Massimo D'Alema: A Itália acredita na América Latina
Em artigo publicado nesta terça-feira (16) no jornal Folha de S.Paulo, o ministro das Relações Exteriores da Itália, Massimo D'Alema, comenta a política de seu país
em relação à América Latina, que, segundo ele, tem se empenhado em dar ao con
Publicado 16/10/2007 13:08
“A Itália está próxima da América Latina. Estamos unidos por raízes históricas e por afinidades culturais. Porém, nem sempre a política exterior italiana soube refletir de modo adequado essas interconexões. Por isso, o governo atual tem se empenhado, desde o primeiro momento, para dar à América Latina a prioridade que lhe compete.
É na continuidade e na coerência de nossas ações que nos asseguramos do pleno valor do papel da Itália na América Latina. Por esse motivo, depositamos grandes expectativas na 3ª Conferência Itália – América Latina e Caribe, que se inaugura em Roma com a participação de muitos países do continente latino-americano, de instituições financeiras e políticas regionais, como também de governos europeus e da Comissão Européia.
A Itália acredita na América Latina. E pretende demonstrar essa confiança de forma concreta. Atualmente, menos de 3% das nossas exportações são destinadas ao continente, e os nossos investimentos diretos não estão à altura das potencialidades dos mercados latino-americanos.
Estamos nos esforçando para criar novas oportunidades de colaboração.
Com esse espírito, queremos também valorizar mais a presença de tantos latino-americanos que vivem no nosso país. Desejamos consolidar em todo o continente um ciclo virtuoso de crescimento que promova o desenvolvimento humano e, para isso, estamos prontos a valorizar todas as oportunidades de colaboração.
A Itália tem muito a oferecer à América Latina. O suporte de uma economia forte e dinâmica: as nossas empresas podem fornecer contribuição importante para a ampla agenda infra-estrutural latino-americana. As pequenas e médias empresas e os distritos industriais e tecnológicos italianos: conjugam excelência produtiva e coesão social, podendo, assim, ser uma válida referência para a América Latina. A experiência da nossa atividade de cooperação: muitos projetos objetivam favorecer os processos de integração locais. A riqueza do patrimônio cultural e lingüístico italiano: multiplicam-se as oportunidades de colaboração nos setores da restauração e da tutela do patrimônio artístico, assim como entre universidades e centros de pesquisa, sobretudo os intercâmbios de estudantes.
Quero também recordar, com profundo afeto, os cidadãos italianos e de origem italiana que, vivendo na América Latina e no Caribe, fortalecem o tecido social de seus países de adoção.
A Itália procura o diálogo político com a América Latina. Tanto na sua própria ação, no plano nacional, como no âmbito da União Européia, somos determinados pelo desejo de reforçar a colaboração com todos os países latino-americanos. Com uma só e irrenunciável condição: o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais. É nossa intenção enfatizar o respeito ao Estado de Direito, a luta contra a pobreza e as desigualdades sociais e a ampliação da prática da democracia nas importantes escolhas políticas que determinam o futuro de cada país.
A Itália defende a integração regional latino-americana. Estamos confiantes de que as incertezas na realização de projetos mais ambiciosos serão superadas com renovado entusiasmo. Estamos convencidos, até pela nossa experiência na União Européia, de que somente por meio da integração política e econômica será possível enfrentar os desafios da globalização e favorecer o desenvolvimento socioeconômico.
A Itália sempre foi pioneira na promoção do diálogo e na aproximação da Europa com a América Latina, incentivando parcerias em curso e procurando estimular, entre parceiros, contatos que tenham sofrido alguma desaceleração. Nesse contexto, trabalhamos com satisfação e em profunda sintonia de intenções com Espanha e Portugal, os dois Países europeus que compartilham com a Itália profundos laços históricos e fecunda tradição de relações com a América Latina.
A Itália encoraja o papel internacional da América Latina. Devemos enfrentar juntos os desafios globais: afirmação do multilateralismo e da paz como valores universais, respeito pelos direitos humanos, empenho em favor da coesão social e da redução das desigualdades, ações comuns para enfrentar os riscos relacionados com a mudança climática, luta contra a droga e os tráficos ilícitos, firme oposição ao terrorismo, segurança energética, liberalização econômica multilateral.
Como disse Carlos Fuentes no ano passado no Instituto Ítalo Latino-Americano, “sem a Itália, nossa história estaria incompleta, e nossa cultura, privada de continuidade”. O mesmo pensamento pode ser aplicado à Itália em relação à América Latina.”
Massimo D'Alema , 58, é vice-primeiro-ministro e ministro das Relações Exteriores da Itália. Foi primeiro-ministro da Itália e presidente da Delegação Permanente do Parlamento Europeu para as relações entre a União Européia e o Mercosul. O Democratas da Esquerda (Democratici di Sinistra, DS) foi a principal força política de esquerda política na Itália e fez parte da coalizão Oliveira, que apóia o governo de Romano Prodi. Hoje o partido fundiu-se com outras forças da coalizão e formou o Partido Democrático, do qual D'Alema é seu presidente.