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Bancários: mídia ataca greve e CEF ameaça dissídio coletivo

Retratada pelos grandes veículos de informação como uma greve dividida e de pequeno alcançe, a greve nacional dos bancários está longe de merecer tal caracterização. Inicada nesta quarta (3), a greve chegou nos bancos públicos e não nos privados porque as

A ameaça de entrar com uma ação de dissídio coletivo no Tribunal Superior do Trabalho (TST) contra uma das maiores greves da história da categoria, com adesão de cerca de 85% dos trabalhadores, foi feita no final da noite desta quinta (4) em uma reunião entre a Executiva Nacional dos Empregados da Caixa e a direção da CEF em Brasíla.


 


Os trabalhadores, porém, afirmam que não aceitarão a ''chantagem'' da Caixa e prometem permanecer em greve até que o diálogo seja retomado pela empresa.


 


''A postura da CEF na reunião demonstrou, primeiro, uma chantagem para com o movimento na tentativa de arrefecer a greve e, segundo, uma posição a-histórica da empresa durante as negociações de greve, já que mesmo nos dois governos de FHC a categoria enfrentou apenas uma vez um dissídio coletivo. É um verdadeiro retrocesso'', denunciou ao Vermelho Augusto Vasconcelos, da Executiva Nacional dos Empregados da CEF.


 


Segundo Augusto, a ameaça da empresa não intimidou o movimento.


 


''Os trabalhadores não vão recuar da greve. Queremos manter o diálogo e já propomos uma nova reunião para a próxima segunda (8)'', declarou.


 


A direção da CEF, por outro lado, decidiu romper com a mesa de negociação e disse que só conversará com o bancários na Justiça.


 


Diante do impasse, os trabalhadores, em sua maioria os contratados mais recentes – principais atingidos pelas perdas da década de 90 – permanecem mobilizados em todo país com o objetivo de pressionar a empresa a voltar ao diálogo e à negociação.


 


Os bancários pedem reajuste salarial de 10,3% (que prevê aumento real de 5,5%), PLR (Participação nos Lucros e Resultados) de dois salários mais valor adicional de R$ 3.500, Piso salarial de R$ 1.628,24, plano de cargos em todos os bancos, pagamento de 14º salário, cesta-alimentação e auxílio-creche de R$ 380.


 


A bandeira específica da isonomia no plano de cargos e salários é uma das reivindicações mais destacadas pelos bancários da CEF.


 


Facetas da greve


 


O fato mais ignorado pela mídia sobre a greve diz respeito as diferenças nas negociações e seus reflexos em um país que abriga três diferentes tipos de bancos: os de capital público, privado e misto.


 


Para cada um destes setores econômicos há impactos diferenciados das negociações de uma greve. A proprosta da Fenaban (Federação Nacional dos Bancos) de um reajuste salarial de 5,2% para 6% (1,2% de ajuste real e 4,82% de inflação) – que se estende para as demais verbas salariais como vale-refeição e cesta-alimentação – contemplou os bancários do BB  que atingiram com ela reajuste salarial de 10,5% – índice acima da inflação e superior ao reivindicado de 10,3% da Contraf (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro).


 


Já para os bancários da CEF, a proposta da Fenaban não contempla as perdas salárias acumuladas, muito superiores as do BB. No caso dos bancos privados, se comparados aos bancos públicos, as perdas foram irrisórias.


 


É justamente por isso que os trabalhadores dos bancos privados não entraram em greve, os do BB entraram mas já saíram, e os da CEF permanecem na mobilização, mas não mais com a Fenaban, e sim com a direção da empresa.    
 


''Estamos pressionando a empresa porque enquanto a CEF teve rendimento superior ao 1º semestre de 2006 no início de 2007 – cerca de 1,7 milhões – a categoria continua acumulando as maiores perdas salarias do setor. Por isso queremos manter a mesa de negociação com CEF. A bandeira da isonomia para cargos e salários também serve para exemplicar o motivo de permanecermos em greve enquanto que os demais bancários já voltaram ao trabalho'', explicou Augusto.


 


Assim, a greve dos bancários nada tem a ver com a máxima de ''divisão'' na categoria propalada pela mídia, mas sim uma dinâmica própria que respeita as diferentes negociações num sistema finaceiro desigual.


 


Bastidores do movimento


 


Se por um lado não há divisão, por outro há – como em todo movimento social – disputas políticas. É se utilizando destas disputas que a mídia tenta desmoralizar a greve.


 


Segundo informações de lideranças do movimento sindical dos bancários, a Articulação Sindical (ArtiSind-PT), corrente majoritária na Contraf, vêm enfrentando duras críticas pelo seu sindicalismo de resultados. Há alguns anos a direção da Contraf, como ocorreu novamente nesta greve, propõe que a categoria aceite a proposta da Fenaban, mas é derrotada pela base que vota a favor da greve.


 


''A ArtiSind vem vivendo um momento complicado no movimento sindical. A CUT, que assim como a Contraf é majoritariamente dirigida por essa corrente, amargou a saída do PTSU, do P-SOl, e agora, mais recentemente, dos sindicalistas do PCdoB e do PSB que fundarão uma Central classista. No ano que vem acontecerão eleições de importantes sindicatos da categoria no país e momentos como esse são espaços valiosos destas disputas. O PSTU, ciente de tudo isso, tem repercutido a visão divisionista da mída sobre a greve na tentativa de culpar a direção da Contraf por qualquer derrota. Mas essa postura, na minha visão, prejudica a unidade da categoria'', frisou Augusto, que também é membro da Corrente Sindical Classista (CSC), força motora da futura nova central.


 


Independente do cenário do movimento sindical atual, a greve na CEF está surpreendendo até os mais experientes da categoria. A adesão em massa dos contratados mais recententes está oxigenado o movimento que agora terá de enfrentar um grande desafio: fazer com que o impasse da greve pese a favor de vitória para os trabalhadores públicos.


 


Se depender do Sindicato dos Bancários da Bahia, a luta segue com alegria. Augusto falou a redação enquanto acontecia uma “Feijoada com apitaço pela Isonomia” em frente a uma das principais agências da CEF no centro de Salvador.