Tribuna de Debates: Os ventos da grande política chegaram. E agora, PCdoB? (Gilvan Paiva)

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Em futuras décadas, pesquisadores e historiadores deverão se debruçar sobre as causas que levaram um Partido Comunista, no Brasil, crescer e incorporar, expressivas lideranças políticas em todos os estados e municípios, ampliando sua influencia política e sem perder suas convicções socialistas. Para contribuir no trabalho deles, eis uma breve anotação ou pista desse rico processo político de natureza histórica que hoje vivemos e, que alguns ainda não perceberam sua grandeza.


 


 


No Ceará, em menos de um ano o Partido passou a administrar sete prefeituras e ter mais de quarenta vereadores. Qual a chave desse crescimento? A vitória nas eleições de 2006 e a trajetória de posicionamento do Partido em diferentes eleições majoritárias (1996,2000,2004) em Fortaleza. Isso deu capital político e experiência. Sentindo, como diria os navegantes, a direção do vento, e sabendo ocupar espaço político neste profícuo período da vida brasileira, onde as forças populares experimentam a arte de governar o estado brasileiro, controlado historicamente por forças conservadoras e inimigas da democracia, que sempre excluíram a grande maioria da população de direitos sociais fundamentais.


 


 


O PCdoB compreendeu os desafios postos, enfrentou essa nova fase com ousadia, e entendeu que essa disputa é o que melhor simboliza para o povo, a disputa de poder. E não saiu de cena, entrou pela porta da frente da história. Ao se inserir no curso político e se posicionar junto às forças renovadoras e de esquerda, que chegaram ao governo com a vitoriosa eleição de Cid e Inácio, respectivamente governador e senador, abriu uma nova página na história dos comunistas cearenses.


 


 


Esse processo requer novas reflexões sobre o modo como o Partido faz política e quais os desafios e contradições existentes. O Partido passou a fazer parte da grande política e mesmo em municípios pequenos agora integra a cartografia do mundo político. Quais as conseqüências? Imediatamente deixou de ser uma força política ” clandestina” e é chamado a fazer política concreta, dento de uma realidade complexa. Governar e ao mesmo tempo investir no fortalecimento do PCdoB e dos movimentos sociais. Algo fácil? Não, embora possamos superar esse desafio. De que forma?


 


 


O PCdoB passa a ser gestor e aumentam as responsabilidades do Partido na busca de soluções para os problemas práticos da população. Há necessidade de conhecer em profundidade a questão da gestão pública, sua rotina de demandas e o difícil exercício de administrar para desiguais, buscando garantir a ampliação dos direitos da população empobrecida e sem cobertura social. Há necessidade de estreitar os vínculos com a população, fazer uma política de bom relacionamento com os funcionários públicos e construir lideranças respeitadas pela sua competência, habilidade política e postura democrática, que se afirma refutando a velha prática da tentação autoritária da “carteirada”, de querer governar pelo grito, ignorando a existência de procedimentos coletivos e individuais definidos pela administração.


 


 


O PCdoB precisa tomar iniciativa e participar do debate de criação e implementação das políticas publicas locais, que nessa fase de reestruturação do estado brasileiro, são instrumentos avançados que afirmam a cidadania e a inclusão social e em torno delas a população vai fazendo sua experiência política. Nossos mandatos parlamentares poderão certamente se fortalecer muito mais se todo o Partido contribuir na elaboração democrática e participativa dessas políticas.


 


 


É fundamental discutir os limites e perspectivas do estado brasileiro nas condições de hoje do capitalismo e perceber os novos espaços que surgem e que podem ampliar mais ainda nossa força e prepará-las para futuros embates, como o que se avizinha em 2008, essencial para manutenção de um projeto político avançado no planalto e no Brasil.


 


 


membro do Comitê Estadual do PCdoB/Ce