PSDB e PT: tudo a ver

O axioma acima pode conter até um certo exagero. Mas é uma licença poética aqui tomada em favor da pedagogia do raciocínio. Já é sobejamente manjada a idéia de que estes dois partidos compartilham um interesse político de valor estratégico: a busca da

Do ponto de vista histórico, já tiveram uma boa oportunidade para realizaram seus projetos partidários. Empalmaram o poder em aliança com outras forças, mas souberam preservar o hegemonismo. A proeminência partidária no exercício do poder impôs a ambos correspondente exposição pública. Com isto os brasileiros puderam conhecê-los e aos seus propósitos.  O governo chefiado por Lula ainda está em andamento neste segundo mandato e muita coisa poderá acontecer nos próximos três anos.


 


Mas no que diz respeito ao PT, tem-se, de concreto, que programa partidário original propondo um “governo dos trabalhadores” há muito não existe mais. Ele foi substituído por aquele apresentado à nação em 2002. Aliás, uma troca decisiva para tornar o PT uma alternativa de poder no Brasil. Ao contrário do que muitos podem achar, o PT não fez ali uma alteração meramente tática só para poder vencer a eleição de 2002. Na verdade a mudança foi no conteúdo estratégico, no seu próprio programa. Inclusive hoje ilustra o seu governo com o slogan “Brasil – um País de todos”, perfeitamente adequado aos compromissos assumidos pela candidatura de Lula.


 


Temos, portanto, que o objetivo último do PSDB é fazer o que de fato já fez nos seus oito anos de FHC; e o do PT é realizar este governo que aí está, com suas qualidades e defeitos. Os dois partidos são os únicos na história recente do Brasil que tiveram o privilégio de poder realizar seus objetivos finais, programáticos, estratégicos, ao chegarem à presidência da República. E mais: somente os dois chegaram a desfrutar de um outro precioso privilégio político: quem não está no governo, é pelo menos a principal força da oposição, e vice-versa. O revezamento entre ambos permite que os dois privilégios sejam repartidos. A mídia reforça a polarização ao subestimar o papel das outras forças geralmente tratadas como apêndices dos dois protagonistas.


 


E a união dos dois na capital do ES, Vitória? A idéia é do governador Paulo Hartung (PMDB), inteiramente aceita pelo prefeito João Coser (PT). O raciocínio do governador é o seguinte: se o poder municipal de Vitória é algo exclusivo do PT e do PSDB, por que não queimar as etapas que um revezamento imporia dividindo logo este poder? Por que perder tempo com a disputa de seis por meia dúzia? Os quatro vereadores do PSDB apóiam totalmente a atual administração, cujo líder na Câmara Municipal é o vereador Zezito Maio (DEM), e todos defendem abertamente a reeleição de Coser, que tem notória e manifesta preferência pelo tucano Paulo Ruy para ser seu novo vice.


 


É claro que muitos petistas e tucanos devem estar inconformados. Mas eles cuidam conter o inconformismo nos limites dos bastidores. Obedece quem tem juízo. Afinal, o projeto para a união do PT com o PSDB, em Vitória, segue sendo ministrado com doses de civilidade. Como uma coisa da política. Os seus mentores, Hartung e Coser, julgam contribuir com uma novidade no debate e por isto receberiam como descabido qualquer arroubo de militantes desavisados.


 


Os aliados, de ambos os lados, acompanham o processo de modos distintos. As forças com vocação para caudatárias dos combinados feitos à sua revelia vão aguardar os acertos feitos por cima para ver como procuram depois se encaixar no novo dictak. Acreditam que o que o é bom para o PT ou para o PSDB é necessariamente bom pra todo mundo. Já os partidos que possuem objetivos estratégicos e sabem que a política é um instrumento para alcançar tal fim vão procurar outro caminho.


 


Quem quer ser também protagonista vai buscar no povo de Vitória a legitimidade que os grandes se atribuem com exclusivismo. A cidade pode está ameaçada. Com mais um mandato para Coser, Vitória terá ficado um quarto de século sob o controle da dupla PT/PSDB (Vitor, Hartung, Luiz Paulo I e II e Coser I e II). Sendo Vitória a capital e centro mais dinâmico do Espírito Santo, é um retrocesso não se reproduzir aqui todo o colorido de mil matizes que constitui a rica política capixaba. É um retrato em preto e branco do que bem poderia ser classificado como o nascimento de uma espécie de neo-oligarquia do século XXI.


 


*Namy Chequer é jornalista.


 




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