomos bem sucedidas. Um dos nossos maiores avanços foi a formalização de dois Núcleos de Cidadãs Posithivas – o das lésbicas e o das indígenas. Isso é muito importante para que as políticas públicas estejam atentas às necessidades específicas de cada uma delas.”
Janice Pizão, 48 anos, de Campianas (SP), é professora de História e fundou o Movimento de Cidadãs Posithivas e fez parte da comissão organizadora do 2o Encontro.
“Fui ao encontro em busca de congraçamento, solidariedade, afeto, informação e atualização. Eu queria conhecer outras mulheres que fazem a diferença por serem iguais na dor, além de reencontrar velhas amigas e voltei para casa revitalizada pela energia de todas elas. Descobri o HIV quando tinha 58 anos e vi que, para não morrer, tinha que me informar, estudar, enfrentar os medos e descobrir novas formas para viver bem e com dignidade. Isso só foi possível pela convivência com outras pessoas soropositivas. Hoje, posso levar uma vida normal como qualquer pessoa da minha idade: faço alongamento, caminho, danço, tenho uma boa alimentação, viajo, faço terapia mas, principalmente, me solidarizo e ajudo os outros portadores do HIV.”
Tetê ou Maria Teresinha Vilela Duarte, de 72 anos, é a cidadã posithiva de mais idade e mora em Maceió (AL), onde fundou o Núcleo de Cidadãs Posithivas do estado.
“Fui a Salvador buscar meu empoderamento como cidadã indígena. O Encontro me fortaleceu com novos conhecimentos. Até então eu, como indígena, não existia e de repente estava compartilhando minha experiência com mulheres de todo o país. Fundamos o Núcleo de Cidadãs Posithivas das indígenas e este é o começo de uma longa caminhada. Não podemos nos esconder: o anonimato nos faz ficar deprimidas e tristes. Viver é querer!”
Nívea Maria Queiroz e Pinho tem 34 anos e mora em Boa Vista (RO).
“Não fui ao primeiro dia do Encontro porque minha mãe não sabia se deixavam criança entrar. Fui nos outros três dias porque gosto de conversar sobre o HIV e nessas reuniões sempre aprendo um bocado de coisa. Acabei ganhando o título de Cidadã Mirim.”
Princesa da Bahia, a caçula do Movimento Cidadãs Posithivas, tem 10 anos e vive em Salvador (BA).
“Antes de conhecer o Movimento das Cidadãs Posithivas eu já tinha tentado fazer parte de alguns grupos de apoio, mas me deparei com pessoas que esperam ajuda da sociedade. Eu não sou assim, sou de correr atrás, e vi que se ficasse com eles ia acabar me enfraquecendo. Mas as Cidadãs são o que eu esperava: dão o anzol e não o peixe. Atualmente, luto para sustentar minha filha catando latas e papelão pelas ruas, mas estou também trabalhando num livro. Eu e uma amiga nos juntamos para escrever as histórias que escutamos nos ambulatórios de HIV. O livro vai se chamar `Nos corredores´ e queremos publicá-lo”.
Mãe da Princesa, 42 anos, vive de catar lata e papelão em Salvador (BA).