Livro dá voz à paquistanesa condenada a estupro coletivo
A biografia Desonrada, lançada pela editora BestSeller, parte de uma história chocante. A jovem Mukhtar Mai – membro de uma casta inferior de sua tribo e filha analfabeta de um queijeiro paquistanês – conta em suas próprias palavras como se torno
Publicado 05/10/2007 17:50
Recolhido pela jornalista francesa Marie-Thérèse Cuny, especializada em direitos da mulher, o relato é chocante – uma história a um só tempo brutal e inspiradora. Desonrada já é apontado o símbolo mais poderoso surgido nos últimos anos da luta das mulheres contra toda forma de violência. Uma crítica do jornal The New York Times opinou: “Nenhuma outra mulher em todo o mundo combate com tanta coragem pelos direitos das mulheres”.
Em junho de 2002, o mundo ficou sabendo do caso. Sua sentença, decidida pelo conselho de sua tribo, visava punir a casta Gujjar pelo suposto envolvimento do irmão da jovem, um rapaz de 12 anos, com uma moça do clã Mastoi. A acusação era falsa. Embora não tenha sido nem o primeiro nem o último caso assim no Paquistão, desta vez foi diferente.
A maioria das mulheres submetidas a esse tipo de “justiça” no Paquistão comete suicídio. Mas a humilde e analfabeta Mukhtar optou pela vida e pela justiça de verdade. Decidiu reagir e, ao fazer isto, mudou os rumos do movimento de defesa das mulheres paquistanesas e chamou a atenção do mundo para o tratamento dispensado às mulheres de castas mais baixas no Paquistão.
A história de Mukhtar Mai foi ouvida por jornalistas e ativistas de toda parte, impressionados com um ato de coragem inédito num dos ambientes mais hostis ao direito da mulher na atualidade. Um mês depois da execução da sentença, sob os holofotes da imprensa mundial, o governo paquistanês concedeu a Mukhtar, num acordo histórico, o equivalente a US$ 8.500 de indenização.
Com o dinheiro, ela abriu uma escola para meninas, na tentativa de evitar que futuras gerações de mulheres cresçam analfabetas como ela e sejam vítimas indefesas de toda forma de barbárie. Em março de 2007, o Conselho Europeu outorgou a Mukhtar Mai o North-South Prize de 2006 por contribuição notável aos direitos humanos.
Mensagem
Em Desonrada, Mukthtar Mai relata a vivência de uma realidade feminina até pouco tempo distante dos olhos ocidentais. Acaba por se transformar em porta-voz da mudança no Paquistão e símbolo de esperança para todas as mulheres vítimas de violência no mundo.
“Eu tenho uma mensagem para as mulheres do mundo, todas as mulheres que foram estupradas ou foram vítimas de violência”, registra Mukthar Mai. “É preciso falar sobre o que houve, e lutar por justiça.”
Co-autora do livro, Marie-Thérèse Cuny é jornalista especializada em direitos humanos e direitos da mulher. Mora em Paris e já participou de mais de 50 livros. Com Desonrada, virou a terceira autora mais vendida na França.