''PCdoB deve dar mais atenção à Ubes'', defende Ricardo Abreu
Em entrevista concedida por e-mail ao portal Vermelho, o secretário nacional de Juventude e de Movimentos Sociais e Populares do PCdoB, Ricardo Abreu, o “Alemão”, afirmou que o partido precisa aprender a equilibrar melhor a sua a
Publicado 16/10/2007 16:06
A iniciativa da Corrente Sindical Classista (CSC) – espaço de atuação dos comunistas no movimento sindical – de sair da CUT e fundar a Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB) também foi comentada por Alemão.
''[Com a CTB] Reforça-se a luta dos trabalhadores e a luta, em outras condições, pela unidade combativa do movimento sindical'', explicou.
Na opinião do dirigente comunista, o principal desafio dos movimentos socias brasileiros neste segundo semestre será a marcha das centrais sindicais do dia 5 de dezembro.
''É preciso destacar a mobilização unitária da CMS [Coordenação dos Movimentos Sociais] para o dia 5 de dezembro, em Brasília. Será uma marcha pelos direitos dos trabalhadores convocada pelas centrais sindicais'', sublinhou.
Além de destacar a atuação dos comunistas no movimento estudantil e sindical, Alemão também refletiu sobre o movimento dos fóruns sociais mundiais (FSM). Para ele, “o FSM está passando por uma certa crise de perspectiva, e para não declinar precisa atualizar-se.”
Alemão é uma figura que acumulou muito para o PCdoB sobre movimentos sociais e, em especial, sobre movimentos juvenis. Economista, 39 anos, ingressou no partido em 1986. Foi diretor da UNE entre 1989 e 1991 e presidente nacional da UJS (União da Juventude Socialista) – entidade onde se organizam os jovens comunistas – entre 1997 e 1998. Sua trajetória e experiência política acabou por levá-lo a assumir, em 2000, uma das frentes em que o partido obteve maior expressão nacional, a juventude, sendo eleito para o Comitê Central no 9º Congresso. Desde de 2003, ele acumula a secretaria de Juventude com a de Movimentos Sociais e Populares, tarefa ratificada no 11º Congresso do partido.
Leia abaixo a entrevista na íntegra.
Vermelho – Como você avalia a relação atual entre os movimentos sociais e o Governo Lula?
Alemão – É e deve continuar sendo uma relação de autonomia para lutar pelas mudanças e ao mesmo tempo resistir a qualquer retrocesso. Os movimentos sociais reunidos na Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), defendem o avanço nas conquistas populares sem nenhum direito a menos.
Vermelho – Qual o principal desafio para os movimentos sociais neste segundo semestre?
Alemão – Cada movimento tem a sua luta específica e a sua agenda de mobilização para este final de ano. É preciso destacar a mobilização unitária da CMS para o dia 5 de dezembro, em Brasília. Será uma marcha pelos direitos dos trabalhadores convocada pelas centrais sindicais.
Vermelho – A Ubes fará seu congresso agora em dezembro. O PCdoB está a frente da Ubes há algum tempo. Qual é a sua avaliação dessa participação na entidade?
Alemão – A Ubes completa 60 anos em 2008 e eu diria que na maior parte da história da entidade os jovens comunistas estiveram à frente das lutas e das diretorias. Essa participação dos comunistas deu-se sempre com uma concepção plural e democrática que garantiu e garante que a Ubes chegue a mais um congresso como a entidade unitária dos estudantes secundaristas brasileiros. O movimento secundarista é estratégico para a luta de nosso povo, por sua enorme capacidade de mobilização e por sua politização e combatividade.
O Partido está sendo chamado a apoiar de todas as formas a União da Juventude Socialista (UJS) em sua campanha para este 37º Congresso da Ubes. As etapas estaduais serão realizadas em novembro e a etapa nacional será de 6 a 9 de dezembro, em Goiânia. Temos priorizado o movimento universitário, e chegou a hora de maior equilíbrio, com atenção redobrada para o movimento secundarista.
Vermelho – Que desafios você acredita que a Ubes deve vencer nesta próxima gestão?
Alemão – Acredito que são três os principais desafios. O primeiro é engrandecer o papel do movimento secundarista nas mobilizações para impulsionar as mudanças. O segundo é desenvolver de maneira mais qualificada a luta pela educação pública. E o terceiro é fortalecer organizativamente o movimento secundarista.
Vermelho – O movimento secundarista sempre foi o grande responsável pela maior adesão dos jovens em mobilizações de rua. Há pouco tempo atrás, o movimento promoveu grandes manifestações em Florianópolis e Salvador pelo passe estudantil. Qual fator você vê como fundamental para que um novo ascenso de protestos estudantis ocorra?
Alemão – Um ascenso das lutas estudantis depende de condições objetivas, não acontece quando a gente quer. Mas também é verdade que as lideranças do movimento precisam levantar as bandeiras certas na hora certa, e para isso devem estar permanentemente sintonizadas com a situação política e sentindo o pulso do movimento na base. Para uma grande mobilização acontecer às vezes é necessário que muitas pequenas manifestações aconteçam. Persistência e confiança na capacidade de luta dos estudantes são fundamentais.
Vermelho – O TSE divulgou que lançará uma campanha nacional pela retirada de títulos eleitorais para a juventude de 16 e 17 anos. A medida foi uma resposta a baixa nos números de títulos no ano de 2007 nesta faixa etária. Qual a parcela de responsabilidade da Ubes para fazer com que a juventude volte a participar da política?
Alemão – A juventude participa da política, poder é participar mais ativamente. A alta na retirada de títulos em anos eleitorais e a baixa nos outros anos é normal. E todo o apoio à decisão do TSE de lançar a campanha antecipadamente. A Ubes faz esta campanha a cada dois anos, nos anos eleitorais. A conquista do voto aos 16 anos é uma das maiores vitórias da UJS das organizações estudantis e juvenis nos últimos vinte anos.
Vermelho – Na sua avaliação, o que muda nos movimentos e no país com a criação da Central do Trabalhadores do Brasil (CTB)?
Alemão – Reforça-se a luta dos trabalhadores e a luta, em outras condições, pela unidade combativa do movimento sindical.
Vermelho – Você disse no documentário de Leo Brant, “Serenata Diurna” que o movimento dos fóruns sociais mundiais está em declínio. Por quê?
Alemão – Não penso que o Fórum Social Mundial (FSM) está em declínio. Pelo contrário, até agora ele só ascendeu, e esse é o problema. O FSM está passando por uma certa crise de perspectiva, e para não declinar precisa atualizar-se, isto é, refletir a nova realidade da luta antiimperialista em nível mundial e especialmente na América Latina.