Evo Morales: 'Não permitiremos a divisão do país'
Em Santa Cruz, dezenas de milhares de pessoas se mobilizaram em favor dos estatutos autonômicos; em La Paz, Evo Morales afirma que não se permitirá a divisão do país. Os departamentos opositores de Santa Cruz, Tarija, Beni e Pando (conhecidos como meia
Publicado 16/12/2007 18:50
Ao mesmo tempo, em La Paz, na Plaza Murillo, sede do Parlamento e do Executivo, o presidente boliviano, Evo Morales, junto com os movimentos sociais, comemorou a entrega da nova Constituição do país, aprovada no dia 9, na cidade de Oruro.
Os estatutos autonômicos foram celebrados nos quatro departamentos com atos e festas. Em Santa Cruz, principal região opositora, dezenas de milhares de pessoas, sob o lema “já somos autônomos”, compareceram à mobilização convocada pelo governador, Rubén Costas, e pelo presidente do Comitê Cívico de Santa Cruz, o empresário Branko Marinkovic. Considerados inconstitucionais pelo governo, a legalidade dos estatutos foram defendidos por Costas diante da imprensa internacional.
Controle departamental
Os textos autonômicos garantem o controle departamental sobre impostos, terra, recursos naturais, segurança e cidadania, inclusive a regulação da migração interna.
Quanto aos recursos, por exemplo, o estatuto de Santa Cruz determina que o governo local “controle, de maneira direta, a exploração e comercialização de hidrocarbonetos”. Junto com Tarija, Santa Cruz é a região da Bolívia que abriga os maiores poços de gás e petróleo, principal fonte econômica do país.
Em represália, desde a 0hs de sábado, movimentos sociais que apóiam Evo e a Constituição realizam bloqueios de estradas que ligam os departamentos opositores ao resto do país.
Em La Paz, milhares de pessoas se dirigiram à Plaza Murillo para celebrar o ato de entrega, por parte da presidente da Assembléia Constituinte, Silvia Lazarte, da nova Constituição ao presidente Evo Morales.
Vindo de Santa Cruz, o sociólogo Omar Méndez considera que o texto constitucional é um elemento importante para o desenvolvimento boliviano. “Todos os setores que hoje se vêem afetados devem se informar sobre ele. Ninguém pode desconhecer as mudanças que ocorrem não só na Bolívia, mas em todo o planeta”, disse.
Em relação ao estatuto autonômico apresentado por seu departamento, Méndez é enfático: “Na verdade, são alguns setores que levam adiante uma tentativa de manter suas terras ociosas, seus velhos negócios com o Estado”.
Desfile
Com a tese de que a oposição é formada apenas por uma minoria, concorda o agricultor Angel Condori, de Cochabamba, que veio a La Paz para se informar sobre a nova Carta Magna. “Agora, nossos direitos a sermos reconhecidos estão incorporados”, comemora.
O ato teve início com um desfile das organizações sociais presentes. Durante duas horas e meia, integrantes de movimentos de todo o país passaram em frente ao palanque onde estava Evo e demais autoridades bolivianas.
O destaque ficou por conta das delegações vindas de Santa Cruz e Chuquisaca, muito aplaudidas. Este último departamento em Sucre como capital, cidade que se opôs à Assembléia Constituinte devido à demanda da capitalidade.
Após o desfile das organizações sociais, foi a vez dos militares mostrarem o apoio ao presidente e à nova Carta Magna. Nos últimos dias, os governadores opositores têm feito declarações pedindo que as Forças Armadas não permitam ataques à democracia.
Em seu discurso, Evo Morales chamou de “heróis das transformações e da democracia” os deputados constituintes. “Eu cheguei a sentir que a Assembléia Constituinte já estava quase sepultada. Era o que queriam. Por isso, esses deputados são milagrosos por nos entregar hoje a Constituição”.
Aberto ao diálogo
Aos constituintes que boicotaram a Assembléia, Evo fez um pedido: “Eles ganharam sem trabalhar. Se possuem ética, respeito, que bom seria que devolvessem o dinheiro ao Estado boliviano, para que podamos destiná-lo ao povo”.
O presidente, que assinalou que a Constituição recém-aprovada garante a descolonização do país, atacou também os departamentos opositores. Lembrou que as autonomias estão contempladas no novo texto constitucional, e afirmou que não se permitirá a divisão do país. “Alguns estão batendo nas portas dos quartéis. Tenho certeza que ninguém das Forças Armadas se prestará a isso”.
O vice-presidente, Álvaro García Linera, igualmente a Evo, destacou o trabalho dos constituintes. “Em cada palavra, letra, vírgula da Constituição está o esforço, o sofrimento, a vontade inquebrantável dos constituintes, que agüentaram ameaças, descriminação, abusos. Apesar disso, tiveram a valentia de sintetizar tudo que a pátria quer”.
Em seguida, Linera afirmou que, no processo da Assembléia, o governo sempre esteve aberto ao diálogo com a oposição, mas que esta não aceitava comparecer às conversações. “Se não vieram, perderam a oportunidade de serem ouvidos, e não têm o direito de reclamar que não foram ouvidos”.
Já a presidente da Assembléia Constituinte, Silvia Lazarte, destacou os aportes dos movimentos para a elaboração dos artigos da Constituição. “Por essa razão, ela é de todo o povo boliviano”, assinalou.
Título do Vermelho