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Para Lula, senadores derrubaram CPMF porque não usam o SUS

''Certamente, as pessoas que votaram contra (a prorrogação da CPMF) não usam o SUS. Se usassem o SUS, elas não votariam contra'', afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta sexta-feira (14), em seu primeiro pronunciamento público sobre a derrota

O discurso foi carregado de recados sobre o day after da CPMF. ''Não pensem que o presidente da República ficou… porque os senadores votaram contra a CPMF, que vai haver alguma medida, do governo, de irresponsabilidade. Nós vamos manter o superávit primário, nós vamos continuar com a política fiscal séria, nós vamos arrumar um jeito de fazer as coisas acontecerem neste país, o PAC vai continuar'', disse Lula, sinalizando uma linha de continuidade apesar dos R$ 40 bilhões a menos.



''O  presidente não é mais candidato''



Lula emendou com um raciocínio político: ''Se alguém votou contra achando que aquilo poderia prejudicar o presidente, eles poderiam saber duas coisas: primeiro, o presidente não é mais candidato; segundo, eles prejudicaram o próximo presidente da República; e terceiro, alguém vai ter que responder por que a Saúde deixou de receber R$ 24 bilhões  a mais, ou por que a Saúde vai deixar de receber, a partir de 2010, mais 80 bilhões.



A referência à CPMF veio como fecho da fala presidencial. A maior marte dela se referiu aos êxitos da produção e do emprego nas montadoras de automóveis, e à memória das lutas operárias de outros tempos.



''Tudo começou aqui nas portas da indústria automobilística, e depois de 20 anos, com derrotas e vitórias, um de vocês, que durante 27 anos trabalhou com um macacão, chegou à Presidência da República deste país'', lembrou Lula.



Lula ressaltou que pela primeira vez a produção de automóveis está ''bombando'' com vistas ao mercado interno e também à exportação. ''De outubro para novembro, a indústria automobilística nacional abriu 1.015 postos de trabalho. Novembro terminou com 120 mil postos ocupados na indústria, o que significa um crescimento de 12,1%. A geração de empregos formais na indústria automobilística brasileira, entre janeiro e outubro de 2007, é a melhor dos últimos sete anos. No período, foram criados 37.424 novos empregos'', informou. Para o presidente, a '' conseqüência natural'' desse crescimento será a volta do terceiro turno de trabalho nas montadoras automobilísticas, suprimido durante as décadas perdidas.



Veja a íntegra do discurso de Lula




''Eu, toda vez que entro numa indústria automobilística aqui no ABC, fico imaginando, sempre recordando o tempo em que vivi na porta dessas fábricas. Os bem mais velhos se lembram que a gente já vinha aqui no tempo que não se chamava Ford (falha na gravação) do Brasil, faz tempo. Eu poderia não dizer, isso porque as pessoas percebem que nós estamos ficando velhos. Mas a sensação de prazer e a emoção que eu sinto é a mesma de quando eu tinha 23 anos de idade e vinha na porta desta fábrica. Aqui, nós vivemos momentos memoráveis e momentos de muito sofrimento.



Disse bem o Feijoó (presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC): “Não tem nada mais triste e de maior angústia na vida de um dirigente sindical quando ele vem na porta da fábrica tentar fazer discurso contra as dispensas que são feitas, às vezes aos milhares”. E nós sabemos o que significa um trabalhador voltar para casa e dizer para a mulher e para os filhos que perdeu o emprego.



Graças a Deus, estamos vivendo um outro momento. Um momento em que o Brasil se encontra consigo mesmo. Durante décadas, nós vivíamos aqui em São Bernardo do Campo, todo ano, correndo atrás do decréscimo do número de oferta de empregos oferecidos nas fábricas do ABC. Foram muitos anos. Em 92, o companheiro Vicentinho, o Marinho (na época dirigentes sindicais da categoria) e o pessoal do Sindicato fizeram a primeira proposta na Câmara Setorial do Setor Automobilístico, fizeram um acordo com o governador de São Paulo, fizeram acordo com as empresas e nós retomamos, um pouco, o crescimento da geração de empregos. Mas voltamos outra vez a ter problema na geração de empregos.



Hoje, estamos vivendo um momento, eu diria, excepcional. E queria recordar aqui, quando o Teonílio disse do espetáculo do crescimento, que isso foi dito por mim aqui na Ford. Se não me falha a memória, em agosto de 2003. E veja a ironia do destino, ministro Nelson Jobim, diretores da Ford. Quando eu falei aqui, em agosto, do espetáculo do crescimento, eu fui achincalhado durante um ano e não ouvi ninguém fazer pelo menos uma linha de autocrítica para reconhecer que o PIB de 2007 foi de 5,7%, portanto, o maior de muitos anos. E por que eu citei aqui, na Ford, presidente (da Câmara dos Deputados) Arlindo Chinaglia, o espetáculo do crescimento? Porque antes de eu vir para cá, eu tinha tido uma reunião com o Palocci e com o Meirelles, e eles me mostravam os números da economia e me garantiam que 2004 seria um ano excepcional. É só pegarem todos os números de 2004 que vamos ver que foram números excepcionais na economia brasileira, no crescimento de emprego, no crescimento da indústria, no crescimento do PIB e no crescimento da massa salarial.



O que aconteceu em 2005? Primeiro, em 2005, nós tivemos um problema sério de uma cultura brasileira inflacionária. Graças a Deus, os empresários estão aprendendo que, também, controlar a inflação é da responsabilidade de todo mundo e não apenas do presidente da República. Por conta da preocupação da retomada do crescimento da inflação, e por conta de uma crise política que nós vivemos – uma crise política profunda, em que muita gente achava que era possível tirar o Lula da Presidência.



Esse fato nunca pode ser negado porque faz parte da história brasileira –, nós tivemos um 2005 muito ruim, amargo, amargo para mim e amargo para vocês. Até que vocês se levantaram e começaram a publicar uns adesivos espalhados por este país, dizendo “mexeu com o Lula, mexeu comigo”, e parece que isso acalmou os ânimos de algumas figuras que falam tanto em democracia, mas não aceitam com facilidade a alternância de poder. Sobretudo quando aquele que está no poder representa uma classe social que, historicamente, não tem acesso ao poder.



Eu estava olhando vocês ali, enquanto falavam aqui os oradores, e eu falei para o Arlindo: eu estou com vontade de me beliscar ou descer até aí para beliscar (inaudível). Eu não sei se vocês já pararam para atentar que tudo começou aqui nas portas da indústria automobilística, e depois de 20 anos, com derrotas e vitórias, um de vocês, que durante 27 anos trabalhou com um macacão, chegou à Presidência da República deste país. Portanto, qualquer um de vocês pode ser… acabar com essa história de que só pode governar o município, o estado ou o Brasil aqueles que tiveram oportunidades que os outros não tiveram. Isso nós temos que ter claro: as possibilidades estão abertas para todos nós.


 



E hoje nós vivemos um momento que, há muitos anos, vocês não viviam. Até o final deste mês, a produção do ano será 14% maior do que a de 2006, com a marca de 2 milhões e 970 mil carros produzidos neste país. O número de carros vendidos chegará a 2 milhões e 450 mil, o que significa um crescimento, em relação ao ano passado, de 27%. A receita das vendas externas aumentará 7,4% sobre os US$ 12,1 bilhões que foram registrados no ano passado.


 


No segmento de caminhões, 2007 deve fechar com o maior número de licenciamentos dos últimos 30 anos neste país. Até novembro foram registrados 89.400 novos caminhões, um crescimento de 29,7% sobre o período de janeiro a novembro do ano passado. E se a indústria automobilística atender aquilo por que eu venho brigando, já há alguns meses, de que nós precisamos aumentar o número de prestações para que o motorista autônomo possa comprar um caminhão, nós vamos produzir mais caminhões do que em qualquer momento da história da indústria automobilística brasileira. E aí, o terceiro turno (de trabalho nas montadoras automobilísticas) será conseqüência natural.



Vejam vocês, o governador (de São Paulo) José Serra perguntou se o carro era bom e disse que ia recomendar para a prima dele comprar um. Mas se ele for mais generoso e comprar um de presente para a mulher dele, já são dois. Nesta época de Natal, todo mundo fica mais generoso, Serra. Logo, logo, virá o terceiro turno.



Uma coisa que vocês têm que perceber é que durante 20 anos, neste país, nós vivemos um drama. Primeiro, nós decidíamos fortalecer o mercado interno, e a gente matava o mercado externo. No ano seguinte, a gente decidia fortalecer o mercado externo, e matava o mercado interno. O que está acontecendo hoje? O mercado externo está crescendo e o mercado interno está “bombando”. Por que está “bombando”? Porque a indústria automobilística compreendeu que se a gente ficasse atendendo apenas aquele setor da classe média que, historicamente, pode comprar um carro, a gente iria ter os pátios cheios de carros, como aconteceu durante décadas aqui, na indústria automobilística.



Na hora em que a indústria automobilística descobriu que o povo trabalhador deste país, a classe média baixa, que não pode trocar de carro todos os anos e não pode comprar um carro à vista, não está preocupada com o valor total do carro, mas sim se a prestação cabe dentro do holerite dele, aí ele compra o carro, e não quer trocar todos os anos, não. O que ele quer é cuidar do carro com carinho, porque tem três coisas que um trabalhador gosta: uma casa, casar com uma mulher bonita e ter um carro bom, três coisas importantes. Serra, há um tipo de companheiro que compra carro e dedica ao carro uma exclusividade de sábado, que é lavar o carro dele, lubrificar, passar perfume. Somente depois é que ele se lembra da mulher e da família, mas ele cuida do carro com um carinho especial.



De outubro para novembro, a indústria automobilística nacional abriu 1.015 postos de trabalho, acompanhando a marcha crescente da produção. Novembro terminou com 120 mil postos ocupados na indústria, o que significa um crescimento de 12,1% na geração de empregos deste país. A geração de empregos formais na indústria automobilística brasileira, entre janeiro e outubro de 2007, é a melhor dos últimos sete anos. Esses são os dados do Caged. No período, foram criados 37.424 novos empregos na indústria automobilística brasileira. Isso demonstra, meus companheiros e companheiras, que nós nos encontramos. A indústria prevê, para 2008, aumentar a produção para 3 milhões e 240 mil veículos, número próximo à capacidade total, que é de 3 milhões e 500 mil.



Então, não se assustem se, já no ano que vem, a Ford resolver abrir vagas para um segundo turno aqui. Não tenho dúvida disso, porque a indústria automobilística vai continuar vendendo. A sociedade brasileira tem mais crédito, a sociedade brasileira tem… Há quantos anos o Marinho foi presidente do Sindicato, Vicentinho foi presidente do Sindicato, Guiba foi presidente do Sindicato? Quantos anos nós fizemos acordos aqui sem ganhar um centavo de aumento real? Quem não se lembra da greve de 1980? Quarenta e um dias de greve, e nós voltamos a trabalhar sem nada.



Nesses últimos quatro anos, em todos os acordos que vocês fizeram teve aumento real de salário. Os sindicatos se prepararam melhor, a indústria se recuperou, a indústria está compatibilizando exportação com importação, e é verdade o que disse o governador aqui. Eu estou otimista porque, para aumentar a capacidade produtiva, as montadoras já me comunicaram que estão prevendo um aumento de até 10 bilhões de reais nos próximos três anos.



Então, eu quero agradecer à direção mundial da Ford e à direção brasileira da Ford por terem tomado a decisão sábia de fazer este novo carro, projetado no Brasil por brasileiros, fabricado por brasileiros, que será comprado por brasileiros e será guiado por brasileiros. Essa é a maior demonstração de confiança que vocês estão tendo no Brasil. Também quero dizer que é importante que o governador José Serra renove a política de incentivos, porque logo, logo, o ministro Miguel Jorge vai anunciar – nos próximos dias – uma política industrial no país, em que a gente está prevendo transformar o Brasil também numa plataforma de exportação, para que a gente possa ocupar um espaço de maior destaque no mundo.



Mas, de tudo mesmo, o que eu desejo é chegar um dia aqui na porta da Ford e perceber que cada um de vocês pôde comprar o carrinho que vocês produziram, o carro que vocês fabricaram com carinho. Vocês não podem ficar vendo apenas os outros comprarem, passar na via Anchieta e falar “aquele carro fui eu que fabriquei”, e estar no ponto de ônibus com a mulher. Deus queira que a gente consiga, um dia, fazer com que todo trabalhador possa consumir aquele produto que ele produziu.



No mais, meus companheiros e minhas companheiras, a Ford, até 2011, prevê investir mais 2 bilhões e 200 milhões de reais no Brasil. Acho que a economia brasileira, definitivamente, entrou num ciclo duradouro de crescimento.


 


Não pensem que o presidente da República ficou… porque os senadores votaram contra a CPMF, que vai haver alguma medida, do governo, de irresponsabilidade. Nós vamos manter o superávit primário, nós vamos continuar com a política fiscal séria, nós vamos arrumar um jeito de fazer as coisas acontecerem neste país, o PAC vai continuar.


 


Se alguém votou contra, achando que aquilo poderia prejudicar o presidente, eles poderiam saber duas coisas: primeiro, o presidente não é mais candidato; segundo, eles prejudicaram o próximo presidente da República; e terceiro, alguém vai ter que responder por que a Saúde deixou de receber R$ 24 bilhões  a mais, ou por que a Saúde vai deixar de receber, a partir de 2010, mais 80 bilhões. Certamente, as pessoas que votaram contra não usam o SUS. Se usassem o SUS, elas não votariam contra.



Muito obrigado, parabéns, feliz Natal, feliz Ano Novo, e que Deus permita que 2008 seja melhor do que 2007. Um abraço.''