Sem categoria

O risco- internet: por que desconfiam tanto da Wikipédia?

Por Carlos Castilho
E não é só a enciclopédia virtual que está na berlinda em matéria de credibilidade em produtos informativos na internet. Quase todos os projetos baseados na produção coletiva de informações também são questionados fortemente, alimen

É que os novos sistemas digitais mexem com valores e com atitudes relacionadas à forma como as pessoas decidem no que vão acreditar. As pessoas sentem-se incomodadas na discussão sobre credibilidade da Wikipédia porque a veracidade, confiança e exatidão das informações publicadas pela enciclopédia virtual obedecem ao que os especialistas chamam de lógica probabilística, baseada em cálculos estatísticos.


 


Esta lógica não estabelece o que é certo ou errado, mas o que pode estar mais próximo ou mais longe da verdade, sem nunca chegar até ela. A probabilidade é apenas um cálculo que nos permite identificar possibilidades dentro da avalancha informativa gerada pela internet.


 


A massa de dados disponíveis hoje na Web ultrapassou em muito a capacidade processadora dos cérebros humanos. O progresso impôs o uso do cálculo eletrônico como única alternativa, provocando uma mudança radical de paradigmas.


 


Por gerações e gerações nossa sociedade foi educada para acreditar numa certificação de credibilidade conferida por pessoas de notório saber ou por instituições como a Igreja, as bibliotecas, os intelectuais e as universidades, tidas como guardiãs do conhecimento universal.


 


Esta mudança de modelo de certificação trouxe como conseqüência uma situação em que as leis da probabilidade sacrificam a exatidão em escala micro para otimizar os macro-resultados. Trocando em miúdos e pensando na Wikipédia, isto significa que hoje sabemos muito mais sobre muitas coisas, mas quando examinamos com lupa cada informação, é possível que muitas apresentem erros.


 


É o preço que pagamos para ter a nossa disposição quase 1 milhão de textos na Wikipédia enquanto a Enciclopédia Britânica mal chega aos 100 mil. O mesmo processo acontece nos weblogs. No seu conjunto eles publicam um volume de notícias e informações superior ao da imprensa convencional.


 


Vistos globalmente, eles apresentam um índice de exatidão, atualidade, diversidade e contextualização muito maior do que o dos jornais e a televisão, por exemplo. Mas se formos examinar individualmente os blogs, as frustrações e desilusões informativas podem ser grandes.


 


Até agora, a Britânica e as publicações acadêmicas eram a parada final na busca por informações confiáveis. Hoje, os hábitos informativos estão mudando rapidamente, pois tanto a Wikipédia e como os blogs são considerados apenas o primeiro passo. Cada vez mais se consolida a procura da diversificação de fontes como a melhor receita para evitar o erro.


 


Os sistemas baseados em probabilidade estatística não são novos. A economia capitalista os utiliza intensivamente, desde que Adam Smith escreveu sobre o comportamento dos mercados consumidores. Charles Darwin também usou a probabilidade para estudar a evolução das espécies.


 


As bolsas de valores e a indústria cinematográfica de Hollywood adotam a lógica probabilística dos chamados mercados de previsão para antecipar tendências. Todos os sistemas de loterias apóiam-se na estatística e os advogados usam a fórmula probabilística do Teorema de Condorcet para prever o comportamento dos membros do júri em tribunais.


 


A informação está entrando também na era da probabilidade.


 


Na verdade o que mais perturba as pessoas é o fato de que estamos saindo de uma era onde acreditávamos ter certezas absolutas para outra onde predominam as verdades relativas. Isto nos transmite uma sensação de insegurança, que é bastante incômoda e exige um esforço de adaptação. É desconfortável acostumar-se a saber que sempre existe margem para dúvida, até mesmo em questões físicas, como o ponto de ebulição da água. Quanto mais quando se trata de informação jornalística.