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Imperialismo quer arrancar Kossovo da Sérvia

No momento em que os imperialismos americano e europeu, coadjuvados pelo silêncio cúmplice de pequenos estados servis como o Portugal, governado pelo Partido Socialista de José Sócrates, se preparam para apoiar a declaração unilateral de independência do

As forças da ala da extrema-direita que governam agora a província do Kossovo da Sérvia planejam anunciar a secessão da Sérvia em 2008. Os poderes dos Estados Unidos e principalmente da Otan apoiam este movimento reacionário e continuam a sua estratégia de “dividir e conquistar” nos Balcãs. Esta estratégia desfez em pedaços a Iugoslávia, deixando a região instável e enfrentando agora novas guerras.



Utilizada durante os anos 90, esta estratégia conseguiu separar a Iugoslávia outrora unida e socialista em meia dúzia de mini-estados capitalistas. É um erro chamar “independentes” a estes estados. São neo-colônias fracas dominadas pelo Ocidente, pilhadas principalmente pelas corporações italianas, americanas e alemãs e bancos, dependentes do imperialismo.



Agora a Sérvia, antigamente a república mais forte e mais multinacional da Federação da Iugoslávia, é ameaçada pelas mesmas forças reacionárias que despedaçaram o país.



Quem governa agora o Kossovo? As mesmas pessoas que chefiaram a gangue armada intitulada UÇK (iniciais albanesas) contra a Iugoslávia nos anos 90. O antigo general Hashim Thaci, líder do UÇK, tornou-se presidente do Kossovo, depois de uma eleição em novembro. Este grupo tem políticas de extrema-direita que apelam aos aspectos mais reacionários e chauvinistas do nacionalismo kossovar albanês.



Embora armado pelos Estados Unidos e pela Alemanha, o UÇK foi incapaz de vencer combates no Kossovo até o Pentágono intervir. Os militares dos Estados Unidos utilizaram o seu imenso poder aéreo para executar um bombardeio mortífero de 78 dias na Iugoslávia, durante a Primavera de 1999. As bombas e mísseis dos Estados Unidos e da Otan destruíram muitas das infra-estruturas industriais na Sérvia, como pontes, escolas e 147 hospitais.



Sob a pressão do bombardeio e da ameaça de uma invasão ainda mais sangrenta, o governo iugoslavo concordou em junho de 1999 em permitir que as forças da Otan ocupassem Kossovo. Com o apoio da Otan, o UÇK instaurou um regime de direita, corrupto, que nos oito anos seguintes escorraçou da província muitas pessoas que ainda restavam de nacionalidade sérvia, judaica, romena, egípcia e outras, incluindo os albaneses pro-iugoslavos. Muitos destes refugiados encontraram um novo lar dentro da Sérvia e de Montenegro não ocupados.



A Resolução 1244 da ONU, reafirmava “o compromisso de todos os estados membros à integridade territorial e à soberania” da Iugoslávia, da qual a Sérvia é o estado sucessor. Isso significa que Washington, Berlim e outras capitais européias vão romper os tratados e as leis internacionais quando reconhecerem a secessão do Kossovo.



Sem libertação, não há independência



UÇK significa “Exército de Libertação do Kossovo”, mas ainda ninguém foi libertado quando ele chegou ao poder. Mesmo os kossovares albaneses que se opuseram ao UÇK tiveram de abandonar a província. Sob a direção do UÇK, o Kossovo tornou-se um centro de tráfico de drogas ilegais e escravatura de mulheres e crianças através de elos de prostituição — e um regime corrupto que faz as empresas dirigidas pelo UÇK parecerem versões menores de Halliburton e Blackwater.



O regime Thaci deve declarar a independência do Kossovo no princípio de 2008. Mas, a nova entidade, deve ser ainda mais dependente da Otan, do imperialismo ocidental, do que as outras novas repúblicas dos Balcãs. O seu papel principal será o de instrumento da Otan nos Balcãs um espaço de trânsito para os oleodutos e gasodutos que evitam o território russo no seu caminho para o ocidente.



Os imperialistas já controlam a maior parte das indústrias e do comércio rentáveis da Sérvia — incluindo o Kossovo. Isso inclui as valiosas minas Trepca na região. Mas um Kossovo fraco e separado com um regime completamente dependente é uma base militar fiável onde as tropas da Otan podem permanecer indefinidamente.



Logo depois de as tropas da Otan terem ocupado o Kossovo em 1999, os Estados Unidos construíram lá uma base militar maior, chamada Camp Bondsteel. Há ainda 7 mil soldados americanos estacionados ali entre as 16 mil tropas da Otan presentes na região. E agora a União Européia decidiu enviar mais 1.600 militares para lá quando o regime anunciar a separação.



Michael Collon, um dos opositores de guerra, afirmou em 1990 no seu livro Liar’s Poker que, controlando Kossovo, os imperialistas passarão a controlar a rota do petróleo e do gás da Ásia Central e do Cáucaso para a Europa evitando o território russo.



O governo russo, por outro lado, é a força principal que se opõe à secessão do Kossovo. Moscou apoia a Resolução 1244 da ONU e a integridade territorial da Sérvia.



A imprensa demoniza de novo a Sérvia



Com Kossovo de novo nas manchetes, as mídias estão de novo no pico da demonização da Sérvia. Fazem-no ainda que o atual governo de Belgrado tenha o apoio total dos serviços secretos americanos e as organizações não governamentais fundadas pelos bilionário George Soros, quando derrubaram o Partido Socialista chefiado por Slobodan Milosevic em outubro de 2000. Entre esses grupos estava o grupo de juventude de direita “Otpor” ou “Resistência”, que Washington utilizou depois para organizar movimentos reacionários na Ucrânia, Geórgia e agora Venezuela.



Uma vez deposto Milosevic e os Socialistas, os imperialistas começaram a pressionar o novo regime sérvio — que tinham instalado — para continuar a fazer cada vez mais concessões à penetração ocidental. Separar Kossovo da Sérvia seria um golpe penoso, principalmente porque a Sérvia tem monumentos históricos e igrejas na parte norte da província. Desde o início da ocupação em 1999, cerca de 200 igrejas sérvias medievais foram destruídas pelo UÇK sob o olhar da Otan.



As mídias têm repetido as mesmas mentiras que alardearam em 1999 para justificar o bombardeio “humanitário” da Iugoslávia. A mentira principal era a de que a Sérvia estava a cometer um “genocídio” dos kossovares albaneses. Em 1999, os porta-vozes dos governos americano e alemão afirmavam que os sérvios tinham morto 100 mil kossovares albaneses e os tinham enterrado em valas comuns.



Esperando encontrar corpos por todo o lado, um grupo das Nações Unidas procurou todo o Verão de 1999 no Kossovo e encontrou um total de 2.108 corpos de todas as nacionalidades. Alguns foram mortos pelos bombardeios da Otan e alguns na guerra entre o UÇK e a polícia sérvia e os militares. Nada de massacres. Nada de genocídio.



Porto Rico, Irlanda, País Basco?



Os Estados Unidos, a Inglaterra e a França, e a Alemanha, devem reconhecer diplomaticamente a entidade do Kossovo se Thaci declarar a independência. Alguns membros da União Européia — Malta, Chipre, Grécia, Romênia e Espanha (neste caso, devido à sua opressão no País Basco) — declararam que não vão reconhecê-lo.



Poderíamos perguntar se Washington também reconhecerá a independência de Porto Rico, se Londres reconhecerá o direito da Irlanda do Norte de se juntar ao resto da Irlanda e se a França e a Espanha reconhecerão o direito à autodeterminação do País Basco. Não temos dúvidas de que os dirigentes destas capitais vão responder “não”.



Há uma diferença entre as situações descritas e a de Kossovo. Em Kossovo há, juntamente com alguns povos de minoria étnica, duas outras nacionalidades em maioria: Sérvios e kossovares albaneses. Cada uma destas duas nacionalidades é oprimida pelo imperialismo, como eram as outras nacionalidades na anterior Iugoslávia. Os imperialistas conseguiram utilizar o UÇK de direita, primeiro contra a Iugoslávia e agora contra a Sérvia, mas nenhuma das nacionalidades oprime ou explora a outra da maneira que os imperialistas nos Estados Unidos, Inglaterra e França oprimem e exploram os nacionalistas nas suas colônias.



Quando os partizani de Tito expulsaram os ocupantes alemães em 1945 e instituíram a Federação Socialista da Iugoslávia nos Balcãs, o novo regime socialista emitiu leis que protegiam os interesses de todas as nacionalidades na Iugoslávia e tentavam mantê-los juntos num só estado. Conseguiu-se durante cerca de 45 anos apesar das diferenças históricas entre as nacionalidades. Depois veio a contra-revolução no Bloco Socialista e um ataque conjunto dos imperialistas contra a Iugoslávia.



Para quebrar a Iugoslávia, os imperialistas envenenaram todas as diferenças entre as nacionalidades apoiando os partidos e grupos mais reacionários em cada uma das seis repúblicas iugoslavas. Isso incluiu o financiamento das mesmas forças que colaboraram com os nazis durante a ocupação alemã na Segunda Guerra Mundial. O imperialismo impunha agora políticas de economia neoliberal nas repúblicas que promoveram a competição e tornaram impossível a cooperação.



O único caminho para a verdadeira independência do imperialismo nos Balcãs é iniciar de novo a luta por uma federação unida e pelo socialismo.



*John Catalinotto é editor do jornal Workers World.



Tradução de Manuela Antunes para o site Diario.info, adaptado para o português do Brasil por Humberto Alencar.