Publicado 08/02/2008 21:28 | Editado 04/03/2020 16:10
Entrevista publicada no Blog do Tião.
O presidente da Assembléia Legislativa, deputado Edvaldo Magalhães, disse ontem que confia na unidade da Frente Popular do Acre para repetir o sucesso eleitoral nas disputas municipais deste ano, mas advertiu que é preciso ter muito cuidado para evitar frisuras políticas localizadas que possam ameaçar o sucesso esperado.
O deputado do PCdoB esteve nesta quinta-feira visitando o senador Tião Viana (PT-AC) no gabinete da vice-presidência do Senado justamente para tratar do debate sobre a participação da frente Popular na sucessão municipal acreana. Disse que os cenários da disputa na Frente já estão sendo construído em cima da unidade política que foi a responsável pelas significativas vitórias conquistadas pelo grupo nas últimas eleições. Na saída, Edvaldo concedeu a seguinte entrevista.
O que o senhor debateu com o senador Tião Viana?
Com o início dos trabalhos legislativos, nós também iniciamos o ano político, que tem a sucessão municipal. Como um dos dirigentes de um dos partidos que integram a Frente Popular, nós tomamos a iniciativa de retomar a nossa pauta da sucessão municipal no Acre. E a visita ao senador Tião Viana teve esse objetivo. Nós temos responsabilidades imensas no Acre com as eleições municipais.
Como está a Frente Popular para as eleições municipais deste ano?
Nós atingimos um grau de relação e compromisso político com um conjunto de partidos e um conjunto de forças que integram a Frente Popular e que foram fundamentais na construção da vitória do seu terceiro mandato na eleição do governador Binho Marques. Agora, estarão em disputa as vagas nas eleições municipais. E eleição municipal é um mosaico que merece ser bem cuidado porque a disputa vai para o local, para a municipalidade. E precisamos nos cercar de todos os cuidados para que essa disputa localizada não se transforme em frisuras políticas no interior da Frente Popular. Eu diria que o centro da nossa preocupação nesse momento é a manutenção dessa unidade política que nós construímos no Acre, que é a responsável pelas vitórias que conquistamos.
Há risco de racha da Frente Popular em Rio Branco?
Acho que os cenários ainda estão em construção. Eu não dou como favas contadas nenhuma decisão política ainda, seja do deputado Sérgio Oliveira, que é do PMN, seja do PSB ou de outros partidos que integram a Frente. Acho que há opiniões em construção, há essa ventilação da possibilidade da candidatura do deputado Sérgio Oliveira, que é um direito que lhe assiste, mas acho também que tem outros cenários sendo trabalhados. E na política e na vida a gente precisa trabalhar não com fatos consumados, mas com cenários que a gente deseja.
Como está a unidade da Frente Popular?
Como o cenário que nós desejamos é um cenário de unidade política, nós devemos procurar fazer todos os esforços, mesmo aqueles que a gente julgue impossíveis, para que o campo de nossa unidade e essa matriz de unidade que construímos sejam mantidos.
Então, a Frente continua forte?
A Frente Popular se alargou, tem uma composição muito plural e isso foi fundamental para vencer a batalha mais difícil de sua trajetória, que foi a batalha passada das eleições de governador. Esse alargamento também traz problemas para dentro da Frente. É um alargamento que traz contradições porque embora sejam muitos os postos que estão sendo ocupados por integrantes da Frente Popular há também muitas lideranças. E quando vira celeiro de lideranças é claro que há, aqui e acolá, choques de lideranças. Então, a Frente é forte, ela também vive o seu momento de maior influência política pela fragilidade dos adversários. Mas também ela vive o momento de exigir maiores cuidados políticos.
Quais serão as prioridades da Assembléia Legislativa este ano?
Nós devemos aprofundar a nossa aproximação com os setores que menos acesso tem ao poder Legislativo. O programa Assembléia Aberta, que iniciamos no ano passado para nos aproximarmos da discussão do desenvolvimento regional, precisa ser radicalizado para que a gente não possa contaminar o nosso debate com o debate da sucessão municipal. Devemos realizar o programa já no primeiro semestre porque no segundo semestre é claro que a pauta principal será as eleições municipais. Nós vamos querer promover de três a quatro encontros nos municípios mais isolados do Acre, deslocando o poder para Santa Rosa, Jordão e outros.
O que significa esse programa para os trabalhos da Assembléia?
Esse programa está sendo extraordinário. Para você ter uma idéia, o orçamento do Estado este ano foi o primeiro orçamento nesses anos todos que eu tenho de mandato que foi aprovado por unanimidade como fruto do trabalho do programa Assembléia Aberta porque na medida em que o orçamento incorporou as proposições colhidas nas comunidades, ele foi um orçamento verdadeiramente participativo. Essa foi uma conquista muito importante para a feitura da principal peça que pauta o Legislativo, que é a construção do orçamento do estado.
O Assembléia Aberta veio para ficar, então?
Nós vamos radicalizar essa política de levar a Assembléia para próximo da comunidade. Primeiro porque se você ficar aguardando que a demanda chegue, você vai ser pautado pelo cotidiano e principalmente por aqueles que têm acesso ao poder. Os mais excluídos não têm acesso ao poder. Os que moram mais distantes, até pela questão geográfica e pelo isolamento em que muitas regiões do nosso estado vivem, não têm acesso ao poder. Então, nós precisamos garantir o acesso a esses entes e essas organizações que não têm acesso ao poder.
Já foi superada a polêmica da viagem dos deputados pelo rio Juruá, de Cruzeiro a Manaus?
Acho que passou a fase dos debates dos não propósitos e nós queremos agora entrar na fase dos debates dos verdadeiros propósitos. Quem vive na Amazônia, quem conhece de mata sabe que quando alguém quer passear não se arvora a ficar confinado 10 dias. Quando você quer conhecer, quando você quer se encontrar com a realidade difícil, como é a da região do Vale do Juruá, você sabe que há um propósito de pautar um debate que é cada vez mais necessário.
Que debate é esse?
A mesa diretora e os deputados da Assembléia estão convencidos de que não adianta discutir nenhum programa de desenvolvimento sustentável para o Acre sem levar em consideração fortes investimentos nos seus recursos hídricos. Nós nos constituímos como povo, com identidade acreana, por contas desses caminhos que são os rios. E hoje nós temos fortes investimentos em infra-estrutura no estado que são fundamentais para quebrar o isolamento, como é o caso das BRs. Mas nós precisamos ter uma política para as nossas hidrovias. O Purus é um rio altamente navegável. O rio Juruá é quem abastece do palito de fósforo à escova de dente mais de um terço da população do nosso estado. Então, é preciso ter uma política para isso.
Como será feito esse debate?
Vamos ter uma audiência pública no final de fevereiro ou início de março que vai discutir os recursos hídricos do Acre. Será um debate acerca da necessidade da gente ter investimentos nessa área. Nós aprovamos empréstimos junto ao BNDES, ao BID ou ao Banco Mundial para investimentos em nossa infra-estrutura e nos programas de inclusão social. Mas nós precisamos pegar um naco desses recursos para investir na recuperação das nossas matas ciliares, além de criar linhas de créditos para aqueles que querem investir no transporte fluvial. A rota Cruzeiro-Manaus precisa ser uma rota cotidiana porque há passageiros e demanda para o transporte de mercadorias.