Sem categoria

Massa salarial tem aumento recorde ao longo de 2006

O mercado de trabalho brasileiro está mais qualificado, paga salários melhores e tem empregado trabalhadores mais experientes – os mais velhos e com maior tempo de estudo. Esse cenário, atrelado à política de valorização do salário mínimo e à inflação em

Em termos absolutos, foram os trabalhadores com 30 a 39 anos que mais se beneficiaram do crescimento do emprego com carteira assinada, ficando com 482,7 mil do total de 1,9 milhão de vagas geradas em 2006. Já a maior variação relativa ficou na faixa etária que vai de 50 a 64 anos, na qual o emprego subiu 9,77%. Isso pode ser explicado pela maior qualificação dessas pessoas.



Os dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), divulgada nesta quinta-feira (22) pelo Ministério do Trabalho, mostram, assim como outras pesquisas sobre mercado de trabalho, que só os mais qualificados têm chances de obter um emprego. “Como os níveis de escolaridade cresceram no país, é natural que a exigência em relação à qualificação também cresça”, explica João Saboia, diretor-geral do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).



Em 2006, segundo a Rais, 68% das vagas criadas ficaram para quem tem pelo menos o ensino médio completo. Para quem não tem estudo ou não chegou a completar a oitava série do ensino fundamental só se fecham vagas. Isso significa que há mais gente sem qualificação sendo demitida do que admitida no mercado de trabalho.



Uma novidade nos dados da Rais é que também as pessoas mais qualificadas tiveram aumentos de salários acima da média do trabalhador brasileiro. Antes, o que se via era um crescimento da renda sempre mais forte para a parte mais pobre e menos qualificada da população e um achatamento dos maiores salários. Isso também aconteceu em 2006, ano em que a remuneração média dos analfabetos subiu 9,77%, mas foi acompanhada por uma alta de 7,21% nos salários de quem concluiu a universidade, acima dos 5,86% verificados para o média dos trabalhadores. Já aqueles que têm uma qualificação mediana, como o ensino médio completo, tiveram aumento menos robusto nos rendimentos, de 4,1%, por exemplo.



Oferta e demanda


 


Para Carlos Henrique Corseuil, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o maior aumento dos rendimentos dos mais qualificados é explicado pela lei da oferta e da demanda. O crescimento econômico, segundo ele, passou a exigir uma mão-de-obra mais qualificada. Como não há tanta gente assim no mercado de trabalho, o preço do trabalhador especializado aumentou. “As empresas estão disputando essa mão-de-obra”, explica Corseuil.



Uma consequência negativa da alta dos salários dos mais qualificados, que têm os maiores rendimentos, seria uma maior desigualdade social. No entanto, como o salário dos sem qualificação também está crescendo, esse efeito tende a ser diluído. E como explicar o crescimento forte da renda dos analfabetos e dos que não completaram nem a quarta-série? “Salário mínimo”, responde o pesquisador. Em 2006, esse salário foi reajustado em 16,7%, um aumento real de 12%, número próximo, por exemplo, da alta de 9,8% na remuneração média dos trabalhadores analfabetos.



Outro destaque é a maior inserção das mulheres. O emprego para elas cresceu 6,59%, acima do 5,21% da força masculina. Carlos Lupi, ministro do Trabalho, destacou o aumento na formalização. Tomando dados da Pesquisa Anual de Amostra por Domicílio (Pnad), em 2005 os ocupados nos setores formal e informal somavam 87,2 milhões, onde cerca de 38% eram contratados. Em 2006, esse universo cresceu para 89 milhões (estimativa da Pnad), elevando os empregos formais para 40%.



Lupi disse que sabia que o dado da Rais seria positivo, mas que não imaginava que “seria tão positivo”. Ele projeta que neste ano sejam geradas 2,2 milhões de vagas formais. “O país está num ciclo irreversível de crescimento.” Corseuil, do Ipea, não tem tanta certeza sobre isso. “Estamos crescendo. Mas será que em algum momento as empresas não vão esbarrar na falta de mão-de-obra qualificada?”, questiona.



Fonte: Valor Econômico