Em defesa da tortura: os editoriais do 'Wall Street Journal'
Por Mike Whitney (CounterPunch)
A página editorial do Wall Street Journal é a fonte do fanatismo ideológico da extrema-direita dos Estados Unidos. Não é um fórum de debate aberto mas um viveiro de idéias tóxicas que subvertem as insti
Publicado 06/11/2007 19:47
Normalmente, os artigos abordam as duas questões de extrema importância para os conservadores: a guerra e os impostos. É admirável como se pode variar tanto sobre temas tão vulgares.
Os conservadores desconfiam, naturalmente, das idéias – por isso criaram uma plataforma onde podem exprimir as suas visões reacionárias num palavreado com laivos acadêmicos, sem fazerem qualquer tentativa digna desse nome para se atualizarem em política social.
Aparentemente, há uma reserva infinita de fanáticos da “supply side” do tempo de Reagan e enfatuados think-tanks sempre ansiosos por promover a assunto do dia, o que quer que seja. Recorrendo a celebridades da extrema-direita como estandarte, o WSJ é capaz de elevar os argumentos mais vulgares e desprovidos de sentido ao um nível da respeitabilidade. Tem um objetivo – fazer com que o chauvinismo mais empedernido e surja como política esclarecida.
Normalmente os editoriais tomam como alvo qualquer regulamento que coloque entraves à indústria ou qualquer lei que proteja o cidadão. A seleção dos artigos é feita como se estes fossem se destinassem a um grupo restrito de mandarins corporativos com uma visão semelhante de “como o mundo devia ser organizado.
Por outras palavras, é uma “câmara de eco” para a classe dos investidores. Aí está o motivo por que os liberais deveriam prestar-lhe atenção. Os homens que atualmente dirigem o mundo não têm medo de revelar o que pensam do comum dos mortais. Será que essa descoberta não vale o preço do jornal?
Arrancar olhos?
Nos últimos dias o WSJ publicou artigos a defender a Exxon contra a multa de US$ 2,5 milhões a que foi condenada pelo Tribunal de Recurso do Nono Circulo por uma fuga de petróleo massiva no Alasca, ocorrida há cerca de duas décadas. Publicaram também uma fastidiosa defesa do juiz, Robert Bork, alegadamente vítima de uma caça às bruxas da esquerda.
Escarrapacharam ainda uma arenga jurídica em defesa dos Marines envolvidos na “orgia de sangue” em Haditha; um texto promocional das extorsões do Banco Mundial; um emocionado pedido para “Salvar os cortes fiscais de Bush” e, naturalmente, uma tese com 1.500 palavras (o máximo permitido) sobre por que “A vitória está ao nosso alcance no Iraque”, escrito pelo lunático neoconservador Michael Ledeen.
Na segunda-feira, 22 de outubro, o WSJ publicou um artigo de David Rivkin, Getting Serious about Torture, que, essencialmente, defende um tratamento “cruel, desumano e degradante” para os suspeitos de terrorismo destacando a ordem relativa destas palavras. (Não é estranho que as questões alusivas à tortura nunca tenha aparecido antes da posse de Bush?).
Como disse Rivkin: “As palavras cruel, desumano e degradante, um método peculiar de interrogatório, chocarem ou não a consciência de cada um depende das circunstâncias”. Claro que, para David tudo relativo, não é verdade? E se arrancássemos olhos, também estaria correto?
O inimigo a US$ 1
Lembram-se de quando os conservadores utilizaram o refrão contra o “relativismo moral”? Então, parecia uma questão de princípio. Hoje vemos que era apenas uma postura vazia de conteúdo.
No final do artigo, Rivkin recorda-nos que “não há almoços grátis: os interrogatórios coercivos têm sido a chave que impede os ataques em solo norte-americano depois do 11 de Setembro”. A mim tudo isto me soa a uma fogosa defesa da tortura. Será que me esqueci de alguma coisa?
Nenhuma teoria é demasiado louca ou obscena para a página editorial do WSJ, desde que se enquadre na tendência para a extrema-direita dos seus leitores. Por US$ 1 apenas, qualquer pessoa pode estar no campo do inimigo a ouvi-lo. Parece-me um bom negócio.
Fonte: ODiário.info