Bahia constrói um cenário econômico favorável ao crescimento do emprego
O número recorde de empregos formais gerados na Bahia nos oito primeiros meses deste ano não é um fenômeno isolado, analisa o secretário do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte, Nilton Vasconcelos. Dados do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged)
Publicado 26/10/2007 21:28 | Editado 04/03/2020 16:21
P – Como o Sr. analisa esse desempenho?
Resposta – É resultado da variação de emprego com grande homogeneidade entre os diversos setores da atividade econômica. Isso se verifica na construção civil, no comércio varejista, na indústria, na agropecuária e nos serviços, que apresentam uma variação bastante positiva.
P – A que o Sr. atribui o crescimento do emprego formal este ano na Bahia?
R – Essa oferta não foi gerada por um fator extraordinário. E o melhor, é que há uma perspectiva de que o quadro se mantenha.
P – O que deflagrou isso?
R – O primeiro dado fundamental está relacionado à política macroeconômica. Se não tivéssemos estabilidade econômica, segurança para investimento, balança comercial bastante positiva e a perspectiva de uma taxa de crescimento de 5% ao ano, isso não aconteceria. No Estado, podemos destacar a recuperação do consumo por conta do Bolsa-Família, que destinou R$1,5 bilhão à Bahia -Estado com maior número de famílias beneficiadas-, o que por si só ativa a economia. O segundo fator é o maior poder de compra do salário mínimo.
P – Por que isso teria importância tão grande na Bahia?
R – Porque, tradicionalmente, aqui os salários são muito achatados. Confirma essa análise o fato de que o comércio varejista cresce há 44 meses ininterruptamente. Isso confirma que temos sim o fator renda ligado ao Bolsa-Família e ao salário mínimo. O incremento do crédito consignado barato, para o aposentado e o servidor público, também contribui para isso. Esse conjunto de fatores aumenta a renda e, naturalmente, incrementa o consumo.
P – Qual a participação da construção civil na geração de empregos formais?
R – Há uma indicação de que houve um crescimento de 44% na oferta de imóveis. Na semana passada a imprensa noticiou que o setor imobiliário vendeu 79% mais imóveis do que no mesmo período de 2006. Os dados do Caged mostram uma intensa movimentação de mão-de-obra justamente nos setores da construção civil, comércio varejista, serviços e agropecuária.
P – Todos os fatores que o Sr. citou estão, de uma maneira ou de outra, relacionados às políticas do Governo Federal. E em nível estadual, o que pode ter influenciado os números positivos?
R – Primeiro, as atividades relacionadas com a construção civil, a exemplo do Programa Luz para Todos, a recuperação de estradas e a construção de pontes. Além de fatores subjetivos, como a expectativa de crescimento da economia baiana. O próprio esforço que o Governo Jaques Wagner vem fazendo leva o setor produtivo a investir. O anúncio de construção da Ferrovia Leste-Oeste, a duplicação da BR-324 e a recuperação da BR-116, obras de grande impacto, gera muita expectativa.
P – Como fica a questão da qualificação profissional com o aquecimento da atividade econômica?
R – Nós estamos muito preocupados com a dificuldade de atender a essa demanda de pessoal qualificado. E esse dado é objetivo. No Sistema Nacional de Emprego (Sine) temos vagas e não conseguimos pessoal qualificado em vários segmentos. Daí a importância da proposta de emenda parlamentar visando obtenção de recursos para qualificação. Caso a emenda seja aprovada, os recursos de quase R$ 40 milhões vão possibilitar a qualificação de 55 mil trabalhadores. Se não houver investimento em qualificação, nós teremos problemas. Isso já está acontecendo e vai agravar cada vez mais. O Programa Luz para Todos não faz mais porque não tem eletricistas, nem empresas para tocar as obras. A Petrobras tem nos alertado que está tendo dificuldades de contratação através de fornecedores, não diretamente. A avaliação da nossa mão-de-obra é positiva, segundo o setor empresarial, mas corremos o risco de um “apagão” de qualificação profissional. Diariamente, o Sine registra 400 vagas não preenchidas em Salvador. Por isso temos que andar rápido. Nossa previsão é a qualificação de 22 mil trabalhadores, incluindo os participantes do Juventude Cidadã e Escola de Fábrica. Isso ainda é pouco diante das necessidades impostas pelo crescimento econômico.
P – O que fazer para superar essa situação?
R – Além da proposta de emenda parlamentar de R$ 40 milhões, também temos garantido que os recursos, em 2008, para o Pró-Jovem Trabalhador serão de R$ 550 milhões em nível nacional, e esperamos que a Bahia tenha uma parcela significativa. Outra forma de superação é ter maior efetividade, concentrando mais a qualificação na demanda que o mercado está indicando, e estimular o cooperativismo, o empreendedorismo, para ter um espaço institucional mais propício ao pequeno emprego. Precisamos trabalhar ainda para que a Bahia seja um Estado amigo da pequena empresa, o que significa obter grau maior de formalização. Como o governador Jaques Wagner tem reafirmado, o importante não é gerar qualquer emprego, e sim gerar emprego decente.
P – Em relação ao mercado informal, a tendência também é de crescimento?
R – Se o mercado formal cresce, o informal também cresce. O mercado informal tem a característica da sazonalidade. Em época de festas -São João, Carnaval, Natal, entre outras- cresce a oferta de trabalho. É importante lembrar que quanto mais informal a relação da empresa com os seus trabalhadores, mais precário é o emprego. Não se trata de perseguir o mercado informal, mas estimular a formalização de maneira que a empresa possa se beneficiar, e não para se tornar um fator de estrangulamento.