Mundo tem dia de manifestações contra ditadura de Mianmar
Inúmeras manifestações reuniram 2 mil pessoas na Nova Zelândia, na Austrália e em vários países da Ásia e da Europa, além de estarem previstas outras nos Estados Unidos e no Canadá. Os protestos deste sábado (6) foram em resposta ao pedido da Anistia Inte
Publicado 06/10/2007 21:22
A primeira mobilização aconteceu na capital da Nova Zelândia – Wellington – com a presença de cerca de 500 pessoas. Os manifestantes estavam vestidos de vermelho, representando os monges que lideraram os protestos severamente reprimidos pela junta militar de Mianmar.
Na Austrália, centenas de pessoas responderam à convocação. Quase mil manifestantes saíram às ruas de Melbourne, com cartazes que exigiam o “fim do banho de sangue”. Andrew Beswick, responsável da Anistia na Austrália, pediu que se realizasse um embargo de armamentos para Mianmar.
Já no centro de Londres, milhares de pessoas — 3 mil de acordo com a polícia, 10 mil de acordo com os organizadores — marcharam, usando faixas vermelhas na cabeça respondendo ao chamado da Anistia Internacional e de várias organizações de defesa dos direitos humanos. Elas foram precedidas por um pequeno grupo de monges que recitavam orações budistas.
Na Ásia, dezenas de pessoas se reuniram diante da embaixada de Mianmar em Bangcoc, com fotografias da líder da oposição em Mianmar — a vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 1991 Aung San Suu Kyi. Em Nova Delhi, os manifestantes permaneceram em silêncio com velas nas mãos.
De volta à Europa, 400 pessoas se reuniram em Bruxelas, 200 em Viena, 150 em Estocolmo e uma centena em Genebra. Em Paris, 200 pessoas se reuniram perto da embaixada da China.
Em Washington, cem pessoas se reuniram diante da embaixada de Mianmar antes do início de uma passeata que seguiu até a representação diplomática da China. Em Montreal, o mesmo número de manifestantes se reuniu na entrada principal da Universidade McGill, ponto de partida de uma passeata silenciosa pelas ruas do centro da cidade.
A secretária geral da Anistia Internacional, Irene Khan, no site da organização, considerou as manifestações “necessárias para que se torne visível a pressão sobre as autoridades de Mianmar, de modo que interrompam os atos violentos, garantindo a segurança dos prisioneiros”.
Os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a França, os três membros ocidentais permanentes do Conselho de segurança da ONU, divulgaram na sexta-feira um projeto de declaração que condena “a repressão violenta” exercida contra os manifestantes pela junta militar de Mianmar.
Chance de diálogo
Uma janela para o diálogo entre os generais que detêm o poder em Mianmar e Aung San Suu Kyi parece ter sido entreaberta. Após informar o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre sua visita de quatro dias a Mianmar, o enviado especial Ibrahim Gambari disse ter visto uma “brecha de oportunidade” para possíveis negociações entre a junta e Suu Kyi, que recebeu Gambari duas vezes em Yangon, onde está sob prisão domiciliar.
“Das minhas conversas, ela parece muito ansiosa para estabelecer diálogo (desde que não existam pré-condições)”, disse Gambari. O general sênior Than Shwe — que ultrajou o mundo ao usar força militar contra manifestações pacíficas lideradas por monges — propôs diálogo direto caso Suu Kyi abandone o “confronto” e seu apoio às sanções e à “total devastação”.
Analistas de Mianmar advertem contra o otimismo. No passado, esperanças de mudança foram reprimidas repetidas vezes durante os 45 anos de domínio militar contínuo, pontuados pela morte de 3 mil pessoas pelo exército num levante em 1988. Dois anos depois, a Liga Nacional pela Democracia (LND) de Suu Kyi venceu as eleições com larga margem, mas os generais ignoraram o fato, e ela passou 12 dos últimos 18 anos na prisão.
O porta-voz da LND Nyan Win, que rejeitou inicialmente a oferta de Than Shew como irreal, disse no sábado que isso pode abrir uma oportunidade para falar sobre negociações. “Podemos dizer que é uma melhoria significativa em relação ao passado. Eles nunca se comprometeram a falar com ela”, disse Nyan Win.
Suu Kyi, de 62 anos, ainda não se pronunciou. Ela está confinada, sem acesso a telefone, e precisa de permissão oficial, raramente concedida, para receber visitas. No entanto, no que parece ser outra atitude com o objetivo de apaziguar a ira internacional, a televisão estatal transmitiu imagens raras de Suu Kyi pela primeira vez em quatro anos na noite de sexta feira.
O texto se referia a ela respeitosamente como “Daw Aung San Suu Kyi”, uma mudança da época em que o nome de seu pai, Aung San, era omitido para esconder a ligação dela com o herói da independência do país. No sábado, jornais oficiais citaram um oficial sênior da junta dizendo ao enviado do ONU que “grupos antigoverno devem se comprometer a ajustar suas políticas”.