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Luis Nassif: a CPMF e a pequenez

A derrota do governo, no episódio da renovação da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) traz inúmeras lições. A primeira é sobre a excepcional falta de criatividade e de desprendimento nos momentos de grandes impasses. O governo

O impasse poderia ter permitido inúmeras saídas consensuais, que ajudassem a aplacar o radicalismo das próximas eleições e passassem à opinião pública uma imagem mais produtiva dos partidos políticos. A aprovação poderia ser amarrada ao compromisso formal de redução dos encargos trabalhistas. Ou à redução de outros tributos terríveis, como o Pis-Cofins, amarrado à melhoria da arrecadação federal. Poderia ter significado garantia de recursos à saúde e tudo o mais. Nada a oposição propôs; com nada o governo se comprometeu. Sobreveio o impasse.



A segunda consequência será a precipitação dos embates internos no PSDB. Único partido com condições de enfrentar o PT nas próximas eleições, o PSDB é um tucano partido ao meio. Em tempos de paz, os verdadeiros comandantes do partido são os governadores. Por várias razões interessa a eles conviver pacificamente com o governo federal. Primeiro, pela perspectiva de colaboração, que deve marcar um país federativo. Depois, para não ter que enfrentar um líder carismático como Lula, em uma eleição polarizada. Finalmente, para não herdar um país conflagrado, em caso de vitória.



Na outra ponta, estão os ex, ex-presidente como Fernando Henrique Cardoso, ou senadores de futuro político incerto, como esse truculento Arthur Virgílio. Eles só crescem em ambiente de guerra. A FHC interessa a guerra para ampliar seu espaço no PSDB e interessa que o governo Lula afunde, pois só assim – pelo efeito-comparação – poderia aspirar um julgamento mais benevolente da história para seu governo.



Comentários



Ao contrário de outros ex-presidentes, como Itamar Franco, José Sarney e Fernando Collor, FHC é um ex dotado de nenhuma grandeza, de nenhuma responsabilidade cívica. Serra e Aécio estão aguardando para se posicionar mais perto das eleições. Correm o risco de herdar um partido exangüe. Se a CPMF não for restaurada, cada problema do governo Lula, cada investimento que deixar de ser feito, cada piora nas áreas sociais terá responsáveis diretos: o PSDB, seus senadores e FHC. Havia receio de que a aprovação da CPMF pavimentasse o sucesso do governo Lula. Agora, qualquer fracasso terá um responsável direto: a oposição.



Os ecos dessa votação serão ampliados com o tempo. Ajudará a reforçar o discurso de que o governo Lula está sendo vítima de uma “conspiração das elites” – apesar da verdadeira elite, o mercado financeiro, nunca ter ganhado tanto. De qualquer modo, saem divididos o país, a oposição e qualquer veleidade da opinião pública sobre a qualidade dos nossos homens públicos.



CPMF e Selic



Em qualquer economia racional, a derrubada da CPMF levaria o Banco Central a reconsiderar a questão da taxa Selic, que define o patamar de remuneração dos títulos públicos. Se a carga de juros já era elevadíssima, com o corte da CPMF a necessidade de superávit primário aumentará mais ainda.



Cautela



Entretanto, os integrantes do Copom afirmam que pressões inflacionárias podem comprometer o ritmo da taxa no país, o que justificou a manutenção dos juros em 11,25% na última reunião. O documento também pontua preocupações com a atividade econômica e o consumo , e em adequar oferta e demanda.



Armadilha do dólar



O FED (Federal Reserve, o Banco Central americano) continua na berlinda. Esta semana precisou reduzir em 0,25 ponto a taxa básica de juros. A razão era prevenir o desaquecimento da economia. Com a redução dos juros, o preço do petróleo aumenta. Quinta-feira, tiveram a maior alta desde agosto de 1973.



Melhor colocado



O Brasil subiu para a sexta colocação entre os 25 países mais atraentes para o investimento externo, segundo levantamento divulgado pela consultoria A.T.Kearney. A China continua na liderança do ranking, seguida da Índia, enquanto a Rússia aparece na nona colocação. O México está na 19ª posição.