PT tem novo líder na Câmara Legislativa do DF

Em entrevista ao CorreioWeb, o agora líder do PT comenta a crise instalada no partido com as denúncias de fraudes nas eleições para a presidência regional da legenda. Ele sugeriu ainda caminhos que seu partido deve seguir para conseguir chegar nas próxima

Confira a entrevista na íntegra:


 


CorreioWeb – Apenas um ano como distrital e já vai liderar um partido com três distritais mais experientes. Como foi o processo de escolha?


 


Cabo Patrício – Muito tranqüilo. O Chico foi escolhido líder no primeiro ano, porque já tinha experiência de um mandato e era o primeiro governo do Arruda. Diferentemente do governo Roriz, que já vinha há anos e anos e sabíamos seu perfil, a forma de atuação. Com o Arruda seria diferente. O primeiro ano serviu mais como experiência e aprendizado. Para este, nós tínhamos três parlamentares. No caso, eu, a Erika Kokay e o Paulo Tadeu. O Paulo não pode assumir a liderança porque é vice-presidente da Casa. A Érika ficou fragilizada com o episódio que aconteceu com ela (denúncia de usar funcionário para movimentar conta laranja). Você tem que ter um compromisso com o partido e eu coloquei meu nome e pedi para ser líder em função disso.


 


CW – Então o processo aberto contra a Erika foi fundamental na definição.


 


CP – Contribuiu. Até porque ficaria muito ruim se ela assumisse a liderança. Eu mesmo coloquei meu nome e conversei com ela, Paulo e Chico, porque seria muito desgastante. E a gente sabe que na política as pessoas usam das armas mais covardes e subterfúgios para derrubar o adversário. Por mais que não tenha nada contra a companheira Erika, o governo podia utilizar disso para bater se ela fosse a líder do PT aqui na Câmara. Então é uma forma de você preservar todo mundo. O PT está num momento muito difícil. A crise no PT é uma coisa complicada. Aí é até uma questão de você colocar alguém novo, que está em primeiro mandato, não tem vício algum, e a gente pode fazer um trabalho para rearticular e reorganizar o PT.


 


CW – A oposição feita pelo PT em 2007 foi muito mais conciliadora do que questionadora. Agora todos esperam cobranças maiores em 2008, tendo uma pessoa com o seu perfil no posto de líder do partido. O senhor concorda com essa perspectiva?


 


CP – Acho que o Chico fez um bom trabalho de oposição. Mas o perfil dele é de negociador. E ele tinha essa missão porque era um adversário novo, não era o Roriz, era o Arruda. Por mais que ele (Arruda) mantivesse pessoas ligadas ao governo Roriz, era um novo governador, com novo perfil. Então o Chico teve de ser negociador. Neste ano, o que eu quero não é fazer uma oposição diferente. Nós queremos fazer uma oposição da mesma forma, mostrando que o PT tem um projeto, tem seus posicionamentos e questionamentos e nós vamos fiscalizar o governo e questionar tudo aquilo que ele encaminhar a essa Casa.


 


CW – Então, a aposição com o Cabo Patrício na liderança não será muito mais ferrenha do que a com o Chico Leite…


 


CP – Esse ano é que vai dizer se vai ser ou não. Eu prefiro esperar para ver. Nós temos 12 meses para fazer oposição ao governo e dar a linha do PT. Isso que é importante. Os parlamentares não podem ficar reféns do partido e vice-versa. Esse momento é muito delicado. O PT passa por uma crise. Isso é uma realidade. O PT está sangrando com essa disputa pela direção regional. A liderança neste ano vai ter um papel fundamental de dar um rumo para o PT, rearticular as demais lideranças no partido e mobilizar a militância para fazer o enfrentamento com o governo Arruda. Porque este é um ano decisivo para 2010.


 


CW –Como o senhor avalia as trocas de acusações entre Chico Vigilante e Lenildo Moraes, candidatos à presidência do PT-DF?


 


CP – O PT é assim. Um partido democrático, onde existe espaço para todas as pessoas. Tem as mais radicais e as menos radicais. É em função disso que existem varias tendências. Mas é um partido democrático, diferente de outros. O PT discute, debate e é a única legenda que tem um processo eleitoral democrático para a escolha de sua direção, onde o voto do filiado mais novo do partido tem o mesmo peso do que de um parlamentar. Diferentemente de outros partidos, onde a presidência executiva é negociada e cada um de acordo com o interesse dita qual é a região que cada um vai administrar.


 


CW – Mas o senhor acredita que realmente houve fraude nas eleições regionais?


 


CP – O que a gente vê até agora é que existem indícios de irregularidades. Isso está comprovado. É em função disso que a direção nacional vai se posicionar no dia 9 (fevereiro) e vai ver se anula a eleição nas satélites (onde supostamente houve fraudes) e realiza um novo pleito. Mas independente de quem seja o vencedor, é importante que essa pessoa tenha o papel de organizar o partido, mobilizar a militância e construir uma alternativa para o DF em 2010. Nos não podemos sair em 2010 como em 2006, em terceiro lugar – o que nunca tinha acontecido-, com uma bancada distrital e federal reduzidas. Precisamos aumentar as duas bancadas e que ao menos a gente chegue ao segundo turno na disputa do governo do Distrito Federal. Daí a importância da liderança e da oposição, para mostrar que nós temos um projeto alternativo para o Distrito Federal, diferente do projeto do governo Arruda e do governo Roriz.


 


CW – Tanto Lenildo quanto o Vigilante têm essas mesmas condições de organizar o partido para 2010?


 


CP – Qualquer um que seja presidente do partido tem essa função. Porque não é o presidente que dita as regras. Como falei, o PT é democrático. Então as direções zonais e regionais serão as responsáveis por ditar como é que o partido vai seguir. Não é só uma pessoa que vai dizer. Os quatro parlamentares também vão ter que dizer, não é só o líder. Eu vou ter a função de liderar, mas de forma democrática, ouvindo os três parlamentares para saber qual o rumo que vamos tomar. Mas uma coisa é fato: o PT decidiu no último encontro que é oposição ao governo Arruda.


 


CW – A CPI da Gautama já havia aprovado a convocação dos ex-governadores Roriz e Abadia, mas uma manobra política derrubou a convocação. O senhor acredita que será difícil retomar esse assunto?


 


CP – Eu acredito que não. Os parlamentares votaram e aprovaram por maioria a convocação do ex-governador e da ex-governadora. Os requerimentos continuam na CPI. Eles não foram colocados em votação de novo porque é uma prerrogativa do presidente da CPI, o deputado Bispo Renato. Mas quando forem colocados em votação, é fundamental que os parlamentares mantenham a coerência na sua votação e conduta. Se eles já votaram pela convocação é difícil que um vote de forma diferente agora. Até porque o fato de eles virem aqui não significa que eles sejam culpados de alguma coisa. O que a CPI quer é esclarecer os fatos. É mostrar pra sociedade o que foi feito com os recursos destinados para a Barragem da Bacia do Rio Preto.


 


CW – O senhor foi um dos dois deputados a votar contra o projeto que prevê a reeleição da Mesa já nesta legislatura. Como líder da oposição, será mais fácil evitar a aprovação em segundo turno?


 


CP – Eu sou contrário. Aqui na Câmara você tem uma Mesa composta por cinco membros e 24 parlamentares. É importante que haja um rodízio. São quatro anos de mandato. Se você fizer um rodízio, dá a possibilidade de todos os parlamentares assumirem um cargo na Mesa Diretora, o que é uma experiência a mais. Você vai ter alguém que é deputado que um dia pode ser governador do Distrito Federal. Quando se assume uma função na Mesa, existe a oportunidade de aprender muito e contribuir muito com o Legislativo. Então eu vou continuar contrário no segundo turno.


 


CW – O líder do PT vai articular para convencer os demais a votar contra também?


 


CP – Eu não vou nem dizer que será fácil convencer deputado a ser contra, mas se a votação fosse hoje, com certeza o resultado seria diferente. Muita gente votou em primeiro turno, mas não tinha convicção de que o projeto tinha que ser aprovado. Só votaram na realidade para dar uma lição ou emparedar o governador. Para fazer negociação. Só que é um jogo que você faz e corre um risco. E se o projeto fosse votado em segundo turno e aprovado? Como é que ficaria a situação? Houve inclusive um enfrentamento dentro do próprio governo. Os dois secretários de governo (Raimundo Ribeiro e Eliana Pedrosa) tiveram que se licenciar e voltar para cá. Houve um mal-estar também, inclusive com os suplentes, porque ninguém avisou ninguém, chegaram de repente, na hora da votação e o projeto só saiu de pauta depois que teve toda a confusão.


 


CW – A base governista está de olho na Comissão de Assuntos Fundiários por conta da aprovação do Pdot. Já existe um diálogo com a liderança do governo em relação ao assunto?


 


CP – Está tendo uma conversa ainda, um acordo com os parlamentares para isso. Até porque já foi feita uma distribuição dentro dos blocos partidários. Mas com certeza a base vai querer comandar a CAF. Principalmente por causa do PDOT. Ele é muito importante para o governo. Mas o PT tem uma assessoria muito qualificada nessa questão de assuntos fundiários e urbanísticos. Mas o principal é envolver a sociedade e os segmentos organizados. O PDOT interessa para todo mundo. Foram feitas varias audiências e conversas com o Taniguchi (secretário de Desenvolvimento Urbano, Meio Ambiente e Habitação). Mas não podemos esquecer que o Taniguchi não é DF. Ele não tem o conhecimento total da realidade daqui.


 


Fonte: Correioweb


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