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Futebol: Botafogo enterra tabus e põe fim à concentração

O Botafogo vai quebrar um tabu de mais de 20 anos no futebol brasileiro: o técnico Cuca comunicou aos jogadores que vai abolir a concentração no clube. Nos próximos dias, os atletas não dormirão mais em General Severiano, sede do clube carioca.

Pelo planejamento de Cuca, os jogadores serão liberados após o último treino, vão passar a noite fora do clube e só se apresentarão pouco antes do almoço em dias de jogos. “Quero passar confiança ao grupo, credibilidade e parceria. Se o cara dorme aqui às 23h, ele vai dormir nesse horário na casa dele. Isto é o profissionalismo”, afirmou o treinador, um dos responsáveis pela boa fase do time alvinegro no início do Estadual do Rio.



Cuca liberou os jogadores até para fazer sexo antes dos jogos, um outro tabu no esporte. “Se ele acha que transar com a mulher vai ser bom, isso é coisa dele. Só não precisa fazer mais de uma vez [risos]. Se ele não quiser [transar], está bom também. Isso vai muito da pessoa. Eu não gostava de fazer antes do jogo, mas têm alguns que gostam, dizem que ficam mais leves. Nesse caso, tudo bem”, disse o treinador, que conversa diariamente com os jogadores sobre o fim da concentração.



“Quero que eles [os atletas] tomem conta do grupo, e não eu. Esse é o meu objetivo”, contou Cuca, que gostava de se concentrar quando era jogador. “”Eu adorava jogar baralho lá. Além disso, a geladeira no Grêmio era boa. Agora, os tempos mudaram. Todos têm iogurte, sorvetinho em casa. Acho que, se o cara puder ficar com o filho, com a mulher, a mãe antes do jogo, ele vai se sentir melhor”, acrescentou o técnico do Botafogo. Como jogador, ele atuou no Grêmio, no Palmeiras, no Santos e no Juventude.



Cuca sabe que a decisão é polêmica e diz que os jogadores é que serão os responsáveis pela nova fase. “Não vamos ficar vigiando os atletas, mas vou ter que tomar uma posição desagradável caso alguém se comporte mal”, disse o treinador, que pode liberar os jogadores da concentração já nesta sexta-feira.



“Não adianta fazer isso na véspera de um jogo com um time pequeno. Quero começar contra um grande”, afirmou. No sábado, o Botafogo joga o seu primeiro clássico, contra o Vasco, no Maracanã. “”Além disso, sei que temos que ganhar os jogos para manter essa proposta”, acrescentou Cuca.



Democracia Corintiana



Líder da Democracia Corintiana, o ex-jogador Sócrates apoiou a decisão do Botafogo de liberar os jogadores da concentração na véspera dos jogos no Rio de Janeiro. “Estava demorando. Manter a concentração é até antieconômico. Gasta-se muito dinheiro para colocar os jogadores em hotéis. Fora isso, os atletas ganham mais responsabilidade como em qualquer profissão”, disse o meia da seleção brasileira nas Copas do Mundo de 1982 (Espanha) e de 1986 (México). “O fim da concentração é tão óbvio que não tenho muito que falar na sua defesa.”



Com Sócrates como um dos mentores nos anos 80 da Democracia Corintiana, movimento que deu mais liberdade e poder de decisão aos jogadores, a equipe paulista foi a última no país a jogar sem a obrigação de os atletas ficarem em concentração. Nesse período, o Corinthians sagrou-se bicampeão paulista (1982 e 1983).



Assim como no Botafogo, o fim da concentração não foi uma unanimidade também no time do Parque São Jorge. “Eles [jogadores] têm medo de liberdade. Uma parte gosta de ficar no hotel, com medo da opinião pública”, afirmou Sócrates. O ex-goleiro Leão, atual treinador do Santos, era um dos corintianos que defendiam a clausura.



Fonte: Folha de S.Paulo