Mais polêmica: equipe explica o que 'Tropa de Elite' não é
Por Ravi Santana (Guia da Semana)
Enquanto Tropa de Elite surge como um dos maiores sucessos do cinema nacional dos últimos anos, uma polêmica se coloca sobre ele. Muitos o consideram a favor da tortura policial. A equipe, porém, tent
Publicado 15/10/2007 22:02
Wagner Moura, o Capitão Nascimento, deixa claro que é “muito primário você reduzir o olhar do realizador do filme com o do personagem”. Ele completa dizendo que “uma minoria tende a gostar dos policiais que torturam o bandido, acha que a solução da violência é que bandido bom é bandido morto, mas eu discordo”. O antropólogo Luis Eduardo Soares, autor do livro Elite da Tropa, que deu origem ao filme, revela que o propósito foi mostrar esta brutalidade, não apoiá-la.
José Padilha, o diretor, afirma que “os filmes que têm um pé na realidade deveriam vir com uma bibliografia, para que as pessoas possam ir além dele”, e sugere a leitura das obras de Jacqueline Muniz, Michel Misse, Alba Zaluar, além do próprio Soares. Caio Junqueira, que interpreta Neto, acredita que este é “um filme muito bem explicado que retrata uma verdade nua e crua do Rio de Janeiro”.
A forma que os realizadores usaram para mostrar como esta atitude dos policiais está errada foi o conflito interno de Nascimento. Soares diz existir “um contraponto interessante, em que o discurso autoritário, aparentemente impenetrável, é enunciado por um personagem fragilizado pela ansiedade e pela hesitação”.
Para ele, o personagem “é incapaz de enxergar além do horizonte que determina a sua própria circunstância”. Em uma analogia, o antropólogo afirma que “essa angústia se transmite como uma espécie de veneno que é sedutor como uma droga, e ao mesmo tempo é doloroso, produz sofrimento”. Assim, ele não consegue achar qualquer solução para a polícia que não seja “se omitir, se corromper ou ir para a guerra”, como diz o personagem.
Longe da solução
Entretanto, alguns críticos e espectadores, segundo a equipe, não conseguiram compreender esta mensagem, e acreditam que o filme se coloque a favor destas práticas. Muitos deles, apóiam a atitude dos personagens. Para Soares, no entanto, “o espectador que se identifica com o discurso autoritário percebe que algo não fecha” e que isto “acaba fazendo com que ele veja o filme de novo e de novo”, o que também ajuda no sucesso.
Para o ex-policial André Batista, co-autor de Elite da Tropa, e que inspirou o personagem Matias, “a violência é a falta do recurso policial”. Ele afirma que “nada do que está na tela não existiu, tudo ali é uma ficção possível”. Padilha teoriza que “a cultura da corporação policial tem a ver com o fenômeno que transforma miséria em violência” e Luis Eduardo completa que “essas polícias estão totalmente condenadas e não é possível mantê-las”.
Para todos, a solução do problema está distante, mas o primeiro passo não é tão difícil de ser dado. Segundo eles, o grande problema da violência está ligado ao fato de jovens de classe média financiarem o tráfico, mas “o consumidor só é responsável por tudo isso porque tem uma regra que criminaliza a droga”, afirma Soares.
Padilha insiste que, “se a gente mudar as regras, o fato não seria mais este”, já que como não há a legalização, “o usuário, ao fazer a escolha de comprar a droga, escolhe comprar de um criminoso”, e o diretor completa que “a idéia do filme é que este fato seja discutido”.
O interprete de Matias, André Ramiro, acredita que “violência não é a solução para nada, só gera mais violência”, e diz esperar que “as pessoas tenham a reação para melhorar”. Sobre toda a discussão, Caio Junqueira lembra a todos que Tropa de Elite “é um ponto de vista de um policial do Bope. Ele não levanta bandeira para nada”.
Conhecendo o lado dos policiais, e agora convivendo com acadêmicos que estudam a questão, Batista tenta não prever o que vem depois do filme, mas acha que “se no final dessa discussão toda, os governadores definirem um papel social maior para a polícia, ele já vai ter cumprido o objetivo”.